domingo, dezembro 29, 2024

luís capucho - Formigueiro (viola do Cassiano Jesus)

O Cassiano Jesus é do Dinastia Zé, banda do ES com que toquei uma vez no Festival Velho Bandido, em Cachoeiro do Itapemirim e que, depois, num desdobramento dela, outra vez, na Lapa, aqui no Rio de Janeiro.

Moramos a quantos mil quilômetros de distância? ... então, faz quantos meses, lhe pedi que pusesse um som na Formigueiro e me mandei tocando, voz e violão, sentado aqui na sala. Se poderia colocar um som nela e me mandar de volta.

Durante esse tempo ele mandou versões de desenhos melódicos, versões com instrumentos diferentes e não é que estivessem ruins, mas ou ele ou eu, tínhamos algum porém, até quando me falou que estava com uma viola caipira.

E ficou essa versão.

Ele disse:

“Esse foi um processo longo e eu acho que ele se deu em cada detalhe, desde as conversas e entendimentos que a gente vai sacando daí, de muita escuta do bruto e das inúmeras versões dela que tem, de muita internalização: e ouvir, e ouvir, e ouvir, e depois de muito ouvir tentar achar no teclado uma base que foi internalizada. Depois disso transferi pra guitarra e já começou uma outra base mais simples, disso já fiz outras coisas e imaginei um samba; nisso eu passei pelo processo da caixinha de fósforo e enxuguei tudo, na minha cabeça existia ali um samba bem marginal mas que ficou inacabado quando o Luís falou da ideia que tem de suas músicas serem bem de viola caipira... A viola caipira é um instrumento que eu nunca toquei, peguei pra estudar um pouquinho o instrumento e tratei de procurar referências, tratei de ouvir Almir Sater, e lá pelas tantas após muito tempo consegui parar pra compôr uma linha pra acompanhar o Luís: fui tateando bem no escuro, estudando o que podia fazer e achando muito difícil porque além de não dominar bem a linguagem do instrumento também não conseguia achar algo que encaixasse, eu comecei ela na parte que muda da primeira pra segunda estrofe baseado no que havia feito no teclado nessa hora, daí fui achando caminhos mais palpáveis de coisas que já vim mais ou menos construindo na guitarra incrementando com algumas coisas mais peculiares da viola e intuindo bastante tanto em relação ao que já havia internalizado anteriormente quanto ao que foi surgindo ali com um instrumento inédito. Ficou isso aí.”

 

Formigueiro

( luís capucho)

 

           

Como todos sabem palavras existem não somente                            

Para iluminar as coisas, mas também

Pra dar movimento na cabeça, pra dar passagem no pensamento                       

Que desce ou sobe,

que vai a torto e a direito

Caminha, nada, pula, pulsa, cintila, brilha, enovela-se e sai

Pois saiba que sem nome o tempo não existe,                                              

as horas não voam nem se arrastam

Por isso, porque tenho nome é que no fundo eu não sou como uma árvore seca por                 

Dentro

Por isso é que eu não sou um troço morto, parado, preso                      

E ao contrário tenho como pássaros dentro

No fundo eu sou arejado e quase não termino

Para o formigueiro de palavras assim arder em mim e me alegrar

No fundo para me trazer espírito, pra me dar sentido

 

La la la la la la la la la la la la la

La la la la la la la la la la la la la

La la la la la la la la la la la la la

La la la la la la la la la la la la la

 

 

 

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