sexta-feira, novembro 02, 2007

Mathilda escreveu:

"Queridos amigos, admiradores e/ou detratores:

Aqui vai o link para inolvidável e inefável momento de minha retumbante carreira de popstar, que durou exatamente 48 horas. Explico: fui convidada por meu amigo e parceiro, Zeca Baleiro, a participar de seu Baile. Rumei pra SP, no dia 15 último. Aportei no estúdio, para ensaio, com pontualidade britânica. Errei tudo, como de costume, mas o Zeca dizia: "tá muito bom, Mathilda. Tá ótimo." E eu: "sei bem, seu safado, que isto faz parte de um plano sórdido pra demolir minha promissora carreira de estrela da cena pop..." Mas ele jurava que não, que eu estava me saindo muito bem... Rossana, sua empresária e minha amiga também, já havia cantado a pedra de que eu tinha um quê de Lucille Ball, mas não podia supor que realmente iria encarnar Lucy Maguila Guilan, e Zeca, por sua vez, Ricky Ricardo, com tanta fidelidade.

Na terça-feira, dia 16, data de minha estréia triunfal, dirigi-me ao Carioca Club - o que, por si, só podia ser uma sacanagem comigo, né? - e passei som, ainda errando as três canções que iria interpretar: "Fiz esta canção", minha e do Baleiro; "Banho de lua", sucesso de Cely Campello, a quem queríamos homenagear, como a maior roqueira paulistana de todos os tempos, e "Mosca na sopa", que eu inventei que queria cantar, pra honrar a memória de meu antecessor, Raul Seixas, que nascera no mesmo dia 28 de junho em que fui dada à luz, e na mesma hora, mas 15 anos antes. Sentia-me uma predestinada, porque fui de carona até São José dos Campos, com uma amiga, e, em seguida, peguei um táxi até SP, com um, pasmem!, fã de Raulzito, que foi me contando a vida inteira do ídolo e cantarolando suas músicas. Portanto, estava convencida de que Raul me abençoava, eu, que, como ele, sou profeta do Apocalipse. Eis que, no dia 16, como dizia, vou pra casa da Rossana, tomo um banhozinho e volto ao clube, cheirozinha, pra dar a pinta que esperavam. Entretanto, ao entrar na Cardeal Arcoverde, onde o grande acontecimento se daria, me deparo com um engarrafamento às dez horas da noite e guardas desviando o trânsito da rua, que se via às escuras. Pra resumir: um ônibus, ao desviar de um bêbado, batera num poste, acabando com a energia elétrica justo do quarteirão onde eu iria me apresentar. Rossana liga: "Mathilda, o que você fez?" Eu jurei que não tinha nada a ver com aquilo, porque, sim, é verdade, sou capaz de causar desastres, tais como tirar uma rádio do ar, como fiz nos anos 80, ao esbarrar num botão, mas nada assim que pudesse deixar a Eletropaulo de fios desencapados em pé. Persuadi o guarda a me deixar adentrar a rua, sob o argumento de que eu iria cantar com o Zeca. O guarda abriu passagem para o meu táxi. Cheguei ao clube e encontrei o Zeca e os músicos todos, cabisbaixos. O roadie me deu uma sacaneada: "foi você, Mathilda. Foi você." Enfim, só nos restou afogar as mágoas em whisky com redbull. Nossa mãe! Saí dali, quicando, não sem antes querer convencer a tropa a abrir os portões do lugar ao público já ali aglomerado, para fazermos um show acústico a luz de velas, que, argumentei, seria avant garde pura, o primeiro da era do apagão energético... e só ouvi a indefectível sentença: "cala a boca, Mathilda!" Fomos todos, no breu, numa procissão de carros, terminar a noite em Vila Madalena. O show, por sua vez, transferido para a terça seguinte.

Não houve ensaio e eu cheguei pra passagem de som às cinco. Errei tudo, de cabo a rabo. Mas o Zeca tornou a dizer: "tá soando muito bem, Mathilda. Tá bem I love Lucy." E lá fomos nós pro camarim. Tinha, finalmente, um camarim só meu, com meu nome na porta e uma estrela. Achei o máximo! Estava me sentindo a própria Liza Minelli, à época de "Cabaré". E comecei a testar figurinos, regando tudo a algumas latinhas inocentes de cerveja, pois que Rossana já havia me lembrado os efeitos deletérios da combinação diabólica de scotch com testículos bovinos sobre meu organismo vulnerável. Quando finalmente acertei a indumentária, um traje que chamei de pomba gira cyber, faltava apenas uma música pra que eu, at last, fizesse minha rentrée nos palcos da Paulicéia. O Zeca cantou minha música, Mary Shelley, e, enquanto ele descrevia o "monstro" inventado por mim, entrei passando um desdorante debaixo das axilas e fazendo pose de fisioculturista. A platéia rindo. O Zeca olhou pra mim, com aquela cara de quem pergunta:"mas você já entrou?" Posto que o combinado era eu entrar na vinheta "Mathilda, Mathilda...", de Harry Belafonte, que os meninos e ele, tão gentilmente, haviam preparado para meu emocionante irromper . Mas tudo bem. Dancei ao som da vinheta, que emendou com "Fiz esta canção", que vocês podem ver, ao clicar abaixo, no link. Fiz tanta zona no local, que até o Zeca cantou por engano "eu sou a sopa que pousou na sua mosca..." Mas, ainda assim, foi uma noite de glória. Dei autógrafos aos fãs. Posei pra fotos. E ainda fui chamada de gostosa pelos menininhos de vinte anos. Meu ego ejaculou aquela noite, terminada, outrossim, no Genésio, com direito a um encontro breve com a genial Grace Gianukas, que foi chamado, pela Adriana, assessora de imprensa do Zeca, de "quando malucas se encontram..."

Uma fã do Zeca gravou parte deste mico e eu agora confirmo o que sempre suspeitei: nasci para o palco, mas não para cantar. E, sim, para bailar, porque, mesmo desafinando, atravessando, como vocês podem notar, não perdi o rebolado. Divirtam-se, pois, com este momento em que Zeca Baleiro e Mathilda Kóvak puseram Fred Astaire e Ginger Rogers, se não no chinelo, numa pantufinha acolchoada. A star is a bore. A starlet is born! Beijos, meus amores! Vocês são ma-ra-vi-lho-sos, ui!

2 comentários:

kali c. disse...

cadê o link, quero ver tb...
bjs,
kalic

Fábio Shiraga disse...

Também quero o link!

Belíssimo texto, queria ter visto. Uma vez eu caí, por engano, neste Carioca Club, um grupo de amigos se reuniria lá, mas me sacanearam e não disseram que seria uma noite de pagode.
Por lá na Cardeal ArcoVerde eu já vi Ceumar & Alice Ruiz tocando na KVA.

Eu amo "Fiz esta canção".

Abraços.