Encontrei com minhas vizinhas na fila da quitanda, em frente ao que Pedro tem chamado de meu condomínio:
- E, aí, Luís, animado pro carnaval? – e eu fiquei sem saber o que responder, mas como numa fila de quitanda, nenhuma pergunta deve ficar sem resposta, peguei a primeira que me veio à cabeça e mandei:
- Não tenho mais energia pro carnaval!- ao que uma das vizinhas, e logo depois a outra, pelo mesmo motivo de dever, alimentou o assunto, mas tudo tão sem importância que eu nem mesmo sei o que mais dissemos uns aos outros.
Apenas ficou a impressão, que reparei nos olhares delas, de que somos bons vizinhos, de que nos curtimos e tal, cada qual no mundo de sua casa, ouvindo os barulhos excedentes dos mundos uns dos outros, que atravessam as paredes, e, tudo bem, nada agressivo, cada um na sua, como já falou a Rita Lee.
E, hoje, a gente, eu, Pedro e Simone, deve dar um bordejo pelo carnaval...
Ano passado, nessa época, nós, eu e Pedro, lutávamos com mamãe no hospital.
Claro, eu não tinha nenhuma noção de luta, porque eu estava inteiramente envolvido, muito entregue àquela situação de mamãe na cama alta do hospital e eu não tinha noção de nada, bom leit@r.
Nós estávamos, inteiramente, cegos. Não havia conflito, eu pensava que o hospital era a salvação de mamãe e que ela voltaria comigo pra casa.
Mas depois me pareceu, quando as lembranças terríveis ficavam voltando na minha cabeça, que tinha havido, sim, em mamãe, uma luta. Uma luta que eu não sabia precisar, na lembrança, em que direção ela se dava, porque por um lado tinha a força frágil dela que lutava para sair da situação em que foi ficando na engrenagem do hospital, e do outro lado tinha o seu corpo doente que era, talvez, justamente, o resultado da luta que ela travava para conseguir deixá-lo, ta se ligando, bom leit@r?
No que eu me lembrava, não sabia mais pensar que direção tinha tido, em sua doença, a luta. Se a luta, que se travava, era pra que ela ficasse boa ou se sua doença tinha sido uma luta que se travava em seu corpo para que ela morresse, para que ela conseguisse abandoná-lo. Eu fiquei pensando nisso...
E as atitudes que o hospital tomava eram por demais agressivas, era uma força contrária muito maior que as forças que mamãe tinha pra continuar aqui comigo e, aí, no domingo do carnaval do ano passado, ela foi embora...
Hospital é um troço sem noção, se liga...e a gente nem consegue brigar com ele, porque o hospital, com o seu peso e autoridade, silencia a gente.
Uma enfermeira, com quem eu tinha criado caso, porque demorou a vir atender mamãe numa das vezes em que fui buscá-la, disse, quando mamãe se foi:
- Nós não somos Deus...
domingo, fevereiro 14, 2010
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2 comentários:
capucho,
tudo bem?
"hospital silencia a gente": nunca havia parado para analisar isso. tens razão.
passei por momentos delicados quando minha mãe esteve internada durante quatro meses em um hospital de curitiba. situação complicada a dela, mas deu tudo certo no final.
reservei o teu livro rato para comprar no final do mês.
abs
"Deus" anda muito ocupado, não é mesmo?
Também não tenho energia para o carnaval, por isso aproveito o feriado para relaxar.
Abração, caboclo!
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