terça-feira, agosto 04, 2015

O Poema Maldito –Theo - foi roubado por ladrões da Tijuca, no domingo à noite.
Depois de nosso ensaio, o Theo me contou que a casa de uma sua amiga na Tijuca tinha sido invadida por um bandido na noite anterior e que ele iria pra lá, passar a noite com ela. E eu não tive o espírito de lhe pedir cuidado.
Eu sei que somos todos culpados de a cidade estar a cada dia mais difícil, de a nossa liberdade ir ficando a cada dia menor.
E no domingo mais cedo, o Theo tinha deixado um recado que se atrasaria um pouco, porque passaria numa emergência para tratar o seu pescoço, que estava doendo muito.
O relato que ele fez do que está sentindo é de deixar a gente muito triste e foi justamente no pescoço que lhe pegaram.
A gente vai substituir tudo.
Vejam:

“Fui assaltado ontem, na Tijuca, por dois caras a pé com uma garrafa quebrada na mão, ameaçando me cortar a garganta se eu não passasse a mochila e o celular. Perdi.
Na minha mochila tinha tudo que eu mais usava e precisava. Coisas de valor, sim, mas muito mais coisas insubstituíveis. Mas se coisas fossem apenas coisas, não faria nenhum sentido estar aqui reclamando. As coisas realizam desejos, suprem necessidades (criadas e reais), alimentam fetiches e sonhos. Ferramentas são braços que nós não temos. De qualquer forma não temos nem braço-ferramenta nem coisa nenhuma, perceba que a posse é uma coisa bem sútil, num dia eu tenho e no outro não tenho mais, num dia gozando das coisas e no outro lamentando por elas, sem ter feito qualquer coisa que claramente me levasse pra esse caminho de perder.
Perdi meu Ipad, que era meu instrumento pro show que ia fazer com o Luis. Isso é realmente triste e trágico... os resto é lamentação por coisas que tem volta. Perdi meu “1984” numa versão antiga, perdi todas as anotações do período passado da faculdade e sobre as músicas do Luis, perdi minha chave de casa e das bikes, minha garrafinha companheira, meu STP, minoxidil, cicatricure, os remédios pro meu pescoço fodido, uma cueca, perdi minhas luvas pra bike, meu celular e comidas que tinha acabado de comprar. Perdi todos os documentos - que nem eram tão meus assim. Perdi a força. Perdi um pouco de coragem. Perdi um pouco de amor pelo outro. Perdi a confiança nas pessoas que andam na rua à noite.
Depois de uma conversa esquizofrênica com a atendente de telemarketing na qual eu tive que simular que era irmão “da” titular da conta, consegui bloquear meu chip. Alguém sabe como faz pra bloquear o Ipad remotamente? Ou excluir os dados, ou sei lá. Se tiver como ele se auto-destruir, eu prefiro.
Tudo é violento. mundo bizarro e em barbárie.
Enfim, vou estar meio off-line por enquanto. Luís Capucho, pretendo ir no ensaio quarta.”

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