Vou reproduzir os comentários do Davino e do Hugo a respeito
do Mamãe me adora e Cinema Íris que acabei de lançar.
Fico bem emocionado, bom
leit@r.
Veja:
Leonardo Davino disse:
“As páginas 56-57 de seu livro "Mamãe me adora" me
fizeram lembrar a canção "Mãe", de Caetano Veloso. Reli ouvindo a
canção. Aliás, estou absorvido pelo livro. Parei tudo para lê-lo.
"Era para eu ser como mamãe (...) Entretanto, mesmo que tenha sido ela
minha mãe e que tenha me educado sozinha, sem um marido, não lhe aprendi as maneiras"
(Capucho).
"Eu canto, grito, corro, rio / e nunca chego a ti" (Veloso).”
Hugo Nogueira disse:
“Estou te devendo um comentário do seu disco, o show foi
muito lindo, adorei o menino que tocou guitarra, você nem apresentou, rs. Dá
para ver que ele conhece muito música e é muito talentoso, toca pra caramba. O
arranjador é mesmo sensacional, faz mágica com aquele teclado dele. Não
conhecia o Marcos Sacramento fiquei encantado, quero conhecer mais e mais, você tem razão, é mesmo um luxo ter a
participação dele no seu disco, ele é um excelente intérprete. A música que
mais gosto é a primeira do disco que foi a última do show, tem um verso, das
calças arriadas no Rex, que traça um itinerário dos cinemas pornôs do Rio: Cine
Orly-Cine Íris-Cine Rex. Daí você saiu do cinema com os livros "Rato"
e "Mamãe me adora", mas quando descreve o encontro com o negão no
banco da praça volta para esse universo da caça que você domina/representa tão
bem. Gosto da maneira como você costura descrições explícitas de atos sexuais
no seu texto. Essa falta de reserva, de pudor, aponta para o que está nas
entre-linhas que exige uma decodificação maior por parte do leitor,
principalmente no primeiro livro, eu sinto que você foi facilitando para os
leitores para quem o universo dos cinemas não é familiar, aquilo que sempre
houve de essencial no seu trabalho, na realidade não uma busca do sexo, mas por
amor, afeto, reconhecimento, identidade, esse amor que as mães não são capazes
de dar e por isso mesmo nos deixa confusos afinal para quem foi amado por suas
mães não há referência maior de amor. Gosto tanto do seu trabalho que sempre
tenho dificuldade de falar dele, mas agora com o curso de Letras estou ficando
mais solto, retomando a voz que eu tinha quando fiz o curso de história da arte
em 95, livre, sem tantas cobranças do supereu, menos exigente comigo mesmo e
capaz de aceitar meus rascunhos e não esperar uma escrita que seja ao mesmo
tempo automática e ideal. Mas, pode deixar que dessa vez vai. De mansinho.
Entrevistei e traduzi um texto sobre um artista americano Ron Athey que se
apresentou aqui no Rio, vejo um paralelo entre a obra dele e a sua, vai ser
publicado, depois te passo o link.”
E depois disse:
“querido Luís Capucho ouvindo o disco. Ele é tão diferente
do show em alguns sentidos. Eu realmente acho o começo sensacional, o
seuviolão está lindo, sua voz também está muito legal. É o que tem mais a sua
cara, essa coisa menestrel, assim meio Dylan, Reed, Cohen. Tem uma atmosfera
que me lembrou a da música do Pet Metheny com o Bowie, "This Is Not
America" do filme "The Falcon and the Snowman", é uma música singular no repertório do Bowie que conheço
bem, deve ser porque não é mesmo dele, mas do Metheny. É mais uma questão de
clima, meio "On the Road", violão debaixo do braço, pegando carona,
andarilho, fazendo música na rua. Agora a música em que dá para identificar o
puta trabalho do Paulo é a versão de "Cinema Íris" do disco. Lembro
daquela primeira versão super crua. A produção, o arranjo, a cama musical que
ele fez para sua música a valorizou demais. Ficou muito linda. Com certeza é
uma das mais completas, onde a letra e a música casaram melhor. Como "Lua
Singela" do primeiro disco. Claro que a música está a serviço da letra que
é uma das suas melhores, mas é como uma filmagem profissional, a qualidade do
som, da imagem, valoriza de tal forma o conjunto que você pode apreciar melhor
os detalhes e fica mesmo imbatível. Eu adoro o jogo que você faz nos versos:
"Homens com caras de bigodes Homens com caras cabeludos Homens com caras
travestidos Homens com caras de hospício Homens com caras de mal", quem é
quem, nesse corredor de espelhos em que ninguém se vê nem vê realmente ninguém.
Também é um retrato de uma fauna que está cada vez mais difícil de encontrar.
Essa diversidade pré-AIDS predominava. Não existiam tantos estereótipos,
tribos, imagens específicas distribuídas, atribuídas a classificações
geográficas. Era assim uma massa sem rosto, sem um corpo que se diluía. A
Vieira de Carvalho em SP era assim ainda no começo dos anos 80. Na boate Navy
em Fortaleza em meados dos anos 80 ainda era assim também e nas outras boates
de Fortaleza do período também a Flamingo, a Mansão Branca. Em SP ainda tem o
Bailão, o Caneca de Prata, remanescentes desse período, mas está mais para um
amalgama do que propriamente uma dissolução dionisíaca e de gozo. Sobraram
esses cinemas aqui no Rio, mas já no seu livro "Cinema Orly" você já
apontava que estava registrando descrevendo preservando uma cultura decadente
que vai desaparecendo. Esses homens da música são os mesmos espectros do livro.
Dinossauros, como você bem descreveu, à espera da extinção total, quando só
restaram os fósseis a serem desencavados e descobertos por gerações posteriores
de gays ou pós-gays que na realidade é o que temos agora. Mas você ainda é, e
eu também, o que um argentino de quem comprei o livro chama de "os últimos
homossexuais", ou ainda, homo-gays, aqueles com mais de 40 anos que
acompanharam essa transição de homossexuais para gays e levaram consigo essa
cultura homossexual já superada pela gay (e até por uma post-gay eu acredito).
"Eu quero ser sua mãe" é uma delícia, já tinha adorado ao vivo e acho
que ao vivo soa até melhor, esse seu talento para encontrar/descrever o
romântico de uma forma inusitada, como você chamou atenção naquele texto que
escreveram sobre você no Globo. A minha grande surpresa no disco, foi a versão
de "Para pegar", eu adorei no show, gosto muito dessa ideia de
"deixar a rua me levar" da única música boa da Ana Carolina (desde que
cantada pela Bethânia). A sua tem um sabor especial claro. Esse
"rolê" que você propõe nós gays conhecemos e vivemos de uma maneira
muito particular. O que eu achei realmente inusitado e inédito no seu trabalho
foi esse arranjo meio discoteca, dançante, que tem tudo a ver com a música
claro. Sugiro um remix babado para tocar nas pistas de dança. Bj”