sábado, novembro 21, 2009

Minha vizinha de trás não tem feito mais festinhas noturnas, porque alguém do predio verde e rosa reclamou do barulho. Ela e o marido, agora, sobem o morro pra se distrair lá em cima e meu vale fica um silêncio delicioso para dormir.
Ontem, quando eu vinha subindo minha escada, ela, que estava estendendo roupa na frente da casa, perguntou:
- Oi, Luís, tudo bem?
- Vou indo...- e fui indo pra dentro de casa.
- Devagarinho, né, meu filho? – ela respondeu amorosa.
Aí, já dentro de casa, sentei na sala e li um pouco do Crime d’O Padre Amaro que Valfredo me deu e que quis ler por causa do cursinho que fiz de literatura portuguesa.
Ler os autores portugueses modernos fez me lembrar dos ótimos livros que foram feitos no século XIX e que eu, particularmente, curto mais, porque eram mais esmiuçados, assim, minuciosos, como se fossem um pano tecido de forma muito espessa e que a gente, ao ler, vê tudo, o pano inteiro com suas cores fortes, sem buracos, ta se ligando, silencioso leit@r?
Então, achei uma passagem que eu curti muito, porque, quando freqüentei a igreja Batista que minha mãezinha gostava de ir, assim que viemos morar aqui no vale, eu também tinha reparado haver nos cultos.
Eis a passagem:
“Quando descia para o seu quarto, à noite, ia sempre exaltado. Punha-se a ler os Cânticos a Jesus, tradução do francês publicada pela sociedade Escravas de Jesus. É uma obrazinha beata, escrita com um lirismo equívoco, quase torpe - que dá à oração a linguagem da luxúria: Jesus é invocado, reclamado com as sofreguidões balbuciantes d’uma concupiscência alucinada: “Oh! Vem, amado do meu coração, corpo adorável, minha alma impaciente quer-te! Amo-te com paixão e desespero! Abrasa-me! Queima-me! Vem! Esmaga-me! Possue-me!”
O Crime do Padre Amaro – Eça de Queiroz

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