terça-feira, agosto 23, 2016

Hoje, 23 de agosto, é aniversário de meu coma, que me tornou essa outra versão de mim mesmo, sem que eu tivesse morrido. Eu tenho pensado nesse lance de morrer, eu tenho sentido, tenho a sensação de que eu estou de luto, sabe. Então, eu fico um tempo quieto, fico sem falar, porque eu não posso falar de um lance que não entendo.
Outro dia, ouvi alguém elogiando as pessoas que sabem do que dizem, do que fazem e tudo. Porque isso é que é razoável.
E tem aqueles textos loucos, em que a pessoa fica tentando falar do que ela não sabe, do que não tem razão, como a morte. E, aí, só na tentativa, escreve um texto enorme. Um lance sagrado, porque a morte, de que não se pode falar, é um lance sagrado, sem razão.
O meu coma foi uma morte, porque saí dele, mas saí numa outra pessoa, o bom leitor sabe. Já morri de várias maneiras, eu poderia enumerar contando essas maneiras aqui.

Têm muitas maneiras das pessoas morrerem, sem morrer... e tem os lutos... tudo muito difícil de falar. É engraçado mesmo.

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