domingo, setembro 30, 2018


Foi meio um sonho, meio um pesadelo, a manifestação contra o Brucutu, ontem, na Cinelândia. De um modo ou de outro, a textura da tarde, o carnaval das pessoas juntas na praça, as palavras de ordem, a performance da menina nua com ele no corpo, tirando ele do corpo, os amigos que encontramos aleatórios, sem sentido, tudo muito lindo ali, mas depois, olhando ali mesmo, sonho e pesadelo, todos assombrados pela ideia do Brucutu, uma coisa pesada e violenta.
Depois, durante o caminho entre a




Cinelândia e a Praça XV, na enxurrada de gente que era desembocada na 1º de março, eu vi que o movimento era forte como um rio grande. Aí, eu perguntei ao Edil como é que a gente poderia usar aquela força, como se usássemos a força de um rio para uma hidrelétrica. Ele disse que não sabia se era manipulável. O lute como uma garota, cheio de garotos dentro, é um mistério grande.
Na volta pra casa, ainda viemos na onda. O coro das meninas na Estação das Barcas, o coro delas dentro das Barcas e o seu coro atravessando as ruas de Niterói.
Pedro fotografou a luta dela.
Pegamos o 30.
#lulalivre!

quinta-feira, setembro 27, 2018


A Vizinha de Baixo gritou para os passarinhos engaiolados que calassem a boca, e acordei. Os dias começaram a ser de não colocar a camisa para ficar em casa. Depois da montanha de Bactrim, meu rim piorou, aí, um dos médicos que me acompanhava, disse não poder fazer nenhuma intervenção no meu corpo, com o rim assim. E me deu alta. Me encaminhou para a nutricionista. Ela inseriu leite e aveia, na minha dieta.
Eu curti. Durante o inverno, teve um dia em que acordei com uma vontade louca de beber leite morno. E tomei. Foi só isso. Aí, quando ela disse que devo tomar leite, me lembrei. Também aveia. Falou de outras minúcias, mas não dei atenção. Só essa modificação já é bastante. Me ensinou a fazer um sal de ervas. Vou fazer.

quarta-feira, setembro 26, 2018

Um Cinema Orly para Jacarepagua:


Eu iria fechar a janela, pensei em fazê-lo, mas tive receio de que abafasse o quarto e não fiz. Iria fechar porque ele poderia se formar outra vez e voltar e me pegar dormindo. Quando o vento entra em golpes pelo quarto, à noite, acordo de nariz entupido, cheio de catarro e tudo. Tinha de fechar a janela.

terça-feira, setembro 25, 2018


Estava pensando, ontem, à noite, sobre o vento que entrou por minha janela. Veio uma corredeira de vento mais frio e parou. Então, eu me lembrei de um ano novo, talvez, 2016, na Praia de Icaraí, em que uns quinze minutos antes da virada, veio um vento, agradável no verão, que pela intensidade dele, dava pra ver que seu corpo tinha a envergadura de toda a praia. Era um corpo enorme, um bloco enorme de vento que pegava toda a extensão da praia, talvez, a cidade inteira.
Mas o vento que entrou, ontem, correndo por minha janela, não parecia estar no vale inteiro. Não tinha na minha impressão, um corpo grande assim. Eu estava muito atento a seu som, e percebia seu tamanho por ele. Parecia ser um vento que tivesse nascido no outro quarteirão, dentro do vale mesmo onde moro, um vento pequeno, que pudesse caber dentro de outro vento. E que parecia morrer logo aqui, dentro do apezinho. Fiquei muito atento ao corpo dele e meio com medo, quando ele tilintou uma garrafa, sem que parecesse ser ele. Depois, ainda sem parecer que fosse ele, uma lata soou, antes que ele tivesse morrido totalmente.
Isso foi, ontem.

E tinha pensado em fechar a janela...


Então, sobre as coisas que não se desdobram de minha janela, há dentre as muitas casas que vejo na rua de trás, fico parado em duas delas. E paro também numa árvore, que dá a impressão de ser uma árvore gigante, com um caule fortíssimo, que vá se abrir em muitos galhos de folhagem espessa, mas que ainda é um filhote.

segunda-feira, setembro 24, 2018

O sol já tá diferente, não é mais o sol que a gente procura na rua, de que a gente sente falta. Eu sinto que isso aconteceu há uns três dias, mais ou menos, em acordo com a entrada do que se convencionou chamar de Primavera. Da minha janela, entra os barulhos de longe e de perto. Os passarinhos engaiolados todos os dias, os cachorros ao longe, todo dia, os galos, os aviões, os ônibus, todo dia. Aqui no vale não há barulho que eu estranhe, daí, a verdade, é que há um silêncio, dentro disso, desse todo dia constante.
Não conheço os passarinhos engaiolados, não conheço os cachorros e os galos mais de longe, que estão vivos como eu. Também não conheço as pessoas no ônibus e as pessoas no avião, muito longe e rápido, no céu. Dentro do mundo onde estou, mais desconheço do que sei. E me sinto bem com isso. Consigo me mover aí, porque sou pequeno.
Se eu fosse maior e conhecesse mais as coisas, teria mais espaço para me locomover. Eu me locomoveria melhor nos espaços em que quisesse, por exemplo, voar. Como o sol. Também um vivo, como eu. E que ficou diferente, mas voltará a ser o sol que procuramos, no próximo inverno. É preciso viver cada etapa do ciclo, em seu ritmo, respirar no ritmo, bater o sangue no ritmo.
Da minha janela tem as coisas que eu ouço sem ver e tem as coisas que eu vejo. São coisas que não se desdobram em outras e são sempre as mesmas. Os aviões e as maritacas vêm todos os dias voar no e sobre o vale, e esses acontecimentos, não se desdobram em outros.
Essa foto, Pedro, tirou.
E é dos meninos Álvaro e João fazendo cena no 8º Festu:

sábado, setembro 22, 2018

A gente vai assistir aos meninos João e Álvaro apresentar a cena O Desvio Autoritário de Uma Idéia: Daqui pra Lá não Existe Meu Mundo, no 8º Festu- Festival de Teatro Universitário. Eles usaram A Música do Sábado (kali C/luís capucho) para completar o título e João me disse que ela também estará na cena, quer dizer, não podemos perder isso, será uma alegria muito grande.

sexta-feira, setembro 21, 2018

É certo que a vida vem em ondas, e é uma coisa louca que eu venha aqui por mais de uma década, escrever. Então, o Blog Azul é uma piscina de ondas. Se a gente for rolando o histórico dele, é possível identificar cada tamanho de onda, cada cume dela e cada vez que ela vai lá embaixo, numa volta, e recomeça a subir. É uma grande piscina de ondas, não de marolas.
E estou vendo-imaginando que cada onda tem a sua atmosfera, algo que brota dos textos-dela e que tem um jeito típico, que não seria possível em outra onda e tudo. Porque ela é e tem um caminho, que não volta. Apenas tem continuidade. Então, por exemplo, estou pensando nas Cartas para o Edil  do fim dos ano 80 e início dos 90. E que foram surpreendentemente publicadas na revista Amarello, nº #29, acho que mês retrasado. Elas tem um clima que não repito aqui, que não repetirei mais em lugar nenhum. Porque é uma outra piscina, como são outros, os textos do Diário da Piscina. Eu sei que deve haver um estilo, uma marca que seja minha e que isso serve de canal entre todas as minhas piscinas e que faz conexão também com todos meus outros tempos e lugares. Ao mesmo tempo, também com textos de outras pessoas e de outros estilos.
Poderia dizer que são ondas do mar. Não são.
Veja:


quinta-feira, setembro 20, 2018


Então, ninguém entende de política. Eu fico vendo as pessoas falando na minha bolha e todos têm um discurso voltado para os candidatos com plano de governo que considere as minorias e, ao mesmo tempo, com uma política econômica inclusiva, tipo, todo mundo com a possibilidade de uma vida razoável.
Eu mesmo, que não entendo de política, me posiciono e votarei no Guilherme Boulos, que é um candidato, de meu ponto de vista, mais radical, porque aparece pra mim como um cara mais direto, sem rolo e é isso. O outro candidato reverso à minha bolha e que diz que vai governar para a maioria, portanto, a maioria vai votar nele, deverá ganhar as eleições. E isso será o justo, não há o que fazer.
Vamos ao segundo turno.

quarta-feira, setembro 19, 2018


A gente foi ver uma peça em que um trans-mulher pegou pra si a representação de Jesus, pra se dizer expulso sem razão da nossa sociedade. Aí, pegou logo um personagem principal e grande pra ser e desse jeito dizer, ué, por que não, muito sexo?
E tinha uma platéia enorme de estudantes, uma plateia que com certeza não se formaria há 20 anos atrás. Então, eu pensei que é preciso ter uma platéia formada antes de se formar um espetáculo. É preciso haver um rebuliço antes, fama, a fama de Jesus, para que se formasse o auditório. Não fosse assim e jesus seria um São Monteiro qualquer. E, aí, não sei, por que Jesus ficou tão famoso? O caso é que o autitório ficou lotado de estudantes para ver Jesus. E era uma mulher-trans.
Pronto! Pra mim, ta dentro.

terça-feira, setembro 18, 2018


Ontem, mandei As Vizinhas de Trás – max para Vila Velha, ES, pra Fernanda. A moça dos correios me cobrou um preço absurdo para o envio e, quando lhe falei que eu tava me sentindo roubado, me disse que é a nova política. Ela me perguntou se eu poderia dobrar as Vizinhas, porque o que encarecia era o comprimento das bichanas. Não, não podia.
Então, a política dos preços  de envio deixou de considerar apenas o peso, para considerar também o comprimento. Isso me lembra, quando começaram a cobrar laranja por peso, ao invés de quantidade, a dúzia. Banana também era dúzia. Porque a lógica da política de preços é qual?


segunda-feira, setembro 17, 2018


Ainda, nas coisas que vêm se formando sem que a gente se dê conta e, por isso, nos pegam de surpresa, ontem, a noite se formava sobre a ponte, quando o Pedro disse:
            - O carro vai parar, tou sentindo alguma coisa errada com ele – e aí, foi levando o bichano pra pista que ladeia a balaustrada, ali, rente onde os suicidas se jogam no mar da baía. E o carro parou.
Eu disse:
- O que tem de fazer? Tem aquele ícone de sinalizar pra os outros carros que a gente ta parado aqui?
- Não, não tem. Desça e vá lá atrás, sinalizando com a mão, pra eles, enquanto eu vejo o que aconteceu. Vou abrir o caput.
E quando eu saí do carro era a surpresa total. Já era noite. A gente no meio da ponte, eu sinalizando aos faróis em alta velocidade para irem mais à direita e pra que se desviassem da gente, a cidade toda iluminada e iluminando pesadas montanhas de nuvens sobre o cristo, sobre ela, um vento forte batendo. E eu no meio sonho e meio pesadelo da situação, os automóveis vindo em alta velocidade, os que vinham atrás dos primeiros não me viam fazendo sinal, estava perigoso e lindo.

domingo, setembro 16, 2018


A gente fica surpreendido com umas coisas que aparecem na gente, porque não as vê se formando. Então, quando vê, já é. E, aí, tem de lidar. Ontem, à noitinha, eu tava me sentido bem estranho, assim, deslocado, sem saber me explicar bem, me sentindo, assim, mal. Uma hora depois disso e sem que eu tivesse me drogado, bebido água ou comido nada, eu comecei a me sentir muito colocado, e dizendo exato, eu tava me sentindo foda!
A gente não vê as coisas se formando e elas aparecem de surpresa, enquanto estamos ligados noutra coisa. E a impressão é a de que sempre estamos lidando com o desconhecido. Então, agora, pra escrever aqui no Blog Azul, a tentativa é de me dar a situação, tentar me situar no que veio se formando e no que é e está, no momento, agora.
Estou fazendo um uso prolongado do Bactrim. Eu me esqueço das alterações físicas, na minha carne, no meu sangue, que vão se configurando no meu corpo, para que eu tente, com ele, o Bactrim, que minha uveíte não se desenvolva, outra vez. Três vezes por semana, tenho tomado os dois comprimidos brancos, redondos, achatados, grandes, dele. E não estou me dando conta do que está se modificando, ou do que ele está ajudando a modificar, lentamente, para que a uveíte não volte. Quando eu for olhar, minha nova configuração já se formou.


sexta-feira, setembro 14, 2018

Eu disse, na semana passada, de minha faxina ter se transformado na busca por uma foto dentro de um livro. Uma foto que eu adoro e que, depois de ser encontrada, pedi ao Pedro que emoldurasse. Quero tê-la de lembrança na minha parede. Acontece que, além de não ter mostrado a foto naquela postagem, também contei ao meio a estória dela.
O Núcleo Canção da UFRJ tem, há mais ou menos, um ano, um programa de entrevistas com artistas da música, que ainda não tinham sido de interesse da universidade. Chama-se Escuta. E me tornei o transcritor dessas entrevistas, porque fui o primeiro entrevistado - https://www.youtube.com/watch?v=_mf1plY6_zg – e, daí, transcrevi minha própria entrevista. Como curti, pedi pra que eu transcrevesse outras também. Atualmente, tou transcrevendo a do artista Caio Prado.
Na minha entrevista, os entrevistadores, na época, Rafael Julião e Isabela Bosi, puxaram o veio do filme La Nave Va – minha música com Manoel Gomes - e indo por ele fomos vendo que o disco Poema Maldito poderia ter a ver com a viagem funeral da cantora do filme. Na entrevista, eu me lembro de ter falado que meu disco não é um disco triste e que eu não conseguia entender porque os amigos que ouviam, diziam ter vontade de chorar. Porque, eu dizia, a minha música é cheia de pensamento e isso, o pensamento, é avesso ao choro. Bom, pode ser que isso não seja a verdade.
Um tempo depois, eu quis fazer a foto com esse motivo, porque essa estória do navio, do barco, da música, do pranto, do sofrimento, do pensamento e da morte, é tão cheia de mistério. E a usamos, há um ano, para o lançamento do livro Diário da Piscina, em Vitória – ES.
Vejam:

quinta-feira, setembro 13, 2018


Tenho pensado que minha produção de música e livro – e agora tenho feito As Vizinhas de Trás – desde o início não tem nenhuma intenção combativa. É mais uma queixa. Ou registro. Um mimo que tenho pra mim mesmo, pra eu ter um mínimo de alegria e tudo.
Para se fazer combate, é inteligente que se tenha ordem e disciplina. Que haja um plano, mapas de combate, planilhas logísticas, qual será a movimentação no front, qual será na retaguarda, uma coisa de olhar pra tudo de fora, do alto, com a impressão de se estar dominando pra, enfim, a intensão de dominar. De ganhar o território.
Para meus registros e queixas, tudo pode se dar no caos. Embora, quando emarenhe demais, eu, literalmente, perca um tempo arrumando a casa.
Dessa vez, no primeiro dia limpei o peitoril das três janelas e o altar que tenho em meu quarto, ao lado da cama. Porque são coisas de pedra. Demorei três dias pra deixar o restante do apezinho, tudo, minimamente limpo. Então, ficou tudo mais fresco e bom de respirar. E o vento mais fresco que tem vindo do sul, sem ser combatente, sendo como eu, dominou tudo aqui.

quarta-feira, setembro 12, 2018


Faz muito tempo, quando morava em Papucaia, escrevia muito sobre minhas viagens de ida e volta, para vir estudar, que eu ainda tava terminando a minha graduação na UFF. E lembro de ter usado uma palavra pra me referir àqueles cortes nas colinas que as estradas fazem para passar.
Depois, quis usar de novo essa palavra e não consegui. Me vinha a imagem dela, sem forma definida, e eu tentava pronunciar o som, mas o que me vinha não era suficiente. Ela vinha na boquinha de garrafa e não terminava de sair, não saía.
Isso dela vir pra fora e eu conseguir usá-la, aconteceu outras vezes, além e depois das vezes que utilizei ela nos textos que escrevia sobre as viagens NiteróixPapucaia. E, na semana passada, ela se prendeu outra vez dentro da garrafa, não saiu. Dei uma googada no sentido, pra ver se ela estava, fui nos dicionários topográficos, cartográficos e nada.
Quando Pedro apareceu, fui contar pra ele da minha busca e da minha decepção. Aí, enquanto eu contava, ela veio e botei pra fora: Talude.

terça-feira, setembro 11, 2018

Edevaldo - O Que

Ontem, eu tava vendo que eu gosto
muito das letras e músicas do Edevaldo, que o Vitor me apresentou. As suas
melodias são cantadas na casca, onde são mais duras e secas. Mas no fundo
delas, indo mais pra dentro, elas são macias, suaves. E o violão que ele faz, é
lindo demais também, um violão brilhante, com detalhes pedregosos.
Vejam:

O que
(Edevaldo)

O que você quer fazer
O que você quer saber
O que você quer falar
O que você está fazendo
O que você tem
O que você não tem
O que você quer  
O que você não quer?
O que você quer  
O que você não quer?
O que você tem
O que você não tem
O que você quer  
O que você não quer?
O que você quer  
O que você não quer?


O que você quer fazer
O que você quer saber
O que você quer falar
O que você está fazendo
O que você tem
O que você não tem
O que você quer  
O que você não quer?
O que você quer  
O que você não quer?
O que você tem
O que você não tem
O que você quer  
O que você não quer?
O que você quer  
O que você não quer?

O que você tem
O que você não tem
O que você quer  
O que você não quer?
O que você quer  
O que você não quer?
O que você tem
O que você não tem
O que você quer  
O que você não quer?
O que você quer  
O que você não quer?






segunda-feira, setembro 10, 2018


Eu fiquei muito Feliz com As Vizinhas de Trás – max, que fiz para a Fernanda. E que hoje pela manhã autentiquei a assinatura pra lhe enviar a tela, em Vila Velha. Mas quando Pedro foi embrulhar pra eu colocar no correio, manchou sua mão de vermelho. Aí, voltei com ela pra minha parede, para que se seque melhor:






domingo, setembro 09, 2018


Há um tempo, começaria escrever aqui, no Blog Azul, está um dia de domingo belíssimo em Niterói, com os passarinhos engaiolados do Vizinhos do Térreo gritando. Depois, diria que algum Vizinho de Baixo entrou no prédio batendo com força a porta de metal da entrada, subiu os primeiros degraus do prediozinho, silenciosamente, e desapareceu sem que eu conseguisse notar se sumiu para dentro do 201 ou se para dentro de 202.
Da forma como escreveria há um tempo atrás, escrevo agora, porque os dias belíssimos de domingo ão de se repetir muitíssimas vezes pela existência dos dias, vida afora. E não há motivo que me faça escolher dizer as coisas do domingo de outra forma que não essa.
É isso.

sexta-feira, setembro 07, 2018


Comecei a reparar que eu perdia uma ideia já faz tempo, isso não é novidade, agora. Tem algumas que ainda nem terminaram de se formar e já se desintegraram. E, aí, quando você vai pegá-las, elas já não estão mais lá, não existe mais corpo nenhum onde elas estavam. Quando eu era criança, a sensação era a mesma da que eu tinha, quando levava um tombo.
Então, preciso fazer as coisas na hora em que elas me vêm no devaneio. Se não embarco, quando chegam, esqueço. Ainda há pouco me veio na mente introduzir uma música – me veio a música na cabeça – com aquilo que faço na música Velha, que é um bordado de bordão que o Gilberto Gil faz na música “Não chore mais”. Na música Velha, esse bordão da “Não chore mais” cria um efeito diferente pra ele próprio, encaixado no contexto melódico da Velha. E como introdução dessa música que pensei ainda há pouco, ganhava mais diferença ainda. Mas não experimentei fazer no violão, quando essa ideia veio, e me esqueci qual era a música onde queria fazer isso.
Eu sei que outras idéias virão, com e para outras músicas, intuo que isso, esses embriões, virão noutras vezes, porque o pensamento da gente ta sempre indo pra algum lugar, mas, pow, não precisava perdê-los assim, tinha de lembrar, esse, especialmente, chegou há pocas horas atrás, não tinha de ter esquecido.

quinta-feira, setembro 06, 2018


Fazendo faxina:
Tenho aqui, guardando há mais de trinta anos, quatro plaquinhas de vidro, que eram prateleiras de um armário que havia no banheiro da Cabeça de Porco em que morei nos anos 80. Isso é uma coisa muito louca, eu guardo as placas, eu estou lhes dizendo. Só agora é que comecei a me dar conta disso e faz, mais ou menos, um mês, tenho olhado pra elas pensando que vou jogar fora.
            Demoro demais pra fazer a limpeza, porque minha atenção vai pra outra coisa, não consigo manter o foco, por exemplo, quando limpava aqui, onde fica o computer, me lembrei de um, tipo, cartão que o David, através do Sesc Gloria, em Vitória, fez do lançamento do Diário da Piscina que fizemos lá. Ele fez o cartão com uma foto que eu adoro, que é uma foto que eu quis fazer por causa da La Nave Vá (luís capucho/Manoel Gomes), que é a primeira música do Poema Maldito. Então, eu pedi ao Pedro que me fotografasse dentro de um barco, como se o barco fosse o barco do Caronte. E, aí, coloquei a minha Camisa de Fazer Shows, pintei o meu olho, na praia da Eva e Adão, e ele tirou muitas fotos, que eu adoro.
E o tal, tipo, um cartão foi feito com uma dessas fotos. Quando tava aqui limpando, me lembrei que o tinha colocado dentro de um livro. E a limpeza se transformou por mais de uma hora na busca pelo livro. Qual livro eu não sabia. Apenas teria de achá-lo. Sim, eu encontrei e parece que foi sem querer. O livro não estava aqui, estava na sala.

segunda-feira, setembro 03, 2018


Esse incêndio, ontem, no Museu Nacional foi de enlouquecer uma pessoa, uma pessoa louca que ateou fogo na própria casa, no próprio quarto, na cama, colchão, roupa, no corpo. Alguém disse no jornal que o Brasil se suicidou. Acho que, antes, enlouqueceu. Eu tava vendo no youtube outro dia um documentário sobre uma casa de louco em Minas e que na época do império era casa de repouso de gente rica, mas com o tempo foi virando depósito de gente louca pobre. E que era tratada meio como lixo. O Brasil louco sempre tratou pobre como lixo. E agora tão tratando suas próprias coisas como tal. Deixou queimar a casa do Brasil Colonial. Do Brasil Loconial. Não é pra entender mesmo. Loucura!

domingo, setembro 02, 2018


Pra mim, um livro ou uma música ficou pronto, quando todas as minhas questões com ele-a estão resolvidas. Aí, eu me sinto feliz dizendo, pronto, acabou. E a impressão é de que cheguei mesmo ao fim, quer dizer, que a partir dali, não farei mais nenhuma outra música ou livro. Eu já disse dessa minha impressão de que a última música que fiz e o último livro que fiz, são definitivamente a última música e o último livro que fiz. Depois, isso é desmentido, porque, no decorrer outras questões vão surgindo e termino por fazer outra última música e termino por fazer outro último livro.
Mas As Vizinhas de Trás, não. Elas estão para a eternidade prontas, mas nunca que eu termino de fazê-las! Minh’As Vizinhas de Trás, então, não estão prontas. Por isso, sempre que acabo de fazer uma delas, não tenho a impressão da última. Sinto que ainda vou fazê-las e fazê-las. E ter esse nome genérico para todas, me ajuda na compreesão disso. Porque As Vizinhas de Trás contém todas as telas que ainda não fiz, quer dizer, todas As Vizinhas de Trás que ainda não fiz, estão prontas no seu nome.
Mamãe me adora, contém apenas Mamãe me adora, respectivamente a música e o livro. Cinema Íris, apenas Cinema Íris, Cinema Orly, apenas Cinema Orly. Cada livro e cada música, apenas cada um deles mesmo. Eu mesmo, apenas luís capucho, pronto, acabado, não sou mais que isso.
As Vizinhas de Trás, não, não terminam!


sábado, setembro 01, 2018

Fiquei bem satisfeito com ess’As Vizinhas de Trás – max”, porque elas lembram muito as primeiras que fiz, de anos atrás. E eu tava achando que eu tinha perdido o jeito, mas não, o seu jeito continua o mesmo que havia nelas, no início. Porque eu consigo mais volume, agora, eu tenho mais intenção no movimento que faço com o pincel, agora, eu consigo afinar uma cor, se quero, agora, mas, no fim, o mistério de aparecer a expressão na boca e nos olhos, ainda está do mesmo jeito como aparecia antes. Eu sei, que ainda, na maioria das vezes, esse jeito aparece bravo, parece duro, e a verdade é que todas poderiam se chamar Lindonéia ou Gioconda.
Mas, tranquilo, se chamam As Vizinhas de Trás!