quarta-feira, outubro 10, 2012

Garbo - Bovary



                          “Discurso romântico com finalidade erótica"
 
Conheci o Garbo, quando ele estava na editora do Ronaldo Bastos, a Dubas, onde eu tinha minhas músicas editadas. Era uma época em que, com as sequelas bem acirradas, eu achava que não fosse mais conseguir compor, pois estava com minha motricidade detonada, por conta de meu coma mais ou menos recente. E não conseguia tocar e cantar para fazer músicas. Por isso, como alternativa, eu escrevia o meu primeiro livro, o Cinema Orly.
Naquela época, eu não conseguia andar direito e não saía de casa sozinho.
Tinha uma voz lenta de débil mental e, quando falava com o Garbo no telefone, sem nunca tê-lo visto pessoalmente, eu berrava com ele cheio de birra, porque além de meu estado lastimável de ficar em casa, as coisas, talvez por isso, com relação às músicas, não me parecessem andar, assim, às maravilhas.
Mas andavam, as coisas andam. Nós é que, às vezes, ficamos parados em nosso ponto de vista.
E se as coisas andam, como num caleidoscópio, de nosso ponto de vista vamos descobrindo outras perspectivas, como se víssemos de outro lugar e já não fôssemos mais os mesmos.
Assim, foi que dessa vez, o Garbo vem com seu CD “Discurso romântico com finalidade erótica” e diz:
- Você foi uma pessoa influente na minha maneira de compor. Depois que voltei pra BH, quis fazer uma coisa que me remetesse as minhas origens musicais mais antigas, e fui encontrar isso nas bandas de música/praça de minas.
Bem, o título do CD de Garbo pode ter algo a ver com o meu “Cinema Orly”, mas a música da qual ele o tirou remete-nos a escritor e livro mais estabelecidos, Madame Bovary, de Gustave Flaubert. O que um disco assim, com esse mote, quer ao buscar, como bases ritmicas e melódicas, as bandas de música/praça de Minas?
Essa pode ser a meu ver uma das pistas para audição do CD de Garbo.
Além dessa, muitas outras pistas podemos nos deixar tomar, pois que em letras e músicas e canto, os sentidos são infinitos.
Por exemplo, apenas deixar o disco tocar ao sabor do nosso momento de agora.
Sem previsão.
Fui.

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