Sempre que mexo n’alguma coisa na casa, no meu ciscar delas
que nunca é uma, se eu fosse um frango, se eu fosse uma galinha no quintal, não
haveria de nos meus movimentos ter nada que abalasse o funcionamento do quintal.
Ele continuaria recebendo o sol, os dias e as noites, e na manhã seguinte, eu
estaria de novo ciscando, no passar comum e rotineiro dele. E pronto.
Só, que em casa, à medida que vou desencavando as coisas na
estante, nas caixinhas e gavetas, outras vão aparecendo e vão aos montes se
acumulando em torno à minha busca, de modo que eu passaria o dia todo em função
de ordenar tudo outra vez, as coisas que reapareceram num novo conjunto e, aí,
ficaria para sempre rearranjando tudo, porque seus novos arranjos são sempre
sugestivos de outros arranjos e outros e outros.
Uma galinha sem ciscar não é uma galinha e o quintal é o
mesmo, com ou sem ela. Por exemplo, Dona Linda está sempre, fica no entorno das
coisas, se mexo, porque pode ser que apareçam baratinhas.
É isso.