As carinhas de um artista que se espraia
Por Rodrigo Contrera
Elas nos fitam com simplicidade e uma certa
estranheza e, por que não dizer, incredulidade. Sentimos que somos como que
devassados pelos olhares dessas "meninas" - como as chama o seu
criador, o escritor, compositor e cantor Luís Capucho -, pintadas em telas de
dimensões inusitadas - geralmente numa relação de cinco para um em comprimento
em relação à largura - e de forma quase primitiva - se isto já não tivesse
virado quase um clichê. As figuras das "meninas" - também chamadas
por Capucho de "minhas carinhas" - aparecem lado a lado, com cores de
blusas, cabelos e fundos contrastantes, sempre de muito bom gosto, e sua
simplicidade chega a surpreender. O que elas vêem? Em que medida elas se expõem?
Fato é que parecem corporificar seres reais, sem contudo chegarem a lembrar
ninguém. Há telas em que as carinhas principais, lado a lado, são acompanhadas
de carinhas secundárias, atrás aparentemente, preenchendo os buracos das outras
telas. Mas o estranhamento permanece. Elas nos encaram com olhares
perscrutadores e nunca com sorriso nos lábios - algumas até com olhares tristes
ou remetendo a passados que só elas mesmas podem conhecer. Como tudo que
Capucho faz, seja em literatura ou música, as "meninas" de suas telas
trazem à luz uma crueza primitiva que faz com que nos questionemos e quase não
consigamos enfrentar o seu olhar. É a marca do artista agora em telas de
pintura.
Rodrigo Contrera é jornalista e assessor de
imprensa
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