sexta-feira, abril 30, 2010

Frio.
Quando eu entrar no 30, com o ar condicionado e o céu cinza, vou me sentir em outro país. E quando olhar para os prédios, casas, e pras pessoas no chão, vou entrar de novo em Nikity.
Recebi um e-mail interessante, um e-mail político, que dizia sobre Nikity propagandear qualidade de vida e, por causa disso, estar atraindo muitos novos moradores. O meu silencioso leit@r não faz idéia da quantidade de prédios novos estão sendo construídos aqui no bairro...
Mas isso de qualidade, não é tão verdade assim, e com o enchimento da cidade, não vai ter qualidade mesmo, porque como pode ter qualidade, se ta tudo cheio?
Eu mesmo ficava me lembrando dessa propaganda, uma das melhores qualidades de vida do país, quando ía no postinho do bairro, levar mamãe no médico e, aí, tinha algo errado na propaganda.
E, como pode, se, com as chuvas, a gente soube da comunidade de ruas onde escorria chorume?

quinta-feira, abril 29, 2010

As ruas foram feitas para os automóveis e as calçadas para os transeuntes, todos nós sabemos disso. Em minha rua tem um hospital militar. Todo mundo sabe também da tradição de prepotência do pessoal que trabalha na nossa polícia.
E, então, estacionam carros nas proximidades do hospital de ambos os lados da rua, nas estreitas calçadas e além do meio-fio, de modo que, hoje, minha rua, que por não ter saída, não tem quase trânsito, engarrafou, bom leit@r, acredite!
Além disso, também, porque essa semana foi uma semana em que estive às voltas com minhas consultas médicas, estive pensando se as doenças são, assim, desconhecidas, quer dizer, os vírus são imprevisíveis, as bactérias que nos atacam são espertas demais, os protozoários um mistério tal, que os médicos, nas consultas ambulatoriais, ficam desorganizados e, apesar de terem estudado, ficam meio que às cegas, enlouquecidos e, por esse motivo, a gente espera tanto pelo atendimento marcado.
Ou, se, como no caso dos policiais, o desrespeito e a desordem quanto aos horários que marcam pra gente estar lá na consulta, faz parte de uma tradicional prepotência médica também.
Mamãe, por exemplo, sentia os médicos como deuses e, aí, eu dizia sempre pra ela:
- Mãe, fica tranqüila. Médico não é Deus!- mas ela sempre ficava nervosa ante eles, quer dizer: de onde mamãe tirou que médicos são deuses?
Então, eu cheguei na sala de espera da minha médica às 11:30 h. Eu já sei que não serei respeitado quanto ao horário marcado e fiquei lendo uns textos que levei. As pessoas, resignadas, diziam:
- Quando a gente vem ao médico, tem que esquecer o mundo!- e eu lendo.
A médica me chamou às 15:30 h, quer dizer, quatro horas de espera.
Ninguém merece!

quarta-feira, abril 28, 2010

Essa madrugada choveu em Nikity, lavando a poeira de minha rua.
Portanto, posso deixar minhas janelas abertas.
Fui.

segunda-feira, abril 26, 2010

Ainda estou sonolento, mas saí da cama porque é segunda-feira.
Nessa época do ano, uma nesga de sol, muito branca, me pega na cama às 9 horas. Já são 10:25 e ela ainda está lá.
Minha casa ficou muito limpa, depois que Dorinha veio.
Tenho mantido as janelas sempre fechadas, por conta da poeira, que vem dos carros passando na minha rua.
A poeira ainda é daquela chuva tétrica que matou o pessoal que vivia em cima do lixão do Morro do Bumba.
Ainda não entendi direito: o pessoal convivia com o chorume brotando constante do chão? Isso me impressionou bastante, silencioso leit@r.
Amanhã irei ao médico e depois de amanhã também.
É isso.

domingo, abril 25, 2010

Eu teria de levar os meus bichinhos domésticos, o meu ursinho, o meu miquinho, o meu viadinho, minha cobrinha, para conhecer o tigre que havia acabado de chegar na cidade, mas havia, entre eles, a profecia de que um dia, o tigre chegaria à cidade para comer algum.
Nenhum deles sabia qual seria o escolhido pela fera.
Coloquei-os em suas coleiras e me fiz ser seguido pela casa, enquanto pensava um pouco, e quando descia minha escada, rumo ao tigre, meus bichanos encoleirados, o meu ursinho, o meu miquinho, o meu viadinho, a minha cobrinha, presos nas guias atrás de mim, perguntei:
- Vocês têm certeza de que querem conhecer o tigre?
- Sim, queremos- e, aí, silencioso leit@r, fomos para o portão, onde um motorista esperava frente ao jipe, e ele veio falando:
- Não podemos ir conhecer o tigre, o carro estragou. Acenda uma vela!
- Não, o carro não estragou. Ele está preso na cerca do vizinho. Vou empurrar a cerca e você tira o carro para irmos- eu disse e comecei a empurrar a cerca, onde estava enganchada a traseira do jipe .
Aí, coloquei meus bichinhos todos, junto a mim, na traseira do jipe e partimos para conhecer o tigre.
Todos os bichinhos felizes...

sábado, abril 24, 2010

A lamb is a young sheep.
Foi o que descobri em minha última pesquisa na internet.
Cortem-lhe a cabeeeeeeçaaaaaaaaaaaaaaa!
Ehhhhhhhhhhhhhhhhh!

quarta-feira, abril 21, 2010

Minha casa está que é poeira pura, resquício ainda da chuva que derrubou os morros em Nikity.
É que a máquina passou pra tirar a camada de terra sobre o asfalto e o sol secou o barro que restou, em poeira.
Respirar na poeira é ruim, meio sufocante, mas acontece que não há o que fazer. É preciso respirar, bom leit@r.
No que Pedro tem chamado de meu condomínio, por conta do feriadão, tem música vindo de todas as direções e, aí, eu queria ler um pouco e vou tentar ler mesmo assim. Talvez, vá pro Pedro...

terça-feira, abril 20, 2010

Encontrei L, de repente, na rua.
É sempre entusiasmante encontrá-la, que gostoso encontrar, quando menos se espera, alguém de quem conhecemos algo, mas, depois, quando nos deixamos e cada qual segue o seu caminho, fico com uma impressão ruim.
Não é a primeira vez que acontece. É sempre assim: o entusiasmo de avistá-la, quando ela vai embora, vira um troço ruim.
Cruz credo!

segunda-feira, abril 19, 2010

Passei a tarde, ontem, no Pedro, que fez uma comidinha deliciosa e, depois que comemos, fomos pro computer assistir a vídeos aleatórios de Erika Badu, no Youtube.
É uma mistura de música muito elaborada com visceral.
Pedro adora e ficamos olhando.
Sobre as letras, não posso falar, porque não compreendo inglês.
Depois, ele me deu um pouco de comida pra eu trazer e, quando cheguei em casa, o Sacramento me telefonou, enquanto eu assistia ao Fantático.
Meus vizinhos de trás faziam silêncio e fui dormir cedo, como gosto.
Sonhei com mamãe.

domingo, abril 18, 2010

Antigamente, quando eu nadava no Ingá, todos os dias, quando o ônibus entrava na Miguel de Frias, tinha uma senhora sentada na esquina com as pernas estiradas, como só as mulheres conseguem se sentar.
Sempre me chamava a atenção, aquela mulher ali, como uma senhora de uma família qualquer, que não tivesse mais um lar, uma família e tudo, e para quem os transeuntes, em sua maioria, fugiam do olhar, ou porque ela estivesse sentada na calçada e, desse jeito, não existisse ou porque ninguém mais, mesmo, tenha coração.
Agora, quando passo no ônibus, tem uma senhora que está sempre na calçada da 5 de Julho.
E a impressão é a mesma.
Ela forra um papelão no canto da calçada, na beira do muro e sob uma árvore.
Como aquele quadro famoso da Vênus Deitada, ela se recosta, meio de lado, na almofada de um bolsa cheia de panos, os quadris cheios sobre o papelão, bunda recostada na parede do muro, e os pés, um pouco mais altos, almofadados numa trouxa de panos.
Ela fica ali absorta, os adolescentes vindo e indo para a escola alheios a ela e ela, por sua vez, alheia também, como se estivesse em sua sala, absolutamente despreocupada, o semblante limpo, zen.
Eu, quando a vi de minha janela de ônibus, pensei:
- Nossa mãe! Ela é uma rainha e ninguém ta se dando conta! Que coisa!
Por sua vez, Walter também tem uma história dessas pra contar:
http://revistacontemporaneaed04.wordpress.com/artigo-contemporaneo/

quinta-feira, abril 15, 2010

Sempre, por coincidência, quando estou chegando ao ponto do 30, de volta pra casa, à noite, está a sair um ônibus e sinto, vendo-o fazer a curva do terminal, sem poder alcançá-lo, angustiado, que eu poderia estar em casa antes pra jantar, pra tirar os sapatos, pra sentar na poltrona, pra ver os e-mails e tal, e tal.
O meu bom leit@r sabe, que das seqüelas com que fiquei após o meu coma, e que me fizeram ser essa versão de Luís que sou agora, a única coisa que não recuperei do Luís Capucho antigo foi a possibilidade de sair correndo, se eu quiser ou precisar.
Daí, que não saio correndo ao ver o ônibus e não pego o bichano, antes que saia.
Mas naquele horário, em que os ônibus começam a ser recolhidos na garagem, vêm vários e, aí, ontem, quando perdi o primeiro avistado, não esperei muito pelo próximo.
Era um micro-ônibus.

Motoristas de ônibus existem de todo tipo e aquele tinha muita pressa, de modo que eu sentado na cozinha dele, naquela parte final de cadeiras, solavancava pra caramba, espremido entre as pessoas que se entupiam lá dentro, até que começaram os passageiros a se cuspirem dele, nos pontos mais pro final da linha.
Um senhor ao meu lado, no canto, me pediu licença para sair e no corredor do ônibus, que arrancou de repente, caiu no colo da mulher ao lado, se machucou no encosto de uma das poltronas. Vi quando ele, cheio de dor e envergonhado, virou-se para pedir desculpa e depois sair, segurando o ombro melindrado.
E, aí veio a minha vez: o meu bom leit@r acredite, na hora de minha saída, desci o primeiro degrau do ônibus e antes que eu sequer começasse a tirá-lo para o degrau seguinte, no tempo em que eu disse para o motorista “obrigado”, ele deu a arrancada de partida e foi embora.
Ha ha ha... mas eu nem tinha descido, sô...

quarta-feira, abril 14, 2010

Sonhei, agora pela manhã, que encontramos Sônia Braga, no ônibus pro centro da cidade. Ela estava indo para o seu voluntariado no Canto do Rio, onde estão sendo feitas as doações para o pessoal que perdeu tudo nas últimas chuvas.
Como se a conhecesse intimamente, apresentei-lhe Pedro e fiquei de levar umas roupas usadas para doação.
Outro dia, Dona Glorinha me pediu as roupas de mamãe para dar para uma senhora de São Gonçalo, cuja casa fora invadida pela água da chuva. Eu fico muito emocionado, quando mexo em suas roupas, mas, aí, foi tranqüilo...
Para nós, aqui no nosso vale, os efeitos da chuva já passaram.
Hoje faz um dia lindo, de sol muito gostoso de inverno e estou lavando um pouco de roupa suja.
É isso aí.

terça-feira, abril 13, 2010

Preciso fazer algo para almoçar.
Vou atravessar a rua e aquela mulher da quitanda vai me perceber e o rapaz que trabalha pra ela vai me olhar, mas nunca me olhar de frente, embora ele tenha sempre um sorriso pra mim, que nunca se abriu, e eu vou entrar na quitanda achando que eu deveria falar alguma coisa, um cumprimento, dizer algo espirituoso, quebrar a parede de silêncio, mas, aí, eu fico burro e não me vem nada à cabeça que eu diga.
Aí, eu compro ovos e faço ovos fritos e compro repolho e faço salada e faço arroz pro almoço. E trago um vinho de sobremesa...

segunda-feira, abril 12, 2010

Acordei com um cachorrinho chorando na área da vizinha que mora embaixo de minha Vizinha de Janela.
Tenho tido a sensação de que me esqueço de algo importante, mas não consigo atinar o que seja.
Ontem, Pedro fez uma costela de porco deliciosa.
É de horrorizar pensar no pessoal que ficou soterrado na avalanche de terra e lixo, aqui perto, mo Morro do Bumba.
Não entendo das manobras políticas, mas, com as chuvas, veio a oportunidade de remoção do pessoal dos morros.
Hoje, irei à escola.
Quero aprender inglês.
Terminei de ler o livro Angústia, do Graciliano Ramos.
Me custou um real e foi dado de presente de aniversário para uma Diva e um Laurindo por um Paulo Pedrosa, em 1952.
Não gostei do final, porque a gente se perde na cabeça do assassino.
Não gosto de me perder em leituras.

Gosto de ler textos que me conduzam direitinho, porque na minha normalidade já sou caótico.
O cachorrinho voltou a chorar.
Vou fazer uma comida.

sábado, abril 10, 2010

Os helicópteros continuam a passar sobre meu vale, insistentes.
A todo instante surgem boatos de que o pessoal do morro vai descer pra fazer arrastão.
O pessoal aqui debaixo tem um desconhecimento absoluto do que seja uma pessoa que viva no morro. É como se fosse um país vizinho e hostil.
Eu mesmo sinto, quando preciso ir ao hospital de Ipanema, para o médico, sinto que vou a outro país. Eu fico olhando pras pessoas que passam no calçadão daquela avenida, pras pessoas que vão àquela feira da Praça General Osório, como se habitassem um mundo muito diferente, com apartamentos constituídos de coisas muito diferentes, respirando um ar muito diferente do ar que eu respiro, de forma que o fato de eu falar o mesmo português que aquelas pessoas, não me fosse suficiente pra estabelecer um vínculo, porque é um outro povo, que mora num outro lugar, respira outra atmosfera e tem outros costumes.
E os mendigos? É surreal, bom leit@r, o mundo em que vive os mendigos. A gente passa por eles nas calçadas, evitando a colisão de planetas, muito, muito, muito mais distantes.
Enfim, como disse, outro dia, uma mulher discursando, na calçada, em frente ao Tribunal da Justiça, quando eu passava:
- São as forças! São as forças que queriam matar o meu marido! E as forças mataram o meu marido!

sexta-feira, abril 09, 2010


Saiu, hoje, no Jornal do Brasil, na coluna do Tarik de Sousa:

Cristina feito um peixe

Cada vez mais autoral, a harpista Cristina Braga abre o leque de parcerias em seu novo CD, Feito um Peixe (Biscoito Fino), que tem produção e arranjos de Ricardo Medeiros e coprodução de Kassin.
Assinam composições com ela Jorge Mautner (Vendaval, com Ricardo Medeiros), Moacyr Luz (Restos, com Maria Teresa Moreira), Luís Capucho (Peixe) e Arthur Verocai (Mandinga), que tem participação especial nas guitarras, ao lado do legionário Dado Villa-Lobos.
Outros convivas do disco são Marcos Suzano e David Kuckherman (percussão) e João Carlos Coutinho (piano e acordeon).
Os arranjos de Ricardo empregam trombones e trompetes, tradições da noite carioca, com clarinetas do choro e os naipes de cello e trompa de orquestra sinfônica. Já Kassin usa “mãos friccionadas” como efeito percussivo mais dobras de voz e distorções de pedal.
Eu estava na Niterói Swimm, quando o professor recebeu um telefonema avisando que estava tendo um arrastão na Moreira César. Aí, quando saí, todas as lojas fechadas, os policiais passando, o povo todo na rua, feito bicho sobressaltado pelo perigo.
Na Gavião Peixoto, a mesma coisa: o povo nas janelas dos apartamentos, pânico, como numa guerra.
Peguei o 30. Começou a chover...
O trânsito parado e o pessoal falando no celular pra saber notícia.
Tinha uma senhora linda, sentada adiante de mim.
Ela estava acompanhada de uma moça linda e de um garotinho que bagunçava dentro do ônibus. Não fosse estar apavorando no ônibus, o garotinho era lindo também.
O pessoal assustado, ficava mais assustado quando o garotinho dava porrada numa cadeira lá atrás, a cadeira dos deficientes.
Eu olhei pra ele com cara feia, mas não adiantou nada, ele continuou dando porrada na poltrona e apavorando.
Aos poucos fui compondo o quadro, através das notícias vinda dos celulares: arrastão no centro da cidade, assalto no supermercado do Largo do Marron, arrastão na Moreira Cèsar e tiroteio na Gavião Peixoto.
A moça que estava no meu lado disse que o pessoal que sobreviveu ao desabamento do morro, estava fazendo arrastão. E que o morro do Mata Cavalo também tinha descido, quer dizer, eu comecei a ver que era tudo mentira, como é que podia, bom leit@r?
A única verdade era o garotinho e o pânico.
Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

quinta-feira, abril 08, 2010

O meu bom leit@r sabe que durmo cedo, mas, ontem, quando me deitei, um helicóptero começou a sobrevoar meu vale e, aí, eu não conseguia dormir.
Eu queria reclamar, mas esses bichanos voadores, eu nem via como, e fiquei aflito.
Me levantei da cama e telefonei pra os meus parentes do Espírito Santo.
E, aí, fiquei falando e chorando com as lembranças.
Que coisa!

quarta-feira, abril 07, 2010

A chuva me pegou indo para a escola, Senhor Mavinho.
E quando vim pra casa, a cidade parada, aquela porrada de estudantes nos pontos de ônibus, o visual bonito dos guarda-chuvas abertos, muita cor na noite molhada, quando veio meu ônibus, chacoalhei dentro dele por mais de uma hora, num horário em que normalmente faria em 15 minutos.
Eu ficava numa euforia danada, quando tinha enchente nos córregos de minha infância. Apareciam cobras, aranhas caranguejeiras, os bichos todos, que moravam na beira do rio, vinham. E os adultos soltavam os bichos dos quintais, pra que os bichanos não morressem afogados. Eu ia nadar na rua, na água suja, entre os bichos, as galinhas adorando assustadas, os leitões, os cachorros numa alegria doida.
E eu mais ainda.
Dentro do ônibus eu também estava feliz com o sumiço repentino do cotidiano.
Mas aí, depois, quando voltou a luz e vi na televisão, me dei conta de que morreu um monte de gente...

segunda-feira, abril 05, 2010

Ontem, estivemos no cinema para ver o filme sobre o Chico Xavier.
As últimas cenas do filme são de um programa de televisão em que o próprio Chico Xavier dá uma entrevista. E ele diz uma coisa sobre sexo muito legal, que me lembrou um trecho do Ateneu, de Raul Pompéia.
O que ele diz é muito bonito e plástico e não vou saber reproduzir aqui para o meu silencioso leit@r, mas ele se pergunta, mais ou menos, se poderia algo que se dá através dos sentidos do corpo, do tato, da visão, audição, das qualidades gustativas e tal, poderia ser considerado algo sem luz, algo proveniente do mundo das trevas.
E aqui está o que disse Raul Pompéia, nO Ateneu:
“Arte, estética, estesia é a educação do instinto sexual.
A história do desenvolvimento humano nada mais é do que uma disciplina longa de sensações. A obra de arte e a manifestação do sentimento.
Dividindo-se as sensações em cinco espécies de sentidos, devem os sentimentos corresponder a cinco espécies e igualmente as obras de arte.”
E por aí vai...

domingo, abril 04, 2010

Eu tinha ido ao centro da cidade para me encontrar com D., mas aí, como levantei tarde e não olhei meus e-mails, não vi que o encontro tinha sido desmarcado e, no centro da cidade, já não tinha tempo de fazer meu almoço.
Para quem não conhece Nikity, o lado sul do centro é muito asseado e direitinho.
E o lado norte é sujo. É onde tem o Mercado de Peixe e, onde, no geral, encontramos as coisas mais baratas pra comprar.
Mas aí, acho que as piranhas migraram da praça do lado norte e vão praquela praça que tem perto do shopping, bom leit@r, por motivos óbvios.
Quando olhei pra piranha, que estava de mini-saia no banco embaixo da árvore frondosa, imediatamente, se desenhou na minha cabeça a geometria estratégica dos três homens à distância ligados entre si, através da piranha, e, aí, imaginei tudo o que se passava na cabeça dela e pensei que ela fosse escolher o negro que estava sentado à frente do chafariz: olhar paralisado nas pernas dela, alheio a todo o resto da praça, travessia usual de quem, como eu, vai ao centro da cidade.
Ligado a esse desenho, mas saindo um pouco de seu campo de força, num banco mais atrás, tinha um veado, com fones enfiados nos ouvidos, atento.
Eu passei batido.
Fui almoçar.
Quando voltei...

sábado, abril 03, 2010

Estou no Pedro.
Uma chuva passageira desabou sobre nosso vale. Mas acho que não desabou inteiramente, pois faz muito calor. Sinal de que vai cair novamente.
Tem muita luz lá fora, está ofuscante embaixo do céu nublado, como se a luz se irradiasse das folhas das árvores espessas.
Uma vizinha do Pedro, aproveitou para vir pedir uma muda de uma das plantas do quintal:
- É aquela ali, que tem essas florezinhas pequenas e cheirosas.
- Ah, sim, é um miosótis. Eu dou pra senhora- Pedro disse.
Dentro do quarto, onde estou, olhando para os blocos de luz que se movimentam em todas as direções do fundo do vale, vejo a mulher no portão, sorrindo agradecida por ganhar a muda.
- Tem que ser um galho mais jovem, que tenha força, para poder pegar mais fácil - e Pedro, no meio dos flocos de luz, arrancou o galho pra ela.
Da pequena árvore, de suas folhas, que se balançaram, caiu um monte de pingos de chuva sobre o Pedro.
Dentro da casa, onde estou, estou na penumbra.
Alguém da vizinhança ouve samba alto. Eu adoro ouvir a música que vem de longe. E, aí, Pedro deixa tudo quieto aqui. Muito bom...

sexta-feira, abril 02, 2010

Outro dia, a leitoa que vive a virar latas na minha rua, amanheceu morta na calçada, em frente ao prediozinho de três andares diante de minha casa.
E eu estava no ponto do 30, quando um outro bêbado, que agora mora em minha rua, parou para me contar como foi o resgate da bichana, feito pelo carro da prefeitura.
Na minha rua, em meu vale, como é de conhecimento do meu leit@r, morava outro bêbado, que amanheceu morto dentro do fusca abandonado na esquina. E apareceu outro, que vive aqui...
Acho que descem do morro: os bêbados, os leitões, os cavalos, os cachorros...

Não sei.

quinta-feira, abril 01, 2010

Ainda no dia do meu aniversário, Pedro, Simone e Minha Vizinha de Janela me esperavam na saída da escola para comemorarmos comendo comida japonesa na pracinha.
Pedro pediu uma barca, que é assim um navio de brinquedo à vela, enorme, com os pedaços de comida, os sushis, os sashimis, o bom leit@r haverá de saber melhor que eu, enfim, os molhos, os temperos todos que os japoneses usam...
E nós estávamos muito felizes em torno à embarcação, comendo, rindo, brincando, quando as baratinhas, assim, como marujos secretos, saídos de navio-cavalo colocado pelos gregos dentro de Tróia, começaram a invadir o entorno dos nacos de peixe cru, os nabos, os pepinos, tudo.
Simone saiu da mesa e começou a fazer escândalo em volta, cadê o garçon, que absurdo, as baratinhas, ninguém ri, ninguém come, queremos outra barca de comida, como é que pode, o que é isso e tal.
E o japonês veio profundamente sentido, havia mais de dez anos que ele trabalhava com comida e nunca antes havia acontecido, ele traria outro navio.
E veio. Era o meu presente, com os amigos em volta, duplicado!
Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!