quinta-feira, março 31, 2011

Sempre consegui ficar muito tempo sem falar. E, se eu estiver num lugar com as pessoas conversando, posso gostar muito de ficar quieto, ouvindo, como quem assiste à televisão, ou posso ter vontade de ir embora e ficar num canto, jogado, ou, então, andar a esmo pela cidade. Por causa disso acho que sou burro. Mas, sei lá...

quarta-feira, março 30, 2011

Pia cheia e dia frio. Alguns livros que quero ler. Depois de uma semana sem nadar, ontem, fui. O caminho do padre passar é que me organiza, mas não me oponho a alguma idéia que venha me tirar dele. O caminho do padre passar é o fluxo. Simone, quando lhe contei a respeito das borboletas monarca, me contou de uns peixinhos que vivem a vida inteira restritos à determinada corrente submarina, em que suas mães os colocam. E passeiam pela circunferência da terra sempre no fluxo dela. Fora do fluxo é a escuridão e não há vida para aqueles peixinhos, que crescem, ficam velhos e morrem na corrente. Quando não são engolidos por algum predador que os engole antes. Meu caminho é o do padre passar, não sou exigente com mais perfeição que isso. Sofro de culpa, porque abandonar o caminho do padre para a perfeição é sair do fluxo. Por exemplo: ir ao cinema faz parte do fluxo? Depende. Encarar a pia de louça faz parte? Faz. Fui.

terça-feira, março 29, 2011

O show de Marcos Sacramento, ontem, cantando o repertório de Assis Valente foi de aplaudir de pé. Eu, que sou um expectador silencioso e apenas aplaudo de pé, me senti engraçado quando soltei uns urros no final. As mocinhas, tipo, zona sul e as senhorinhas, que imaginei do centro da cidade, estavam incontidas nas cadeiras do Teatro Carlos Gomes. Tinha um mulato, na minha frente, com um olhar de entendido em samba, meio além, abstraído, que disfarçava o batucar do coração mascando um interminável chiclete. Tinha uma moça a meu lado empinada na cadeira, sem encostar-se no espaldar, e fazia sinuosidades com a espinha como uma serpente encantada por flauta. Tinha uma senhorinha ao lado do rapaz do chiclete que cantava o refrão e batia palmas. Sentindo o clima ao nosso entorno, Pedro disse: - Sacramento tem de fazer show onde se possa dançar- e, ai, silencioso leit@r, urrava de felicidade. Em casa, demorei a dormir. Acho que incomodado pela remotíssima lembrança da última vez que estive no Carlos Gomes, de cadeira de rodas e saído do hospital. Tenho uma foto. Por que neguinho tirou foto minha desse jeito? Que coisa!

segunda-feira, março 28, 2011

De manhã, sem café. Repetimos fazer angu, no sábado. Preciso organizar a segunda-feira e a semana. Antes, quando eu falava pra Norma que eu não organizava nada, que eu gostava de ir no fluxo já organizado dos dias, ela me respondia: - Mas se você planeja, fica muito melhor, Luís – e continuei sem organizar nada. Mas, depois, com a disciplina dos remédios para o HIV, fui obrigatoriamente, tendo que ganhar alguma organização. É estranho, porque minha impressão é a de que só criança organiza coisas. Adulto é livre. Que coisa!

domingo, março 27, 2011

Alguns amigos ficam curiosos em saber como nascem as músicas. Então, o mais comum, para início de conversa, é perguntar o que vem primeiro, se a letra ou a música. Sempre respondo da mesma maneira e cuidando para não inventar muito, porque isso puxei de mamãe, que não tinha nenhum compromisso com a realidade, quer dizer, mamãe não ligava com suas palavras serem correspondidas com as coisas. Ela curtia contar casos e quando a memória falhava, inventava. Mas minha resposta é sempre igual, que não tem um padrão, cada música sai de um jeito, embora o jeito de sair mais molinho seja o de quando faço parcerias, que, aí, minha auto-crítica fica só na minha parte. Ontem, fiz um videozinho de minha música "Bicho Doméstico", que Ryta de Cássia gravou em seu disco. Ryta sempre gravava música minha, desde que ela era Rita Peixoto. Então, "Bicho Doméstico" fui fazendo passo a passo, letra e músicas juntas. Eu estava com raiva, porque tinha levado um coió, e tava puto! Veja, silencioso leit@r:

Bicho doméstico

sábado, março 26, 2011

Então, abandonei o café.
Hoje será outro dia bonito de sol.
Ontem à noite, o vizinho de trás esteve aqui em casa para me mostrar uma de suas composições, um samba. Aí, falou da máfia do pessoal do samba, que segundo ele, não deixa o samba ir pra frente.
E me lembrei que ouvi muito emocionado uma escola de samba paulista que havia inserido no seu samba-enredo mais um instrumento melódico além do cavaquinho. Colocaram uma sanfona e o efeito foi, para mim, estonteante.
Aí, comentei a maravilha com Valfredo, que disse:
- Mas aqui no Rio, não pooooooooode!

sexta-feira, março 25, 2011

Surpreendentemente, não tinha fila para entregar os exames, hoje.
Depois, encarei a fila de pesar e fiquei sem saber o que dizer pra uma senhora com vestidinho de chita que estava na minha frente. Ela olhou pra trás e me falou alguma coisa, era uma justificativa, uma coisa assim, não entendi direito, eu tava na fila e fiz que sim com a cabeça. Ela, então, resmungou outra vez, e eu, outra vez, fiz o mesmo sinal com a cabeça, sem entender. Fila. Eu disse, sim.
Aí, reparei no corpinho dessa senhora e Pedro diria que era uma senhorinha e fiquei vendo ela, mas, depois, abstraí e perdi ela de minha vista, nem vi quando ela foi atendida.
E chegou outra senhora com a filha pegando-lhe pelo braço e o neto atrás, num cortejo, levando um travesseiro. Ela se sentou ao meu lado e o travesseiro foi colocado no colo dela.
O neto tinha uma expressão de procissão, seriíssimo e meio entediado.
A filha via tudo.
Me deu vontade de chorar...

quinta-feira, março 24, 2011

Ontem, foi meu níver e fizemos um jantar delicioso perto do trabalho do Pedro em um restaurante japonês.
Estávamos eu, Pedro, Ruth, Simone e Sacramento. Depois, mostrarei as fotos que tiramos. Ganhei presentes...
E tinha um aquário ao lado de nossa mesa com uma cará e um cascudo. E esses peixes foram incríveis, rolou uma comunicação. Pode perguntar pro Pedro ou pra Ruth, Simone e Sacra!
Fui!

obs- agradeço aos amigos que me felicitaram on line.

quarta-feira, março 23, 2011

Dia frio.
Depois que o mercadinho fechou, acho que ficou mais silencioso por aqui.
Às vezes, um vizinho varrendo a área de sua casa, um barulho de criança, ônibus na rua, um rádio chega até aqui.
Vou lavar louça.

terça-feira, março 22, 2011

“Quando ía ao Cinema Íris sempre assistia as strrippers que se apresentavam nos intervalos dos filmes pornôs. Foi o que me motivou a fazer a música da Savannah, uma stripper e atriz pornô americana, e que eu havia lido no jornal ter-se matado em meados de 1994, aos 23 anos, após um acidente de automóvel que lhe deformara o rosto bonito e jovem. Savannah era enturmada com os caras do rock and roll e ganhava muito dinheiro fazendo striap-tease.
Pensava em citar, na música, uma série de peças do vestuário feminino, sugerindo dessa forma um striap-tease. Como achava que não conhecia suficientemente o vestuário feminino, pedi à Suely que me ajudasse, também pedi a ela uma lista de verbos que indicassem os movimentos de Savannah, enquanto tirava as peças de roupa. Tive um ataque incontrolável de riso, quando Suely me mostrou os verbos: gira, abre, fecha, cresce, dança, diminui. Curiosamente, quando cantei pelas primeiras vezes a música, tal verso provocava um pequeno riso de ironia em quem me ouvia; depois, nas outras vezes em que cantei, essa ironia foi aos poucos se perdendo no contexto dramático da música que ficou assim:

Savannah

Savannah, Cinderela nua, superstar
Savannah foi pra cidade fazer filmes e dançar
Savannah na cama
E outras posições
Savannah, seu striap-tease
Savannah, bela, fria, loura, escultural
Savannah além do bem, do mal
Savannah dinheiro, sexo e rock and roll
Savannah luva justa, preta ou branca, ou de cetim
Savannah dança sobre os saltos
Bico fino de cristal
Savannah capa, anágua, sutiã
Baby doll
Savannah gira, abre, fecha, cresce, dança, diminui
Savannah deusa coquete
Não sabe ficar sem namorado
Savannah sobe a colina
Sozinha sem ninguém do lado
Savannah pobre menina
Imagina tudo acabado
Savannah, Savannah"

(trecho do livro Cinema Orly – Luís Capucho)

Savannah

segunda-feira, março 21, 2011

Manhã sem sol e sem pote de café.
Os sininhos da vizinha de baixo tocam no vento.
Depois, começou a vir uma música do terceiro andar.
O som chega aqui abafado de sair das janelas e atravessar as paredes de minha casa ainda fechada.
Ontem, estivemos vendo vídeos de Tulipa Ruiz no youtube. Dela, partimos para Péricles Cavalcanti e, depois, Leo Cavalcanti.
Terminamos nos vídeos do BBB 11.
Yahhhh!

domingo, março 20, 2011

Comecei a colocar em prática meu plano de não tomar mais café.
Fiz um chá de capim cidreira e vou comer uma maçã.
Acendi um incenso.
Hoje, é isso.

sábado, março 19, 2011

Estou tomando meu delicioso pote de café e preciso determinação para parar, não quero mais tomar café! Vou substituir por maçã...rs.

sexta-feira, março 18, 2011

Minha referência para escrever o meu último livro, cujo título ficou “Mamãe Me Adora”, foi a doçura do jeito de mamãe e o, para mim, misterioso fato de sua morte. Então, o motivo do “Mamãe Me Adora” tem uma realidade sobre o que nunca tive o menor domínio, porque não se projetaram de mim, mas me advieram, como sementes que se desprendessem da árvore e voassem, caindo para o chão que sou eu.
E daí, brotaram.
Acho que meus livros são sempre assim, se desenvolveram sobre coisas de que não tenho controle, não tenho conhecimento e nem sou eu quem disparo. Eu vinha pensando nisso e pensando que subjacente aos meus temas dos livros vem sempre o tema da homossexualidade.
Já faz tempo trocaram o nome opção sexual para orientação sexual, e penso que isso seja mais de acordo. Por que, se dizem, as bichas burras nascem mortas, nenhum viado teria como escolha ser viado, já que essa é uma condição em que socialmente tem-se levado muito caô. Então, os temas dos livros vêm pra mim e são coisas, tipo, o sol nasce e recebo, simplesmente.
Estive pensando nisso, no ônibus, a caminho da Sala Baden Powell, para o show de Leila Maria(quando entrei no teatro é que descobri que não era show de Leila Maria, mas de uma cantora chamada Clarice, que cantava músicas de Aldir Blanc/ Cristovão Bastos).
Aí, me lembrei da Alexandra que uma vez me perguntou se eu achava que meus livros fariam parte do que se tem chamado ultimamente por literatura gay. E pensei se, como acontece na música, com uma técnica diferente para executar cada gênero musical, se na literatura existiria uma forma diferente para execução de literatura regional, literatura gay, literatura beat, literatura urbana, ficção, biografia e tudo. Ou se o diferença entre os escaninhos literários seria só de conteúdo e não uma diferença técnica, porque cada autor teria sua técnica específica, independente de qual classificação lhe impusessem. Então, Hans Castorp, d’A Montanha Mágica convenceria, absolutamente, independente da técnica empregada para escrever o livro, como personagem gay, bastando que se trocasse a direção de seu amor pela russa Claudia Chauchat, para a direção do italiano Setembrini, e pronto.
E não sei se existe um estudo dizendo como funciona a literatura chamada gay, se, por exemplo, o que chamam de literatura gay teria curvas de raciocínio mais abertas que a literatura heterossexual, ou vice-versa. Ou se os períodos da chamada literatura gay seriam mais curtos, frouxos, ou sei lá, se definissem por uma qualidade típica de, apenas, literatura gay.
Também durante a travessia da ponte meio engarrafada, fiquei imaginando o que Sacramento outro dia me disse: que o Mamãe Me Adora, como todas as outras obras que produzo de forma geral, são, assim, naif. E achei muito justa essa observação, porque se mamãe foi minha referência, era bem legal que o livro lembrasse alguma ingenuidade. E fiquei me lembrando de quando eu comecei a ler o livro em voz alta para mamãe e acabei desistindo, porque o livro, mesmo naif, tem uma complexidade ou elaboração, aparentemente simples, mas que necessita alguma iniciação.
Por isso, ao ler para mamãe, que não era uma leitora de livros, comecei a sentir que aquela linguagem não tava atravessando pra ela e parei. E ela não me cobrou ler outra vez, continuar. E não continuei.
Eu estava pensando nos meus livros e, aí,também lembrei de Rubia, que me disse sobre o movimento artístico contemporâneo europeu denominado pós-pornô e que meus livros poderiam se inserir nessa literatura, que não tem como eixo a heterossexualidade papai e mamãe, mas que muda esse eixo de sexualidade, como dizem, os terremotos mudam o eixo dominante do nosso planeta.
E gostei muito do nome: Pós-pornô.
Fui.

quinta-feira, março 17, 2011

Dia chocho, sem sol.
Pedro foi pra Sampa, a trabalho. Acendi o incenso. Não fiz café.
Silêncio na comunidade.
Sem o mercadinho, a rua perdeu um pouco de vida.
Comprei cordas pro violão e não troquei.
Tenho coisas pra fazer.
Vou me encontrar com Ruth, hoje, no show da Leila Maria, logo mais à noite, em Copacabana, na Sala Baden Powell.
Fui.

terça-feira, março 15, 2011

Ontem, enquanto Dorinha arrumou a casa, fiquei lendo Oração aos Moços, de Rui Barbosa.
É um livro delicioso, bom leit@r.
E antecipa isso que hoje chamamos presença virtual.
A turma para que o discurso fora feito, estava a comemorar a formatura em São Paulo e Rui Barbosa, aqui do Rio, mandou o texto, sem que pudesse ser ele próprio o orador. Então, ao comentar sobre não estar fisicamente presente, fala sobre não fazer muita diferença, porque, nas palavras dele, um lugar e um tempo, em especial, contém todos os lugares e todos os tempos encorpado no seu estreito limite.
Daí, que estava presente para quem ouvia sua carta.
Veja esse trecho em que, ao final, quase é uma profecia:

“Para o coração, pois, não há passado nem futuro, nem ausência. Ausência, pretérito e porvir, tudo lhe é atualidade, tudo presença. Mas presença animada e vivente, palpitante e criadora, neste regaço interior, onde os mortos renascem, prenascem os vindouros, e os distanciados se ajuntam, ao influxo de um talismã, pelo qual, nesse mágico microcosmo de maravilhas, encerrado na breve arca de um peito humano, cabe, em evocações de cada instante, a humanidade toda e a mesma eternidade.
A maior de quantas distâncias logre a imaginação conceber, é a da morte; e nem esta separa entre si os que a terrível apartadora de homens arrebatou aos braços um dos outros. Quantas vezes não entrevemos, nesse fundo obscuro e remotíssimo, uma imagem cara? Quantas vezes não a vemos assomar nos longes da saudade, sorridente, ou melancólica, alvoroçada, ou inquieta, severa, ou carinhosa, trazendo-nos o bálsamo, ou o conselho, a promessa, ou o desengano, a recompensa, ou o castigo, o aviso da fatalidade, ou os presságios de bom agoiro? Quantas nos não vem conversar, afável e tranquila, ou pressurosa e sobressaltada, com o afago nas mãos, a doçura na boca, a meiguice no semblante, o pensamento na fronte, límpida, ou carregada, e lhe saímos do contato, ora seguros e robustecidos, ora transidos de cuidado e pesadume, ora cheios de novas inspirações, e clamando, para a vida, novos rumos? Quantas outras, não somos nós os que vamos chamar esses leais companheiros de além-mundo, e com eles renovar a prática interrompida, ou instar com eles por um alvitre, em vão buscado, uma palavra, um movimento de rosto, um gesto, uma réstia de luz, um traço do que por lá se sabe, e aqui se ignora?
Se não há, pois, abismo entre duas épocas, nem mesmo a voragem final desta à outra vida, que não transponha a mútua atração de duas almas, não pode haver, na mesquinha superfície do globo terrestre, espaços que não vença, com os instantâneos da presteza das vibrações luminosas, esse fluido incomparável, por onde se realiza, na esfera das comunicações morais, a maravilha da fotografia à distância no mundo positivo da indústria moderna.
Tão pouco medeia do Rio a S. Paulo! Por que não conseguiremos enxergar de um a outro cabo, em linha tão curta? Tentemos. Vejamos. Estendamos as mãos entre os dois pontos que a limitam. Deste àquele já se estabeleceu a corrente. Rápida como o pensamento, corre a emanação magnética desta extremidade à oposta. Já num aperto se confundiram as mãos, que se procuravam. Já, num amplexo de todos, nos abraçamos uns aos outros. Em S. Paulo estamos. Conversemos amigos, de presença a presença.”

segunda-feira, março 14, 2011

Dorinha veio.
O mercadinho em frente à minha casa fechou, faliu, dizem.
Estivemos na casa de Dona Glorinha, ontem.
Foi uma visita muito agradável, mas não gostei da moça que é acompanhante dela. Quando fui me despedir dessa moça, ela disse:
- Como você é quieto, Luís! Tem os olhos tão tristes...levanta o astral, menino! – e eu estava normal, bem.

domingo, março 13, 2011

Quando abri meus olhos, quis sair da cama.
Recuperei-me do esgotamento de carnaval.
Coloquei um disco lindo de cantoras cantando Hilda Hilst com Zeca Baleiro na manhã quase fria, chuvosa, de domingo.
Tenho energia.
Mas não é energia pra sair gastando.
É pra usufruí-la parado ouvindo as cantoras de músicas tristes sem ficar triste.
Vou transcrever aqui para o meu silencioso leit@r a letra cantada por Olivia Byington:


Canção VIII

Se Clódia desprezou Catulo
E teve Rufus, Quintius, Gelius
Inacius e Ravidus

Tu podes muito bem Dionísio
Ter mais cinco mulheres
E desprezar Ariana
Que é centelha e âncora

E refrescar tuas noites
Com teus amores breves,
Ariana e Catulo, luxuriantes

Pretendem eternidade, e a coisa breve
A alma dos poetas não inflama,
Nem é justo, Dionísio, pedires ao poeta

Que seja sempre terra o que é celeste
E que terrestre não seja o que é só terra.

sábado, março 12, 2011

Quando acordei o pessoal de baixo tava vendendo um passarinho.
Fiz meu café, ouvindo a negociação.
A gaiola de passarinho é envolvida de grande prazer, por que o que se fala em torno é sempre com uma voz muito gostosa.
Por que não tem sol hoje, não preciso abrir a casa.
Mas devo abrir a janela da sala pra arejar um pouco.
É isso.

sexta-feira, março 11, 2011

Tristeza de dia sem sol depois do carnaval.
O vizinho de baixo ouve música triste e animada que vem do Nordeste.
Minha casa ta uma bagunça, empoeirada no limite.
O que eu mesmo consigo deixar sempre com alguma ordem é a cozinha, onde faço minha comida. Do resto da casa, a desordem da vida vai se apossando até quando Dorinha poderá vir e dar seu jeito.
Vou colocar uma foto que Maria tirou de nosso carnaval no camarim do Marcos Sacramento, que cantou no Gala Gay. Estamos Pedro, eu, Rogério S., Sacramento e Ruth.
O Sacramento, a cada dia que passa vai ficando Marcos Sacramento, que coisa.
Eu fiquei um pouco frustrado com a muita caretice do Gala Gay.
E não fui só eu quem achei. Acho que todo mundo achou.
Tinha uma bicha que tinha ido no clima total de um baile gay, tava com um penacho na cabeça, sem camisa, um salto alto, e uma sainha que tremia junto com a bunda, silencioso leit@r, mas ela ficou deslocada no baile, não tinha lugar e acho que foi embora.
Eu tava travado, mas sou travado mesmo.
Pedro disse:
- Destrava, Luís! – mas eu não consegui, então, tudo bem.
Um horror!
Fui.

quinta-feira, março 10, 2011

Ressaca de carnaval.
Fui nadar.
A professora disse, diante do minha lentidão:
- Bora, Luís! O carnaval só acaba domingo!
- Pra mim já acabou...
No meio do samba, a gente não escuta ninguém falar, mas as pessoas continuam se comunicando, não sei, neguinho fala para caramba!
Aí, quando cheguei em casa, depois do baile, na madrugada tava o maior silêncio, só os galos cantando, mas eu comecei a ouvir pessoas falando.
Como as conversas submersas no barulho altíssimo da banda no baile, a conversa estava numa camada de som muito, muito abaixo dos sons que a gente ouve vindo de perto, normalmente.
Ao mesmo tempo, não estava longe. Estava sob, mas não longe.
Aí, eu aprumei meus ouvidos e não conseguindo distinguir palavra alguma, achei que fosse viagem minha. Depois pensei que pudesse ser o som dos encanamentos de água da casa, não sei.
Pensei que minha casa estivesse assombrada.
Também pensei que eram sons remiscentes do barulho do baile, que ecoavam na minha cabeça.
Podia ser alguém que estivesse de rádio ligado e dormiu.
Era gente conversando...

segunda-feira, março 07, 2011

A gente foi comer um sururu na Claudia e conhecemos seus amigos que trocam livros. Nos chamaram pra entrar no grupo de trocar livros.
Pedro disse:
- Não consigo ler.
Eu disse:
- Melhor marcarmos uma praia- e, aí, acho que vamos combinar uma praia.
Na volta, pegamos o metrô no vagão menos cheio.
Era um dia e uma hora em que havia no trem apenas foliões indo pro centro da cidade. Estavam todos muito tranquilos, alguns bodeados, dormindo, e outros só vendo a hora do trem parar e poderem ver o carnaval lá fora.
Mas havia um casal que estava sambando e cantando em torno àquele mastro no meio do trem. Estavam sambando pra valer e cada parada que o trem dava nas estações, era como se terminasse uma faixa. E começavam a cantar outro samba e a sambar noutro rítmo.
Eu, meio de bode, fiquei muito animado por sacar o modo previsível como funcionavam.
Mas,então, eles quiseram, de repente, que o vagão inteiro cantasse com eles.
Gritavam batendo palma e sambando:
- Cantem aí, gente! Todo mundo! Todo mundoooooooooooo! – mas o pessoal do vagão cagou.
Eles sambaram até o fim.
Quando o trem parou descansaram.
Quando partiu, começaram outra vez.
Que coisa!

domingo, março 06, 2011

Paramos na Praça Tiradentes para assistir a uma bateria de moças e senhoras que tocavam tamborim.
Tinha o espírito, assim, de um bloco do sujo e paramos pra ver o som, que era muito, muito bom. Na frente delas, que estavam paradas em frente ao Carlos Gomes, tinha um homem que regia, como se regesse a um coro de anjos. Uma das senhoras que me chamou a atenção estava vestida de homem, mas ela parecia mais uma tartaruga macho e, Pedro disse:
- Olha a dancinha que ela faz, Luís!
E nisso, uma mulher enorme, com uma roupa cafona de madrinha de casamento, que estava parada assistindo, começou a dançar junto da tartaruga.
Pedro falou:
- Será que é um homem ou mulher?
E ficamos ali um tempo, Pedro comprou um pastel e fomos seguindo pra Rua do Lavradio, que tava ruim de passar.
No meio da multidão encontramos a Manuela com a irmã e uns amigos. Conversamos um pouco com elas. Depois, demos uma volta pela multidão e paramos embaixo dos Arcos, num vão onde os catadores de lata pesavam e vendiam as latas que recolhiam no carnaval. Achei que estivassem vendendo maconha, porque era um clima muito sério, o que tinham contando dinheiro, mas depois, foi se formando a fila de catadores pra pesar os sacos de lata.
Eu e Pedro ficamos absortos ao lado dos catadores e no meio da multidão que cruzava sob os arcos e veio um homem, meio que um preto velho e nos interrompeu a distração. Me deu a mão em silêncio, depois cumprimentou Pedro e foi embora, de fininho, como quando apareceu. Eu adorei ele...
Ali, perto das Arcos, antigamente, tenho a impressão de que curtíamos um lance mais marginal. E, agora, que ta mais moderno, a gente curte também...rs.
Aí, Sacramento e Valfredo chegaram e fomos andando até ao Sambódromo para ver os carros elegóricos na concentração.
E viemos embora.

sábado, março 05, 2011

Chuviscando em meu bairro.
O pessoal de baixo está às voltas com colocar a antena da tevê numa posição que melhore a imagem.
Aí, fica gritando:
- Melhoroooooooooooooooooou?
- Nãããããããããããããããããã! Faz logo e sai da chuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuva!
Depois, fica silêncio.
Só o barulho do chuvisco, que vai apertando.
Ontem, estivemos na Cinelândia pra ver o carnaval, mas viemos embora cedo por conta da chuva.
Aí, passamos frio no ônibus.
Pedro achou que o motorista tava de sacanagem com os passageiros e não diminuía o ar. Mas ninguém reclamou. Todo mundo tava encolhido e quieto.
Umas meninas fantasiadas na rua, que avistaram a gente encolhidos, tristes de frio dentro do ônibus, deram adeus. A gente retribuiu e voltou a se encolher.
Que coisa!



sexta-feira, março 04, 2011

Ouvindo as músicas no ônibus, às vezes, consigo distinguir uma palavra, às vezes uma frase, mas no geral, ouço uma maçaroca indistinguível de sons da língua inglesa.
Não me importo.
Antigamente, quando adolescente, eu gostava mais de ouvir as músicas americanas, porque não entendendo as letras eu poderia dar o sentido que eu quisesse à melodia.
E tinha uma música do Chico Buarque que tocava sempre, mas eu mudava de estação. Era assim:
“ Mirian ensina o exemplo daquelas mulheres de Atenas...” e, depois, já ouvindo outra rádio, eu ficava pensando quem poderia ser aquela Mirian.
E tinha uma do Cartola, que tocava na madrugada que eu achava linda.
Falava de umas árvores que quando batia o vento, elas ficavam acenando. É uma imagem muito bonita essa.
Fui.

quinta-feira, março 03, 2011

Porque deu uma refrescada no tempo de Nikity, saí da sala e arrumei a cama de mamãe pra que eu passasse a noite de sono. Quando me deitei, não eram ainda 23 horas e, por isso, retomei a leitura do Jogo das Contas de Vidro, que tinha deixado de lado para que conseguisse terminar a tempo os trabalhos escolares.
Li muito pouco e logo a vontade de dormir veio.
Costumo, ao ler, embarcar definitivamente na leitura, sem paranóia e sem trazê-la demais pra mim, quer dizer, fico mais pra lá do que pra cá, mas, ontem depois de fechar o livro e apagar a luz, comecei a devanear no sentido que me tinha, como se o livro fosse, assim, um oráculo, bom leit@r.
Aí, refiz na cabeça o acabado de ler, o diálogo travado no reencontro de José Servo e Plínio, e tentei achar algum sentido disso, com o que tenho vivido agora. E nada.
Aí, relacionei com a cama de mamãe, com seu quarto, com mamãe, se poderia ter tido aquele diálogo com ela. Nada também.
Plinio e Servo se conheceram adolescentes, viveram na mesma escola, e, aí, se separaram. Nesse encontro, já na idade madura, Plínio conta pra o Servo, qual impressão tinha do amigo na época da escola.
E fala de suas aulas e, num momento, diz que o prazer das aulas de uma forma geral pode se definir pela presença de um único aluno, que por seu estímulo, conduz a direção dos assuntos do professor e a reação dos colegas presentes em sala.
Quer dizer, silencioso leit@r, ele não fala isso, desse jeito, mas foi nisso que fiquei pensando e me enchi de saudade de Servo e Plínio, como a saudade que eles sentiram ao lembrarem-se de suas aulas adolescentes.
Fui.

quarta-feira, março 02, 2011

Cabeto Rocker, meu amigo de adolescência, amigo de rua, me ligou semana passada, de Campinas, onde mora, muito contente, me parabenizando por que o Ney Matogrosso falou de mim numa entrevista à revista Rolling Stones.
Tínhamos uma turma que frequentava o Buraco, na Moreira César.
Buraco era como chamávamos a escadaria que levava ao Clube Central. A gente acampava ali toda noite com garrafas de bebida, cigarros e violão.
Depois, cada qual tomou sua direção na vida e Cabeto se tornou roqueiro em São Paulo, tinha uma banda.
Naquela época era fã do AC/DC.
Ele disse:
- Parabéns, Lu. Ele falou de você super bem, numa relação com Secos & Molhados. Vou escanear a revista e te mando.
Veja, bom leit@r:

terça-feira, março 01, 2011

Estive no centro da cidade para comprar quiabo, porque lá vende quiabo fresquinho, muito, mas muito mais barato que por aqui.
E, quando eu estava passando pela calçada, veio vindo uma loura, de fisionomia tensa e carregando nas orelhas um brinco muito feioso, o que me fez querer reparar nos brincos das outras mulheres que passavam por mim e saber se escolhiam bem os brincos, de meu ponto de vista, claro.
Aí, silencioso leit@r, era mesmo só a loura que tinha escolhido um brinco feioso...