Amanhã, acordaremos outra vez na madrugada para irmos ao médico.
Estive no posto hoje para remarcar o angiologista, mas não deu. A mulher falou que eu remarcasse amanhã, já que estaríamos por lá.
Além da ferida na perna de mamãe que não cicatriza e das muitas idas ao médico sem que se resolva o caso, minha mãe está bem baqueada, pois sua irmã mais nova faleceu há poucos dias.
A morte é um troço doloroso e cruel, um horror verdadeiro e tenaz, mas a gente tem que se consolar com a bichana. Fazer o que, silencioso leit@r?
Ainda há pouco, estive esperando diante da porta da assistente social para que ela aprontasse o Cartão do Sus de mamãe.
Antes que eu entrasse, ela atendia a um rapazinho acabado de entrar para a universidade, para o curso de medicina. A porta estava aberta e pude ver o entusiasmo com que a assistente social atendia ao rapazinho, pude ver a linha que ela lhe dava e ele voava inocente a sua frente, fazia gestos curtos com as mãos enormes, de dedos muito compridos e lisos, voando, viajando. E a assistente alimentava mais o assunto interminável.
- Ah, é?- ela dizia. E ele desfiava mais um pouco de assunto, envolvido, absolutamente, na alegria de ter entrado na universidade. Ela dava linha, absorvida na masculinidade recente, que brotava no rapaz.
Quando o vento acabou e ele não pode mais se sustentar na linha que ela dava, saiu.
- “Demorôo...” – eu pensei.
Entrei sem vento algum e sem linha nenhuma, curto e grosso, mas educado.
Saí de lá com o Cartão do Sus de mamãe, que ela fez rapidíssimo no ar parado da sala.
Amanhã, vou precisar...
Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
quinta-feira, novembro 06, 2008
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