sexta-feira, junho 30, 2017

       Isso de eu ter travado os músculos e o cérebro, tudo, e dormido por um mês, depois que acordei, fiquei me tratando por anos, pra ir sentindo, aos pouquinhos, que eu voltava ao normal.
      Daí, que estou muito, mas melhorado mesmo, melhorado demais, das sequelas de neurotoxoplasmose que me pegou o cérebro em 1996. De ínício, eu sentia minhas melhoras dia a dia. Depois, com o passar dos anos, as melhoras quase não foram percebidas. De tempos em tempos, eu me dava conta de um avanço. Por exemplo, hoje eu sei que não manco mais, mas não teve um dia em que pensei assim: não manco! O meu claudicar foi se dissolvendo pouco a pouco, sem que eu notasse. Então, hoje, embora meu lado esquerdo seja mais fraco e menos ágil, não manco mais.
       E assim com outras habilidades que fui recuperando: tocar violão, cantar, manuscrever, escrever, andar de bicicleta, tudo.
Mas tem uma coisa: se por um lado eu vou ganhando mais habilidade e sofisticação em meus movimentos, vou recuperando eles, por outro, eu sinto que o meu corpo como que automatizou esse jeito mais parado, de quem não consegue, por exemplo, correr.
       Então, ficaram marcados em mim hábitos de que não preciso mais, por exemplo: eu brinco com a minha instrutora-treinadora-orientadora que vou cair na piscina de forma expontânea, sem parar, sem pensar, entrar na piscina e pronto. E quando vou fazer isso de forma expontânea, acaba saindo um gesto escandaloso, o de entrar na piscina. Por que eu preciso aprender a entrar sem pensar na água, de manso e ágil, hábil e preciso, sem que isso me pareça um escândalo, ta ligado?
       Nadar me ajuda demais na recuparação de minha coordenação. Mas eu tava falando com o Pedro, que quero tentar também um outro esporte. Que me exija mais o equilíbrio e que me exija reações rápidas. Porque eu quero perder esse meu ar parado. De descer escada com concentração, de sentar nos bancos com muita atenção e de entrar na piscina com cuidado. Eu queria voltar a fazer tudo isso, cheio de devaneio na cabeça.

quinta-feira, junho 29, 2017

Desde que os meninos se foram e que fizemos aquela manada de shows no estouro da entrega da medalha José Cândido de Carvalho, que não pego no meu violão. Eu fico pensativo sobre isso, na verdade, estou sempre pensativo, assim, porque é o que me acontece, como quem não quer nada, me pego pensando...
Não é que eu fique pensando no fluxo das coisas. A verdade é que o meu pensamento é todo cortado, é cheio de resistências, de bloqueios, de falhas. Ou, como me disse uma vez o Pecador Confesso, é cheio de reticências.
Há muito tempo que me pego assim, talvez, desde sempre. E há alguns anos, fiz uma música sobre isso. Uma música que não sei mais tocar, mas que tenho uma gravação em algum lugar e penso um dia outra vez encontrá-la, porque não quero perdê-la.
Não é que eu tenha pensamentos grandiosos, não é isso. Fico pensando comigo mesmo, em mim mesmo, coisas desinteressantes, que não, interessantes pra mim mesmo, apenas, e tudo. Mas que me fazem lembrar uma das poucas frases de mamãe que ouvi durante a infância e que ficaram gravadas incólumes. Essa, especialmente, era assim. E ela disse na cozinha, fazendo comida:
- Se eu ficar pensando na minha vida, fico louca!
Daí, eu acho que sou louco e acho também que não quero e não digo tudo. Há os que acham que digo tudo aqui no Blog Azul, que não tenho segredos pra ele, no silêncio das entrelinhas. Não sei. Mas não fico tentando dizer o que não quero. Fico quieto. Por isso é que tenho vindo mais espaçado aqui. Embora queira voltar com assiduidade.
Voltando ao assunto, nós tínhamos uma amiga, que acabou se perdendo nas revoadas da direção da vida de cada um, que gostava de dizer que o meu caso era um caso oriental - ela dizia isso referindo-se ao jeito das religiões do oriente - e, fico pensando que, talvez, ela tivesse razão, porque eu me pego aqui no apezinho desejando muito que tudo se apague na minha cabeça.
Ontem, por exemplo, aproveitando o frio, fui me deitar às sete da noite. Como tinha remédio pra tomar às 11 horas, Pedro me telefonou, tomei o remédio e dormi outra vez, quer dizer, acordei agora há pouco, às sete da manhã, quando Pedro me telefonou para o próximo remédio.
Então, eu fico querendo que tudo se apague. E como não sou um eremita, no Himalaia, durmo.
Também não é, eu sei, que tudo vá se apagar com o inverno e com a minha facilidade de dormir. Por exemplo: quando tudo começou, a ideia era também fazer, além do lançamento do Diário da Piscina(É selo de língua – editora É/2017) aqui em Niterói, feito na Câmara Municipal, como os amigos viram, a ideia era fazer um lançamento do livro na cidade do Rio de Janeiro. Mas, aí, não rolou brecha que não as entrelinhas. Mas, agora em julho, como o Prática de Montação vai, outra vez, encenar a Cabeça de Porco, a gente vai aproveitar pra lançar o livro na cidade, na estreia.
Ficaremos muito felizes que você venha!




terça-feira, junho 27, 2017

Eu tou bem feliz, porque os amigos que não puderam assistir à Cabeça de Porco, quando ela foi encenada pela primeira vez, na Unirio, poderão assistir, agora, em julho. A peça junta meus livros e músicas e é a coisa mais linda de se ver, de um autor ter a alegria de poder ver. O modo como os atores dão o corpo pras estórias e o jeito como elas ficaram. É muita magia, poesia, bruxaria, feitiçaria, energia...he he he...

segunda-feira, junho 26, 2017

Ontem, eu, Diêgo Deleon, Lais Lage, Paulo Barbeto, e Pedro Paz ficamos falando um pouco sobre o Diário da Piscina. Nossa conversa caiu por várias vezes em grandes pedaços de silêncio, e eu me senti, nesses momentos, como se eu olhasse pra um grande lago, quer dizer, pra uma grande piscina funda.
Entre as outras coisas, a gente falava se o olhar do livro era triste ou não. Eu defendi que não era triste, mas no fundo de minha piscina, não tinha muita certeza disso. E também, a gente falou um pouco do tempo do livro, que é um assunto também comum, quando se quer falar de música. E, o tempo a que a gente se referia era o tempo da epígrafe do livro, um verso de música do Gilberto Gil ,“Falam tanto de uma nova era, quase esquecem do eterno é”. Um tempo que a gente entendeu, como um tempo que corre parado, quase como um tempo de pesadelo, mas que no livro, o recurso do coração das palavras, o recurso do coração da piscina e o recurso do nosso coração suaviza. Por isso a dúvida.

sábado, junho 24, 2017

Eu achava que a febre iria ter o ciclo da gripe e tava tranquilo, achando que eu iria melhorar com o passar dos dias. Mas, aí, minha Vizinha de Baixo disse que, se tinha febre, tinha infecção e precisava antibiótico. Por isso, ontem, estivemos na Fiocruz e, finalmente, estou medicado. Fui atendido no Pronto Atendimento e, ontem, quem estava no plantão, era a médica do Pedro. Uma menina de cabelos azuis muito atenta aos meus movimentos durante a consulta, eu gostei muito dela.
Nos dias de minhas consultas para monitoramento do meu HIV, e minha impressão é a de que isso é mais necessário por conta dos efeitos colatarais do coquetel de remédios, do que propriamente por conta da presença do vírus no meu sangue, as consultas também correm assim. E a médica que me atende, que é sempre a mesma médica e por isso é de meu costume dizer que ela é a minha médica, também muito atenta aos movimentos das consultas, fica anotando tudo no computador, fica anotando tudo ali no que os médicos chamam de sistema.
Então, tudo fica anotado ali para consulta dos que precisem ter alguma informação a meu respeito, a respeito de minhas queixas e imagino que, além delas, anotem os procedimetos que tomam para a minha melhora, os remédios que me indicam, tudo, acho que, no conjunto, é o que chamam de anamnese.
Não tenho acesso a essas anotações. São anotações que circulam entre eles. São informações sempre a partir do ponto de vista técnico que eles têm ali, daqueles minutos.
Então, porque aconteceu de em minha última consulta ter surgido um ponto em que discordei da doutora, ela disse que minhas consultas eram muito difíceis. Eu fiquei chocado com ela ter dito aquilo e perguntei se ela gostaria que eu trocasse de médico. Então, ela disse que não era apenas ela que achava minhas consultas difíceis e que se trocasse de médico, eu não teria a atenção que ela dispensa a mim e tudo.
Presumo que o sistema tenha se contaminado e que pra que eu me torne um paciente fácil, agora, vai ficar difícil!

Caramba!

terça-feira, junho 20, 2017

Eu vi uma notícia, compartilhada no facebook, sobre uma figurinista que fez um tratamento pra se livrar do uso de cocaína e, aí, no meio disso, um astrólogo lhe disse que ela teria de fazer muitas mudanças internas e que isso era raro acontecer nas pessoas e tudo. Eu fiquei intrigado com isso. Mais intrigado que com a notícia sobre a reabilitação fora do uso de cocaína. Por que mudanças internas todo mundo precisa fazer o tempo inteiro, pra ter vida social. Raro é não precisar fazer as mudanças, eu acho.

Fora isso, fiquei doente nesse final de semana e, hoje, começo a sentir algum ânimo de novo no corpo. E tenho deixado de vir todos os dias aqui. Mas quero voltar...

quinta-feira, junho 15, 2017

Ontem, encontrei aquela moça na rua. Eu e ela não somos amigos, mas quando começamos a nos encontrar foi mais ao menos há dez anos atrás. Então, quando, esporadicamente, nos encontramos na Mariz e Barros, paramos pra conversar, porque ela faz isso. Aí, eu paro também e ficamos falando. Ela diz sempre, que se lembra de mim, quando estávamos na Universidade. Diz que eu usava um bracelete alto no braço, embora eu nunca tenha usado... que eu me lembre...
E, ontem, nosso encontro foi na Moreira César. Ela veio se aproximando, enquanto dizia:
- Nossa, eu estou adorando te ver envelhecer! Como é que você tá? Eu estou ótima, tou gostando muito desse meu momento, tou mais tranquila... – e, aí, eu disse que não tava curtindo tanto, que eu achava dramático esse lance de ir envelhecendo. E contei dos problemas que tenho tido, por último. Mas, aí, continuei falando com ela da parte que era boa e tudo. Nós não tínhamos muito ideia do que queríamos dizer e, aí, fomos deixando brotar as palavras. Depois de um tempo, ela falou:
- Não é com todos que eu quero falar. Mas com você, eu gosto. Quando vejo conhecidos, normalmente, não paro. Mas olha quanta coisa a gente já falou... normalmente, não me interessa falar com as pessoas. E tenho preferido ficar olhando por minha janela, ficar olhando pro céu... – e, aí, ficamos ali conversando.
Moral da estória: ....

sexta-feira, junho 09, 2017

http://www.luiscapucho.com.br/imprensa
A gente, eu e Pedro, deu uma atualizada no site com novas coisas e, principalmente, incluímos o Diário da Piscina entre os livros, colocamos a Eu quero ser sua mãe do Bruno Cosentino num dos compartimentos, colocamos o programa do Shiraga e tudo o mais. É um site que vai se formando para sempre e é um grande prazer pra mim ter essa forma de mostrar o meu trabalho de arte, ideia do Rafael, quer dizer, um grande prazer pra mim que ele seja acessado em qualquer parte.

terça-feira, junho 06, 2017

Eu sinto que os pensamentos estão por aí, vêm por ondas, e quando a gente pensa eles, e eles vão embora, não ficam pra trás, porque vão ser pensados em outras cabeças que os captam. São nômades como as sombras coloridas que encapam as paisagens, que ora estão em minha rua, ora em Paquetá, ora em Marapé.
Aqui no apezinho acordei pensando comigo mesmo e os pensamentos vêm de muito longe, não do passado, mas do agora de hoje, como esse cachorro esganiçado gritando no morro, essa serra serrando que vem da rua de trás entrando por minha cabeça.
Então, pode haver de eu captar o mesmo pensamento que passou por aqui e que minha Vizinha de Baixo captou. Pode haver de os pensamentos que capto, serem atraídos pelas coisas que tenho sentido. E que estejamos todos dentro da mesma nuvem de pensamentos, a mesma nuvem, a mesma nuvem, a mesma nuvem.

Estamos presos.

domingo, junho 04, 2017

Diário da Piscina

A gente ta já há um tempo pra fazer esse videozinho chamando
para o Diário da Piscina. Na verdade, era pra ele ter aparecido ainda chamando
para aqueles shows que andei fazendo com o Vitor Wutzki e Tulio Freitas, quando
estiveram aqui, naquela semana da entrega da medalha José Cândido de Carvalho a
mim, por conta de minha obra literária. Iríamos usar esse vídeo para chamar pro
livro e pros shows. E eu tou feliz que, agora, o Pedro tirou um tempinho pra
fazer. Também, demos uma atualizada no site: