Hoje, 23 de agosto, é aniversário de meu coma, que me tornou
essa outra versão de mim mesmo, sem que eu tivesse morrido. Eu tenho pensado
nesse lance de morrer, eu tenho sentido, tenho a sensação de que eu estou de
luto, sabe. Então, eu fico um tempo quieto, fico sem falar, porque eu não posso
falar de um lance que não entendo.
Outro dia, ouvi alguém elogiando as pessoas que sabem do que
dizem, do que fazem e tudo. Porque isso é que é razoável.
E tem aqueles textos loucos, em que a pessoa fica tentando
falar do que ela não sabe, do que não tem razão, como a morte. E, aí, só na
tentativa, escreve um texto enorme. Um lance sagrado, porque a morte, de que
não se pode falar, é um lance sagrado, sem razão.
O meu coma foi uma morte, porque saí dele, mas saí numa outra
pessoa, o bom leitor sabe. Já morri de várias maneiras, eu poderia enumerar
contando essas maneiras aqui.
Têm muitas maneiras das pessoas morrerem, sem morrer... e
tem os lutos... tudo muito difícil de falar. É engraçado mesmo.
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