Depois que o Rafael e João e Pedro aprontaram o site pra mim,
para o lançamento do “Antigo” e que foi divulgado principalmente aqui no
sudeste, além dos amigos que já me conheciam e que mandaram e-mail
parabenizando a iniciativa, acabei fazendo contato com pessoas que nunca antes
haviam ouvido falar de mim e que foram tocadas pelo meu som. Por isso é que
conheci o poeta de Franca, Alexandre Magno Jardim Pimenta.
O Alexandre me disse fazer parte da organização do “Corredor
Cultural de Franca”, que no dia sete de abril estará realizando sua sétima
aparição.
- Estamos lutando aqui em Franca para a ativação de um
centro cultural num prédio histórico da cidade, este centro se denominaria
Salles Dounner, que foi um grande pintor e poeta que viveu e criou em nossa
cidade. Estaremos então realizando o Corredor na praça em frente ao prédio. Também
estaremos abarcando no dia a ditadura no brasil, por conta da semana do golpe,
queremos também instaurar um debate neste dia, na praça mesmo sobre questões
políticos-sociais no que tange ao local e ao âmbito global-atual...
Então, bom leit@r, irei fazer parte do “Corredor”.
Vou me apresentar tocando com músicos de Franca.
Estava dizendo ao Pedro que estou me especializando nisso,
porque foi assim da vez em que fui tocar em Salvador, na Austria, em Brasília...
Então, Pedro disse:
- Isso é muito contemporâneo, Luís. É a modernidade...
Daí, que não conheço, mas se abrem na minha imaginação
cidades enormes do interior, quase como cidades de um outro país.
E me faz lembrar também do Caetano Veloso, que há muito,
muito tempo atrás, tinha lançado um disco que ele dizia ser um disco
terapêutico.
E, bom leit@r, tinha uma música que falava dessas cidades do
interior de São paulo e do ABC, Americana, Araçatuba e tal.
Peguei um texto que o Alexandre postou no face, que explica
melhor o que eles estão fazendo:
“Agradecemos ao professor Cruz, por
este belo e preciso texto! Que com certeza fortalece nosso Movimento.
Salles Dounner.
(Por Luiz Cruz - no caderno Nossas Letras, sábado, 16
de março.)
Nunca fui versado em artes plásticas. Isso não me
impediu de apreciá-las e de visitar exposições de pintura e de desenhos, até de
alguns famosos, apesar do crônico isolamento cultural em que, quase sempre,
vivemos aqui. Em um momento de rompimento desse isolamento, visitei uma mostra
de desenhos, onde havia alguns do famoso
artista Lasar Segal. Isso aconteceu em sala da Praça Nove de Julho e, no final
da década de oitenta ou começo da década de noventa. Acredito que tal amostra
foi trabalho de Atalie Rodrigues Alves, em sua luta para disseminar um pouco de
arte e beleza em nossas sonolentas plagas.
Aquele evento foi fundamental em minha vida e em
minha visão sobre artes plásticas. Comparei, pela primeira vez, o trabalho de
um artista famoso e a produção de um homem desconhecido e com quem convivíamos:
Salles Dounner. Muita coisa se iluminou.
Desde aquele dia, algo me disse que Sales era mais
que um tipo exótico e que seus traços o alinhavam ao lado dos grandes artistas
do país, pelo menos nos desenhos a bico de pena. O homem era um vulcão, cujos
traços firmes, singulares, pungentes e de uma beleza inquietante, expressavam
uma visão de mundo e do ser humano, com uma lucidez espantosa.
Salles Dounner freqüentava o Grupo Veredas, então
em sua primeira fase, quando publicava poesias de sua lavra na revista Veredas,
publicação mensal do grupo. Em 1980, o grupo publicou o livro VEREDAS, uma
antologia com dezesseis desenhos de Salles, incluindo a capa.
Daí por diante, o artista desenhou capas para muitos
escritores e ilustrou, de forma magnífica, o primeiro livro de Regina Helena
Bastianini: Eu e o Mundo.
Houve um tempo em que Salles se dedicou à
pintura a óleo. Como seus desenhos se extraviassem com muita freqüência,
propus-lhe publicá-los em
livro. Acordamos que ele faria os desenhos, e eu os
ilustraria com textos meus ou de terceiros. Saiu a público, em 1992, o seu
livro ARTE NULA, contendo cinqüenta desenhos, a meu ver, extraordinários.
Artista, na mais completa acepção da palavra,
desapegado, Salles deixava que sua obra se espalhasse por mãos que nem sempre o
valorizavam condignamente.
Hoje, o que se sabe é que parte de seu acervo é
preservado por alguns fiéis admiradores e por sua esposa.
Inegavelmente, Salles é um dos mais importantes
artistas plásticos que aqui viveram. Produziu uma obra que, dentre temas
contundentes da época, trata de forma singular dos problemas sociais e
políticos, criticando, de forma aguda, o período da ditadura militar.
Por tudo isso, sua memória merece e deve ser cultivada
por quantos amam a arte e a cidade de Franca.
A Câmara Municipal objetivou isso, ao criar, em
1999, por iniciativa do então vereador Jaime Batista, o Centro Cultural Salles
Dounner, que deveria ser instalado em espaço da desativada Estação da Estrada
de Ferro Mogiana. Até hoje, o Centro não foi efetivado, sempre sob alegação de
falta de espaço físico.
Informações me chegam de que, atualmente, existe
espaço disponível e que o prédio anda à mercê do descaso do poder público.
Informações me dão conta também de um grupo de
jovens dispostos a injetar sangue novo no meio artístico da cidade. Seu projeto
inclui resgatar a memória de Salles Dounner e revitalizar espaços públicos, o
que inclui efetivar o projeto que criou o Espaço Cultural Salles Dounner.
Admirador da arte francana e dos homens que tão
solidamente a constroem, lanço nestas palavras meu apelo de apoio imediato à
iniciativa. A efetivação do Centro faria, ao menos postumamente, um pouco de
justiça a Salles, tão relegado em vida pelos que não distinguem o artista do
homem, frágil como todos os homens.
Franca, está aí, em plena e bela ebulição da
juventude, um grupo disposto ao trabalho, criador do Corredor Cultural, já em
atividade e que pode tirar da modorra oficial a arte francana e mobilizar
artistas e público na construção de suportes para que, quem sabe, a cidade
descubra que a Arte é muito maior que os cânones e as paredes oficiais.”