sexta-feira, maio 30, 2008

Eu estive falando sobre as plantas de mamãe e do modo como as aprecio com o seu movimento de entorno, visto que sou um cara contemplativo.
Uma vez, eu ainda era estudante e vivia perdido à beira da escola, sentado em frente ao prédio, na escadaria, sendo abordado por um aqui, outro ali, me chegando nos outros pra pedir cigarros, assim, um rapazinho macérrimo e de olhos grandes, e que ficava olhando pra tudo, quando se chegou a mim um cara estranhíssimo, bom leit@r, eu nem me lembro exatamente dele, porque não sou lá muito bom de memória mesmo e isso, eu sei, já faz um tempão. De todo modo, não é bom ficar repetindo sobre a ruindade de minha memória, por causa da neurolingüística...
E do que me lembro é da estranheza do cara, que tinha roupas indianas e trazia umas cartas de tarô. E uma toalha fresquinha de um pano também indiano, embaixo do braço.
Não sei, silencioso leit@r, como, com o passar daquele dia, nossa aproximação foi se tecendo. Sei que tendo ela se dado, fui com ele até a sala do diretório acadêmico.
E que após ele ter forrado aquela toalha levíssima e fresquíssima sobre uma mesa vazia e à toa que tinha na sala, despejou, escolhidas à sorte, algumas cartas do seu baralho de tarô pra mim.
Depois de alguma concentração, os olhos fechados, abriu-os e disse:
- Você não está fazendo nada, mas as coisas estão acontecendo à sua volta. Enturme-se!
Eu achei aquela frase tão poderosa, tão adivinhatória, tão alentadora. Ela me pereceu tão circunscrita a minha pessoa, bom leit@r, fiquei maravilhado...
Moral da história:
Uma andorinha só, não faz verão!
Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
!

quinta-feira, maio 29, 2008

links

Quando estive em Sampa, na casa da Bia e da Rachel, além de fazer a entrevista para o Mix Brasil (http://www.youtube.com/watch?v=cqOUMssAfUU) e de fazermos o que se transformou na edição de Peixe, do Pedro...
( falar nisso, o Mix colocou lá, veja, bom leit@r:
http://mixbrasil.uol.com.br/mp/upload/noticia/10_113_66774.shtml

E Pedro fez uma edição um pouco mais suja, que colocou aqui, veja:
http://www.mpbtube.com.br/content.asp?video=aewvW5xNqDnLVxrcAv3B8U6QiKyZL2jFfdEjX11JWTlt91iHWM)
...então, quando estive em Sampa, além dessas coisas, comecei a gravar, com Rachel, um novo disco. Tudo é muito insipiente, não sabemos o que irá acontecer, mas estou entusiasmado, bom leit@r. Estou dizendo isso, porque estou a ouvir as gravações e tendo idéias...ehhhhhhhhhhhhhhh!
E, hoje, o Rato completa o seu primeiro vivíssimo ano.
Aproveito para pedir o voto:
http://copadeliteratura.com

quarta-feira, maio 28, 2008

A roseira que comprei para mamãe, deu um cacho de rosas brancas.
Eu estava curiosíssimo para saber de qual cor seriam as rosas.
A mulher de quem comprei disse:
- Será uma surpresa a cor, mas o tipo eu sei: serão rosas em cachos.
O pé de lírio que Dona Matilde deu para mamãe e que uma vez por ano floresce, também está com uma penca deles, de lírios brancos.
Nossa área ficou uma riqueza, com as flores desabrochadas.
Mamãe ficou toda prosa com suas flores. Disse:
- Vou vigiar a Ana...é capaz de ela destruir minhas flores. Que menina estabanada!
Ali, onde estão amontoados os vasos de plantas de mamãe, é também onde os ratões reaparecem, quando dá a noite. Escondidos pelas plantas, e vindos do telhado, eles suspendem a cabeçorra a olhar para a distância da área e são até bonitinhos, vistos na penumbra.
Coloquei iscas de veneno, mas não matamos nenhum até agora.
É também perto das plantas que mamãe coloca canjiquinha, pela manhã, para as suas rolinhas que vêm aos montes durante o dia e as plantas ficam com os galhos e folhas recobertos de penugem que se soltam delas.
Nesse pedacinho de área, que mamãe ajeitou, é uma tal fartura de acontecimentos que um cara contemplativo feito eu poderia viver ali sem tédio, generoso leit@r.
É foda!
Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

terça-feira, maio 27, 2008

Respondendo à pergunta do Walter, sim, mamãe disse que é pra dar sorte.
E continuando a resposta...o tal JLM, insiste em dizer que o Rato é podre.
Dessa vez, ele o resenhou num site de venda de livros e diz o mesmo: se Rato fosse escrito por uma mulher seria tão desinteressante quanto um livrinho escrito por uma putinha pobre e maconheira.
Eu adoraria ler o livro de uma putinha pobre e maconheira!
Não me pareceria desinteressante.
O resto do que ele diz é um monte de bobagens sem razão. Eis a resenha, bom leit@r:


http://recantodasletras.uol.com.br/resenhasdelivros/982050

Devo sugerir a ele que leia o Cinema Orly, para que, assim, seu nojo espume de vez...
He he he!


Quando estive na Áustria ganhei um veadinho de presente.
Eu vivia perambulando pelos brechós de Lins, porque queria trazer presentes para todos os meus amigos.
Rubia disse:
- Aqui os veadinhos são brinquedo, não têm o mesmo significado que no Brasil – e me deu o veadinho.
Em Nikity, na minha casa, o veadinho ficou pelo meu quarto à revelia, ora aparece num lugar, ora noutro.
Ele vai seguindo o fluxo do movimento de arrumação e desarrumação do quarto e tem sido, silencioso, ótima companhia, com sua presença de coisa.
Faz um tempo que o vejo encalhado entre alguns discos e caixinhas, na mesa de meu computer. Ele está com a cara enfiada num vão entre as coisas e a bundinha pra cima e ali tem ficado, imóvel, desde já um tempo.
Hoje, mamãe entrou aqui e mostrando o veadinho enfiado nas coisas com a sua bundinha pra cima, disse:
- Deixe o veadinho assim, Luís, sempre com a bundinha pra cima, ouviu?
- Ah, foi a senhora que colocou ele aí?
- Foi. Ele deve ficar assim...

Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

segunda-feira, maio 26, 2008

Itaipu, uma das praias de Nikity, é uma comunidade de pescadores. E tem uma duna enorme e uma lagoa.
É uma praia pequena e tranqüila, onde ficam ancorados os barquinhos pequenos de pescadores e altos barcos de gente rica.
Um canal, feito para que a lagoa receba água do mar, divide Itaipu da praia de Camboinhas, onde mora um pessoal de classe média altíssima. Quando Pedro vem aqui em casa e faz comida, eu digo:
- Huummm...ficou classe média altíssima!!
E a duna de Itaipu é um campo arqueológico dos índios guaranis, onde são encontradas muitas coisas interessantes deixadas pelos índios que viveram lá antes que chegasse o homem branco.
Ontem, eu e Pedro estivemos em Itaipu e vimos um pouquinho de índio que quer as terras de volta.
Eles fizeram suas ocas espremidas num espaço vazio que ainda resta entre a lagoa e o mar, cercaram o lote e estão cobrando um real por cada pessoa que queira ver suas cabaninhas de perto.
Fiquei impressionado!
- Como é que aqueles poucos índios vão fazer, generoso leit@r?
Que coisa!

sexta-feira, maio 23, 2008

Mamãe disse:
- Será que quando eu morrer, vou reencarnar no corpo de alguém que não anda, outra vez ? – ela falou isso tão séria e eu esbocei um sorriso, sem entender. Porque mamãe não é entrevada. Ela consegue se movimentar dentro de casa e se vamos ao médico, ela desce a escada, entra no táxi, sai do táxi, anda com o andador...
E, depois, mamãe tem muito maior mobilidade social do que eu tenho, porque sou mais quieto que ela e consigo ficar sozinho, se quero. Mamãe, se está sentada na sala, não tem nunca a porta fechada e está sempre a falar com algum vizinho que atravesse o corredor.
Os vizinhos vêm sempre aqui em casa para falar no telefone, para pedir uma vasilha emprestada, para contar casos à mamãe, para ver novela com ela.
É muito bom...

quinta-feira, maio 22, 2008

Influcienciado pelo último post do Shiraga, coloquei Evaldo Braga como fundo do post de hoje. Além de lindo, o disco está cheio das lembranças de quando eu era garoto em Cachoeiro do Itapemirim, de quando eu andava de bicicleta, de quando eu comia mixirica, de quando minha alma voava ao som do brega, chique pra caramba, como são chiques os meninos viajando no gostoso!

quarta-feira, maio 21, 2008

O post hoje está animado pelo disco de Glauco Lourenço que acabei de colocar para ouvir. Eu conheci o Glauco na casa de Arícia Mess, da vez em que ela morava em Sta Teresa e ele me pareceu, então, familiar, porque eu já era amigo do Edil e, quando vi o Glauco, imediatamente, reconheci nele coisas que eu já conhecia no Edil.
O meu leit@r já deve saber que a gente coloca nas pessoas novas as coisas que já conhecemos das pessoas antigas, que é pra gente não estranhar muito, se liga. E, depois, o Glauco foi se afastando totalmente da semelhança com o Edil, porque eu fui vendo só ele, sem o Edil, que também era muito amigo da Arícia, na minha idéia, se liga.
Quando eu comecei a encontrar Glauco na casa de Suely Mesquita ou Mathilda Kóvak, ele já não carregava mais nenhuma lembrança do meu amigo Edil.
E o Glauco sem as lembranças do Edil, na dele, também fazia músicas e mostrava elas nas festinhas, igual a mim, porque cada um é um.

terça-feira, maio 20, 2008

Está um dia lindíssimo aqui no vale onde moro!
Achei blogs em que se fala super bem do Rato.
Em especial esses comentários no Blog Tom Zine:
Veja, bom leit@r:

alex e! disse...
...oi de novo, Tom. Fiquei um pouco confuso... todos os trechos que cê citou são do Luiz Capucho, certo? e são igualmente da mesma obra? certo também....??? Enfim, de qualquer maneira, não o conhecia. E gostei. Me senti meio que magnetizado por esse misto de crueza, aridez de estilo e força bruta. É como um jorro de esperma, porém de um altíssimo nível literário e valor estético notável. Me lembrou uma certa frase que cê postou do Flaubert.....rs Beijo pra ti.....
Quarta-feira, Maio 14, 2008 4:56:00 PM


Tom disse...
Alex, todos os trechos pertencem ao livro "Rato" do Luis Capucho.
Quinta-feira, Maio 15, 2008 9:10:00 AM


Tom disse...
O Luis Capucho é um desses escritores que não fazem concessão com sua literatura. Leia dele também o excelnte "Cinema Orly" onde fala da pegação em cinema e outras cositas mas.
Quinta-feira, Maio 15, 2008 9:18:00 AM


FRAGMENTO DE “RATO” LIVRO DE LUIZ CAPUCHO

“Seu pau, grande e murcho entre nuvens de espuma, pendido sobre o saco pequeno, com a glande inteira coberta pelo prepúcio que se fechava em um bico de pele mais escura, mais negra que a pele de todo seu corpo, torceu meu coração, secou minha garganta, deixou-me as pernas bambas.Entretido no banho, o Guilherme não viu meu olho seco no vão da porta, mas o Artur, o rapaz da poliomielite que mora em seu quarto, veio chegando e me pegou com a boca na botija.”

“Não gosto de ficar doido em casa, perto de mamãe. Prefiro ter minhas longas viagens longe de seus olhos, fora de casa, para evitar ver, por exemplo, que a pele de mamãe tem pequeníssimos poros esponjosos e protuberantes e que mamãe é um animal ressonando na cama de baixo do beliche.Todos sabemos que somos animais.Porém, sentir que mamãe é um animal sonhando na cama debaixo do beliche é um estranho sentimento. (...) Quando estou doido, tenho medo de mamãe. Estranho sua presença. Sinto sua presença esquisitíssima, absurda. Quando estou em meu estado de consciência cotidiano, penso friamente que mamãe não é real, mas é medonho vê-la de verdade participando de meu mundo quando ele está traduzido em fantasia, sob o feito da maconha, porque ela parece deixar de ser uma idéia de mãe solta pela Cabeça para ser um sentimento. O sentimento-mãe na minha vida pela primeira vez, visto pendurado na parede do tempo. (...)E mamãe ressona na cama de baixo, animal insuportável.”---

“Para mim, o canibalismo sugere o ato mais profundo do amor. Deve ser por isso que usamos o verbo comer no lugar de fazer sexo. E, como comer sugere violência, a morte do que está sendo comido em prol da sobrevivência do que come, o amor, a morte e a violência são cores de um mesmo prisma. Também adoro o verbo meter, que é igualmente violento. Meter a mão na sua cara! Meter o pau no seu cu! Enfim, devo ser um cara bélico, por gostar tanto assim. Não sei.Há pessoa que quando estão diante do mar, se pegam com sede ou com vontade de fazer xixi. Eu, quando estou diante de Plínio, sinto vontade de fazer cocô.Quando encontramos pelas bordas dessa cidade algum esconderijo para treparmos, o esconderijo geralmente está infestado de pelotas de cocô, fede a cocô. Sempre imagino, então, que muitos outros homens usaram aquele mesmo esconderijo para dar o rabo, muitos homens também foram comidos ali e o amor entre dois homens fede a cocô.”
---Luiz Capucho é autor de “Cinema Orly”
postado por TOM às
08:14 em 13/05/2008

segunda-feira, maio 19, 2008

O narrador do Cinema Orly com sua devassidão incontida na penumbra da sala de projeção de filmes pornôs, não incomoda tanto a um leit@r mais travado, do que incomoda, aos travados, o viadinho narrador do Rato.
Isso porque no Cinema Orly não há lugar pra travação.
Só há lugar para o prazer.
Ou o cara flui ali, ou ele não entra, bom leit@r. Ou ele lê ou não lê, ta ligado?
Já o narrador do Rato problematiza a travação e se põe de lado na Cabeça de porco, pensando, travado.
Por isso é que, no Rato, os travados têm entrada e têm um lugar para ficar, porque existe aquele viadinho contando a história a quem ele pode se opor, ta se ligando, bom leit@r?
No Cinema Orly, não tem contradição, tem só o FODA-SE. Literalmente, o FODA-SE.
Quando digo travado, um travado pode pensar que eu esteja colocando em questão o gênero do leit@r, mas não. O livro pode ser apreciado, proporcionalmente, por gente masculina e gente feminina, se liga, cada qual tem um tipo de prazer.
Estou falando apenas de leit@r travado.
Então, se o leit@r trava, ele fica impossibilitado de apreciar as camadas todas de leitura que o Rato oferece e não pode curtir.
Estou orgulhoso de ter leit@res como o Walter, o Renan, o Sérvio, o Shiraga, o Fred e todos os outros, meus generosos leit@res, que são todos inteligentes para caralho!
Aproveito o ensejo para o pedido:

Vote no RATO:
http://copadeliteratura.com
Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!

domingo, maio 18, 2008

sexta-feira, maio 16, 2008

Convidei o Ciro, meu amigo de muitos anos, para vir na minha casa, porque eu queria fazer um jantar pra ele. Comprei um vinho e liguei:
- Ciro, tudo bem? Eu queria que você viesse aqui em casa hoje, porque eu estou aprendendo a cozinhar e queria fazer um jantar inspirado naquele peito de frango que você fazia, lembra?
- Ih, Luís, eu não lembro, não. Não sei cozinhar. Eu invento!
- Então...eu queria fazer, você vem?
- Eu vou, sim. Mas não vou para o jantar, porque não janto.
- Poxa, Ciro! – eu falei desalentado – mas venha. Vou fazer!
- Vou, sim.
Agora, vou pra cozinha, bom leit@r...

quinta-feira, maio 15, 2008

Estou fazendo as carinhas da Kali.
Estão ficando lindas...rs....
Estou cada vez melhor.
Essas carinhas são inspiradas no trabalho da Marilu.
Ontem, ela esteve aqui em casa e disse que fazer seus desenhos lhe dá muita aflição na procura das cores e que ela está um tempo sem fazer...
Eu disse:
- Ainda não cheguei nesse estágio...

segunda-feira, maio 12, 2008

Peixe

Mais tarde, devo colocar aqui o novo videozinho que Pedro está terminando de editar.
É de uma música a que dei o nome de Peixe e que, da vez em que estive em Sampa, com Bia e Raquel, para a entrevista com o Mix Brasil, pedi para que tocassem comigo e elas foram maravilhosas, tocaram.
Pedro está, a cada dia, melhor na edição. Eu adorei!
Até logo, bom leit@r!

sábado, maio 10, 2008

Gosto adquirido
Bons achados no CD de Glauco Lourenço

"...Um dos melhores discos independentes brasileiros ao qual tive acesso nos últimos tempos é mui justamente dedicado a Joni Mitchell: "Abalo sísmico" (2007), de Glauco Lourenço. Ele compõe e se apresenta desde o começo dos anos 90, mas este é apenas seu primeiro CD. Apesar disso, ou por isso mesmo, não se interessa em fazer concessões, exige atenção. Troço corajoso nestes tempos em que a arte adula a impaciência dos iPods.

Das 12 canções incluídas em "Abalo sísmico", todas têm melodias evanescentes de Lourenço; oito têm letra de Suely Mesquita; três de Mathilda Kóvak, inclusive a faixa título; e uma é assinada só pelo próprio intérprete, que não faz feio. Chamada "Represa", ela se constrói numa poderosa imagem de auto-repressão sexual e traz ao menos dois versos brilhantes: "A natureza tem seu próprio curso/ E eu tenho sido um péssimo aluno".

Lourenço, Suely e Mathilda, entre outros, acreditam na relevância das letras. Isso é um alento para quem busca relações musicais estáveis e nem sempre encontra. (...)

Não é de hoje que Suely e Mathilda produzem letras inteligentes, quando são dramáticas, cômicas ou ambas as coisas. Caso de "Abalo sísmico", canção que abre e batiza o disco de Lourenço. Leia-se esse trecho: "O teu beijo é um bombardeio/ No meu abrigo antiaéreo/ Teu beijo deletério/ Derruba o meu Reich/ Acaba com meu império/ Teu beijo tempestade/ Umidade absoluta do ar/ Furacão varrendo a cidade/ Teu beijo pode matar."

Suely assina os versos de "Alma gêmea": "As bichas e as velhinhas/ Têm muito em comum/ (Miami e Copacabana)/ Queridos,/ Por que vocês não ficam logo bons amigos/ E saem no fim de semana?" E os de "Loteria de Deus": "A sua mãe tinha um rosto estranho?/ A sua mãe não tomava banho?/ A sua mãe lhe recebeu num Mercedão cor prata/ Ou lhe deu sua papinha numa lata?// Na loteria de Deus/ Em qual barriga você se escondeu?"

"Abalo sísmico" adiante, Mathilda reaparece com "Rio seco": "Nossas lágrimas/ Conjuradas/ Conjugadas/ De mãos dadas/ Convergem para o mesmo desaguar/ Enquanto nossos sorrisos/ Migram para outro lugar." Caramba, bonito e cruel isso. Graças ao arranjo que cresce em tensão e vira quase um tango, "Rio Seco" torna-se a melhor faixa do CD.

Por sinal, é bom frisar que "Abalo sísmico" não se esgota na leitura do encarte com as letras. O que o faz ser "um dos melhores discos brasileiros ao qual tive acesso nos últimos tempos" é também a sua discreta variedade musical, que, ao lançar mão de poucos instrumentos, estiliza a balada roqueira ("Abalo sísmico"), o samba ("TV que ninguém vê"), o jazz ("Infla minha alma") e até a música indígena ("Curare").

Last but not least há, claro, a surpreendente voz de Lourenço, andrógina sem fazer esforço algum. Sexta-feira passada, ele lançou o CD num show nas Casas Casadas, em Laranjeiras, acompanhado pelos mesmos ótimos músicos que tocam no estúdio: João Gaspar (violão e guitarra), Bruno Migliari (baixo acústico) e Eduardo Szajnbrum (bateria e percussão). a despeito do confessado nervosismo, o jeito de Lourenço no palco por instantes fez-me pensar num Cazuza sem exagero, cool, se é que isso não é impensável.

Há 19 dias, o Joaquim Ferreira dos Santos apostou suas fichas em Sílvia Machete, que ainda não tive oportunidade de ouvir, como "candidata ao trono de melhor cantora brasileira de todos os tempos da semana passada". Para fazer pendant, então, elejo Glauco Lourenço meu candidato a melhor cantor brasileiro de todos os tempos da semana passada. Concordo, Joaquim, sempre podemos estar enganados, mas viver é isso aí, enganar-se."

Arthur Dapieve, Segundo Caderno, O Globo, dia 9/5/2008
dapieve@oglobo.com.br

sexta-feira, maio 09, 2008

Comentários na enquete sobre Repescagem, da Copa de Literatura


GUSTAVO BONNA disse:25/04/08 - 6:37 pm
“RATO” NA CABEÇA! MARAVILHOSO!! CAPUCHO SUPERANDO-SE E SURPREENDENDO-NOS CADA VEZ MAIS……


Julio Cezar do Amaral disse:
25/04/08 - 11:56 pm
Quero votar no “Rato”. Audacioso e surpreendente, mais um trabalho brilhante de Luís Capucho.


Nair Nesi Maciel disse:
27/04/08 - 1:04 pm
É, também ñ entendi ñ. Até por quê acho q. todo livro merece uma chance. Ñ digo pobre de mim, mas tb. ñ entendi. Enfim, votei no q. li e gostei. Abraços.


Diego Miranda disse:
03/05/08 - 12:00 am
Por que não dá uma chance também a quem teve uma excelente votação na fase eliminatória, mas não foi classificado entre os 16?


estela disse:
04/05/08 - 5:41 pm
Quando as partidas terão início?


Bemveja disse:
05/05/08 - 2:14 pm
Que coisa lamentável são as escolhas de títulos na literatura brasileira… Duplos sentidos ginasianos, expressões sem sentido, aliterações vulgares e por aí vai. Sem contar que “O Rato”, “Maisquememória” e, claro, “Sonho de uma Noite de Verão” remetem diretamente a outras obras, ou seja, estão faltando aos autores brasileiros contemporâneos eufonia e originalidade. Lo que mal empieza…


Claudio Faria disse:
06/05/08 - 5:41 pm
Interessante esse comentário sobre os títulos…
Acompanhei a primeira Copa e fiz uma constatação desalentadora: a quase totalidade dos livros daquela edição poderiam ser considerados como “fracos”, ou na melhor das hipóteses, “passáveis”.
Obviamente que expresso apenas minha opinião, mas sinceramente não vi nenhuma obra que houvesse “arrebatado” os jurados, ou ao menos merecido elogios efusivos de uma significativa parte deles ou dos visitantes. Não me vi, após a Copa, desejando ler qualquer dos livros concorrentes, à exceção de “Mãos de Cavalo” - o qual não li ainda, mas lerei.
Nessa nova lista ao menos deparo-me com livros que antes mesmo da Copa e por tudo que li a respeito me despertam interesse, como “O Filho Eterno” (começarei em breve), “Rakushisha” (idem), “Era no Tempo do Rei”, e outros poucos.
E me pego pensando: quando tornaremos a ler um romance nacional realmente “marcante”, referência no fututo da literatura brasileira que se faz hoje? Essa situação deve-se à falta de ousadia, à falta de competência, ou tão somente é reflexo da literatura despretensiosa (nesse caso, no mal sentido da palavra) atualmente praticada?


Hebe Frennya disse:
07/05/08 - 9:37 am
Bemveja, você é hilário. Dos livros, apenas conhece os títulos e é disso que reclama. Se soubesse apenas as cores das capas, reclamaria das cores. Se apenas o número de páginas, reclamaria do número de páginas. Se soubesse de um livro apenas que contém mais a vogal O do que as outras, reclamaria que não faz sentido nenhum, visto que essa não é a vogal mais comum em português.


Bemveja disse:
07/05/08 - 2:21 pm
Hebe, não faça gracinha, apenas comentei o que me parece óbvio, pior foi neguinho ano passado ter comentado, criticado e dado nota a livros que não leu. Se eu ler algum desses, pode deixar que comentarei, sem ufanismos, sem corporativismos e sem o ouvido de lata que assola vários dos autores brasileiros contemporâneos.


JLM disse:09/05/08 - 12:57 pm
Para mim Rato não deveria constar entre os competidores, é “algo” muito ruim. Está mais para um folhetim de sacanagem e auto-afirmação gay do que para literatura. Não sou contra escritores homosexuais, sou contra escritores ruins.
Podem até argumentar que ele foi bastante votado e que muitos o estão indicando. Schopenhauer responde à esses: “Quanto às obras ruins, nunca se lerá pouco quando se trata delas; quanto às boas, nunca elas serão lidas com freqüência excessiva.”
1 abraço
.

Desembaraço

Quando estou para escrever o post aqui no blog, fico um tempão atento ao meu pensamento, até que eu ache um fio de meada, um fiapo de idéia que possa gerar um fio mais denso e alongado de frase, onde espraiar meu leit@r e a mim, que digitando aqui nesse teclado preto e ouvindo os barulhos de meu bairro, sorvo meus goles imensos de café, que adoro.
Muitos outros fiapos mínimos, assim, vazios, de idéia vão surgindo a passar pelo córrego de minha cabeça até que surja afinal o que tenha o curto germe dessas palavras sobre as quais meu bom leit@r passa seu olhar a entender-me.
Dito isso, por hoje, vou nadar.
Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

quinta-feira, maio 08, 2008

É amanhã, bom leit@r, o lançamento do livro do Leo.
Ele me chamou para cantarmos nossa parceria.
É no Catete, próximo à estação do metrô.
Rua Buarque de Macedo, 87. Às 20 horas.
Tel: 25566020

quarta-feira, maio 07, 2008

Ante-ontem, acordei muito cedo para levar minha mãe ao posto de saúde.
Na fila para pegar a senha, quando a mulher me atendeu com pouco caso, perdi o controle absolutamente e comecei a gritar, brigando com ela.
A fila inteira silenciou para me assistir os gritos.
Era incontrolável e eu continuei por um bom tempo gritando com a atendente e gritava muitos palavrões.
Eu fiquei louco, meu bom leit@r...
Depois de um tempo, calei-me e ficamos eu e mamãe num banco esperando.
A mulher com quem briguei começou a ficar muito solícita com os outros clientes do postinho. E vi que minha gritaria tinha adiantado alguma coisa, mas eu estava com vergonha por ter perdido o controle.
Foi quando ela veio em nossa direção.
Ela veio como se eu não tivesse soltado cobras e lagartos para ela. E disse:
- O Dr Fulano não virá hoje, venha cá para remarcarmos a consulta de sua mãe – e eu fui. Quando estava a seu lado, falei baixinho:
- Desculpa minha falta de controle – ao que ela respondeu:
- Nossa! Eu te estranhei, você não é assim! – e remarcou a consulta para mês que vem.
Aproveitamos que estávamos no posto e mamãe tomou a vacina para gripe.



****

Ontem, acordei outra vez muito cedo para ir ao Oswaldo Cruz tirar sangue.
Fomos eu e Pedro.
Quando vínhamos embora, ainda dentro dos limites do parque, que é o Instituto Oswaldo Cruz, resolvemos ver onde dava uma porta envidraçada que vimos no caminho. Pedro, olhando pela transparência da porta, disse:
- É uma lanchonete – entramos.
Mas não era uma lanchonete. Era um museu. Estavam expostos fotos e imitações gigantescas dos seres que existem no mundo mas que microscópicos, não vemos a olho nu.
Uma estagiária mostrou-nos piolhos e mosquitos da dengue no microscópio.
- Nossa! O Aedes aegypti é lindo! – eu disse olhando o bichano morto na palheta do micro...
Aí, eu disse pra estagiária:
- Tem como eu ver bactéria, vírus, bichos microscópicos? Protozoários? – eu queria ver um protozoário, bom leit@r.
- Não sei informar ao senhor, vou ver com a bióloga! – a estagiária disse e saiu.
Voltei a ver o mosquito da dengue. De repente, surgiu ao meu lado a Paula.
- Ué! Você é a bióloga?
- Sim, sou eu. Esse projeto é da Márcia, foi a Márcia quem projetou o museu... – e ficou nos contando. Ela já conhecia o Pedro de uma festinha. Enquanto conversavam, eu me deitei numa hemácia e fiquei olhando um glóbulo branco diante de uma porrada de bacilos, vírus, bactérias, amebas, sei lá, todos penduradas no teto.
E eu na hemácia, tranqüilo, um puff vermelho e fofo, feito ninho.
O post ta ficando imenso.
Preciso parar...
É isso aí, bom leit@r.

domingo, maio 04, 2008

Estou chegando da casa do Leo-poeta, onde ensaiamos, junto com Poíko, uma parceria nossa chamada Tudo Acabou.
Fiquei feliz, porque o Leo vai lançar seu livro e vai fazer um show de lançamento, dia 9 de maio, no Catete. E me chamou para apresentar com eles nossa parceria.
Depois, vou dar o endereço...

O Leo é um excelente compositor, veja bom leit@r, suas canções no youtube:
http://br.youtube.com/user/leoferreiradepaula
obs: veja também nosso ensaio de joje que está no link.

sábado, maio 03, 2008

Finalmente, eu e Pedro, parece, vamos dar cabo da edição de um videozinho que fizemos eu, Bia e Raquel, daquela vez em que estive em Sampa para a entrevista do Mixbrasil.
Estivemos com Sérvio na quinta-feira, que deu uma luz sobre o programa Vegas, que Pedro usa.
Naquele dia, em que estivemos com Sérvio, Edil fez pra gente um macarrão que Pedro tinha e que ficou tão delicioso, tão delicioso, meu bom leit@r...
E, ontem, foi a vez de jantarmos com Sacramento.
Depois de jantarmos fomos ao São Dom Dom, onde tocava uma banda de blues, com os adolescentes todos espremidos, de pé, no bar exíguo. Sacramento e Pedro foram entrando e cavaram um lugar, diante do cantor excelente e que ficou fazendo caras e bocas, cantando, quando eles entraram.
Eu fiquei de fora, na calçada, onde mais adolescentes estavam, todos curtindo, e eu, que olhava para o cantor e para o Sacramento, um diante do outro dentro do bar, tinha uma visão bem mais legal, porque eu podia ver todo o panorama das fisionomias deles, que me deixavam sentir o que se passava em seus espíritos, o meu bom leit@r se ligue...

quinta-feira, maio 01, 2008



O Henrique Schineider mora em Novo Hamburgo, uma das cidades do Rio Grande do Sul. Seu livro Contramão será o livro que o Rato irá enfrentar, bom leit@r, na Copa de Literatura.
Henrique me mandou um e-mail:

“Salve, Luis!

Não nos conhecemos pessoalmente, mas acho desnecessárias maiores apresentações. Meu nome é Henrique Schneider e estamos juntos na Copa de Literatura Brasileira, esta grande e deliciosa brincadeira inventada pelo Lucas Murtinho e mais alguns mosqueteiros.

Digo "juntos" porque calhou de meu livro Contramão estar "concorrendo" contra o teu Rato. E eu, inadvertidamente, estava entrando nessa de `concorrência´, quando me dei conta de que não, não somos concorrentes: somos companheiros. Companheiros de ofício. E este nosso mundo literário é tão pequenino que, se a gente começa a competir demais, levar muito a sério toda esta coisa, acaba a gente se transformando no grande chefe do lugar nenhum!... Para isso não escrevo.

E aí, o que fiz? Comprei o Rato, ontem à noite - cuja leitura começo no feriado. (Aliás, a Rocco está com uma boa distribuição: comprei o livro em Novo Hamburgo/RS, onde moro - e que não é uma cidade que se pode dizer seja conhecida por suas exuberantes livrarias...) Não comprei para analisar o concorrente, mas apenas para apreciar um bom livro - o que, apenas folheando as primeiras páginas, já se pode saber.
Fica aí, desde já, o meu abraço - e a torcida, sempre, pela literatura.
Henrique “

Ao que eu de pronto respondi:

“oi, Henrique, Salve!
Fico feliz que você tenha encontrado o livro aí em Novo Hamburgo e fiquei imensamente feliz que o Rato tenha entrado na Copa e que, assim, mais leitores fiquem a saber de sua existência e que fiquem curiosos por ler minha história.
Sim, certamente que a Copa de Literatura tem outras dimensões, maiores que o simples fato de estarmos competindo a um primeiro lugar, mas, por exemplo, a de nos enturmar numa brincadeira ou mostrar os nossos livros.
Obrigado pela iniciativa de me mandar um e-mail. Depois me diga que tal foi o leitura do Rato?
Estou para comprar o seu Contramão. Vou colocar seu e-mail no meu blog, tudo bem?
Moro aqui em Niterói, RJ, onde chove por todo o dia de hoje.
O Rato é meu segundo livro. Tenho um primeiro, Cinema Orly, publicado em 1999 por uma editora independente, Ficções de Interlúdio. O Cinema Orly, foi premiado em 2005 com o Prêmio Arco-ìris dos Direitos Humanos. E em 2003 lancei um cd, Lua Singela.
Comecei a ter coragem para levar meus trabalhos artísticos até o fim, a partir de 96, depois de um coma por neurotoxoplasmose, que me aposentou do trabalho de professor do Estado.
Estou terminando de fazer um terceiro livro e devo levá-lo para a apreciação da Rocco na terça-feira, mas estou receoso, por ele estar curto. Tomara que queiram publicá-lo.
Também quero conseguir fazer mais discos, vamos ver...
Espero que goste do Rato.
um beijo,
Luís.”

Vejam o Contramão:



Porto Alegre, seis e meia da manhã. Otávio Augusto desperta para mais um dia de trabalho. Após tomar banho, o que sempre lhe traz de volta à vida, separa suas roupas meticulosamente, combinando cada peça com cada acessório. A preparação para o trabalho mais parece um ritual, seguido de um café forte e fatias de pão quente. Contramão, de Henrique Schneider, introduz o romance por meio da descrição de uma personagem extremamente zelosa com a imagem, dotada de fortes ambições profissionais e de uma agenda impecavelmente organizada. Esta, no entanto, não possui espaço para imprevistos.Ao sair de casa, Otávio Augusto segue sua rotina. Senta ao volante do carro importado, liga o rádio para ouvir o noticiário e se põe a caminho da metalúrgica onde trabalha como gerente de negócios, cargo assumido logo após sua graduação. Um sinal quase fechado, as urgências para com horários e compromissos, somados a um motor possante, fazem com que Otávio seja o responsável pelo atropelamento de duas crianças. O lema "tempo é dinheiro" parece não mais significar sucesso para o jovem administrador. Tomado pelo desespero, esquiva-se da situação, fugindo o mais rápido possível para que não destruam seu futuro. Dirigindo sem rumo, o itinerário é traçado pelo instinto. Uma breve pausa para respirar e arejar a cabeça. Ao analisar a estrada e sua localização, percebe ter passado por um posto de gasolina e toma a decisão de seguir caminho até o sétimo posto. Um já havia passado. O que mais aguardará Otávio nessa jornada sem destino? Ou, pelo menos, até o sétimo posto de gasolina?"Em Contramão, Henrique Schneider nos conta, de maneira absolutamente fascinante, a história de um homem que tem um encontro com o destino", escreve Moacyr Scliar. "É aquilo que poderíamos chamar, por analogia aos road movies, de uma road story, uma história em que o deslocamento por estradas e lugares tem sua contrapartida na viagem interior, e na descoberta (amarga, no caso) do fator humano."