terça-feira, outubro 31, 2017

Ontem, comprei escova de dentes nova para mim e estou muito feliz com isso. Acho que é a coisa mais feliz que me aconteceu, na última semana. Desde pequeno, que objetos de plástico coloridos, me deixam feliz.
Era assim com as canecas verdes que ganhei e que pareciam louça, antes de pegar. Mas quando eu pegava, era plástico.
Ainda estou mais feliz, porque comprei duas.
Então, a segunda delas, a reserva, ali, guardada na gaveta, garante minha felicidade por um tempo maior que apenas o tempo de felicidade da primeira escova. E tenho duas felicidades, uma em uso e uma reservada para quando essa escova verde acabar.

Aí, terei a felicidade da escova vermelha.

segunda-feira, outubro 30, 2017

Chegou pra mim o livro Virginia Berlim (uma experiência), do Luiz Biajoni. É uma edição que comemora os dez anos do romance. E o Biajoni colocou umas músicas que acompanham a trama, o enredo, o clima da novela. Fiquei muito feliz de fazer uma delas. Tinha a ideia de encorpá-la de outros instrumentos, mas, aí, o Biajoni preferiu a música em carne crua, sem nada, só no meu violão e voz, gravados aqui no apezinho, muito rústica.
Ouvindo as músicas aqui www.biajoni.com.br na pasta do Virgínia Berlim, vocês terão ideia do que o livro inspira.
Vejam:

sexta-feira, outubro 27, 2017

Eu não tinha a noção de um dia como comecei a ter, agora. Porque, agora, que penso que vou morrer, um dia ficou uma folha que se despetala e quando eu era menino, eu era um menino eterno, de que os dias não caíam.
Estava para completar meus vinte anos, quando começaram a cair. Mas não caíam todos os dias, caíam vez ou outra e tudo, mas, agora, vejo que eles caem todos... e ficam comigo muito pouco. Estou ficando um cara cada vez mais sem dias e fui um menino eterno.
Como pode isso?

Que coisa!

segunda-feira, outubro 23, 2017

Há dez anos, talvez, me lembro de ter postado aqui no Blog Azul sobre o entupimento do tanque da casa de trás, onde morávamos, eu e mamãe. E de ter relacionado isso com o cansaço de suas pernas, além de a postagem ter me lembrado de uma amiga sua, que dizia os problemas de água numa casa, entupimentos, torneiras que pingam, vazamentos, umidade, tudo isso de a água na casa não ter um fluxo certo, ter a ver com os eguns. E que isso, de a água não ter fluxo certo na casa, era problema de reza e tudo.
Depois que mamãe partiu e que me mudei para o apezinho, achei que os problemas nos encanamentos das pias da cozinha e banheiro eram resultado das obras feitas pelo inquilino anterior, essas coisas que a gente pensa pra tentar entender o que está acontecendo e tudo. E que, logo, seria resolvido.
Só que não consegui resolver o escoamento da pia do banheiro e, depois de um monte de procedimentos, já vinha convivendo com a sua água empoçada para escovar os dentes, que era uma água que ficava escoando devagarinho e que me fez desenvolver uma tecnica para usá-la e, aí, isso era um caso que pairava no meu pensamento, uma sombra no meu espírito, uma nuvem negra, assim, um pio de coruja na janela, no telhado, à noite.
Então, quando o Tulio esteve aqui para os lançamentos do Diário da Piscina no Rio de Janeiro, ele cutucou no cano e conseguiu que a água escoasse melhor. Quando perguntei alegre o que ele tinha feito, ele disse que nada, apenas tinha jogado um pouco de água sanitária.
E outro dia eu troxe da vendinha aqui perto alguns litros de cloro e joguei.
Pronto! Adeus nuvem negra, adeus pio de coruja, adeus eguns.
Dois Diários da Piscina para Belém do Pará.


quarta-feira, outubro 11, 2017

Na espera do médico, ontem, uma moça que mora no Complexo do Alemão, disse que lá quem domina é o Comando. E que era necessário muito bandido para que houvesse o Comando. Eu ficava ouvindo pra ver se conseguia entender ao certo. Ela dizia que era recomendação médica que ela andasse todos os dias, mas ela parou com isso, por causa dos tiroteios, das balas perdidas. Ela tinha uma gargalhada meio pomba-gira e falava muito palavrão, pontuando todas as suas frases  de porras e caralhos. Ela conversava com um outro cara, que era morador de outra comunidade, num morro de Caxias, se não me engano. Ou Queimados. Eu não entendia nada ao certo, mas esse rapaz que conversava com ela entendia tudo e podiam conversar. Eu converso pouco com todos, porque não entendo as coisas ao certo. Eu queria ser onisciente e enxergar todos os lados, acima e abaixo, à frente e atrás, tudo ao mesmo tempo, no comando e no controle. Mas não tenho esse poder.

segunda-feira, outubro 09, 2017

Conversando ontem com o mais velho de meus primos, a gente falou um pouco desse lance de ir ficando mais velho. Nós, entre os primos, que nascemos nos anos 60, estamos todos reconfigurando um corpo, mais lento e tal. Em que as posições começam a se reajustar, a gente começa a prestar mais atenção nelas e tudo. Numa hora, um menininho que estava perto da gente posicionou sua bola para dar um chute. E quando distanciou um pouco dela para o impulso do chute, meu primo correu nela e começou a incitar o menininho para pegá-la de volta. Mas, aí, meu primo não conseguiu se manter com a bola. O meninho não se deixou driblar. Por isso é que tou falando que as posições começam a se reajustar. Porque também, na conversa que tivemos, tudo o que vivemos juntos e o tempo todo de distância, se reajustou no encontro. Ta tudo reconfigurado. Não tou conseguindo dizer direito. Mas é isso, acho que é só a sugestão de um assunto. Porque também, como ele disse, o amanhã não existe.

sexta-feira, outubro 06, 2017

Parei nessa frase do primeiro texto de “a alma encantadora das ruas’, livro do João do Rio:
“Nós, os homens nervosos, temos de quando em vez alucinações parciais da pele, dores fulgurantes, a sensação de um contato que não existe, a certeza de que chamam por nós.”
Achei estranha essa forma de se auto-referir:
“Nós, os homens nervosos,...”
Porque o que se diz depois, não é explicação para homens nervosos, mas pode explicar qualquer um.

quinta-feira, outubro 05, 2017

Já faz um tempo, eu ainda morava em Papucaia e nas vezes em que eu estava no quintal compondo, vinha um pavor, num ímpeto, quando eu sentia que tinha chegado numa música. Quando eu avistava ela e, aí, depois, era só seguir escavando, pra libertar a bichana. Eu ficava bem assustado e ainda fico, quando vejo que posso avistar, destacado do chão, o que fiz e, aí, eu vejo que estou ali, como num espelho.
Isso é uma continuação do que escrevi aqui no Blog Azul, ontem. Sem ser um adendo, porque isso que escrevo agora, tem um outro corpo.
Então, tem pensamento que me deixa bem assustado, por exemplo, isso, pensar que posso ser dois, quando me olho no espelho de uma música que fiz.
Só que, hoje, estávamos falando, eu e Vitor Wutzki, sobre a música Ave Nada. Que é uma música que a cada vez, se mostra de um jeito diferente. Assim, radicalmente diferente. A cada execução dela, seu corpo é outro.
Então, o Vitor tava me dizendo que quando tocamos ela no 171, de BH, ele tinha visto pichada no muro em frente a figura de um peixe-ave. E ele pensou se isso, não era um prenúncio de que fôssemos chegar à Ave Nada definitiva. E para ele, chegamos a uma forma para ela. Mas falta achar o seu miolo, um estofo. Ou, não. E pra sempre ela terá outro e outro recheio.
Essa é uma forma de não ter susto.
De não se ver no espelho.
De não fazer retrato.
Como no post de ontem, de o Diário da Piscina e tudo o mais, ser apenas uma abstração.
Não é ninguém ali.

Ave Nada.

quarta-feira, outubro 04, 2017

A gente se desdobra em dois, quando canta e quando escreve. Porque a gente, ao mesmo tempo canta e ouve, e ao mesmo tempo, escreve e lê. A gente fica dentro e a gente vê de fora. Como quem se olha no espelho, narcisista.
Isso é uma coisa que eu penso muitas vezes em parar de fazer.
E também muitas vezes eu penso que não irei mais ter o espelho pra olhar, que ele vai sumir. Porque daqui a um tempo tudo vai ter a configuração diferente, como a configuração de agora já é outra e já não é espelho do que eu era anos atrás. E o Diário da Piscina já não espelha minhas aulas de natação, hoje.
Eu disse pra o Carlos, um jornalista de BH, que eu tinha escrito um livro perene, quer dizer, um livro que será para sempre espelho.
Eu disse assim:
“Este é um livro que eu apresento como se tivesse sido todo escrito agora. Há uma tristeza no início dele porque a história, afinal, fala sobre recuperação. Porém, ao mesmo tempo que em que abordo isso, o título também traz uma alegria que vem da própria possibilidade de a cada dia você perceber que está melhorando. Então, eu não acho que esse seja um livro que olha para trás. Lendo as descrições da cidade, das pessoas e do modo como o personagem se relaciona com elas na piscina, eu noto que a narrativa trata do presente. Pode soar algo pretensioso, mas eu produzi uma história que é perene”, comenta Capucho.
A entrevista toda do Carlos está aqui:



É como amor...

segunda-feira, outubro 02, 2017

Ainda sobre o sentido dos sonhos e depois de ter visto o documentário sobre o ator pornô, Rocco, pensando no Doc-ficção que o Rafael Saar fez comigo. Sem que tenhamos 24 cm de dote, sem que tenhamos ganhado dinheiro algum e fora do império da heterossexulidade. Mas com a mesma retaguarda.
Ante-ontem, o Fred me perguntou como vai o filme.
- Eu não sei – eu disse.
Fora isso, recomecei a pensar nos meus lados direito e esquerdo, os lados de minha cabeça, de minha coluna, que podem se conectar mais do que tenho conseguido até agora.


domingo, outubro 01, 2017

Faz um tempo que não pego n’As Vizinhas de Trás pra pintar.
Empaquei na Santa Moema.
Também faz um tempo que não pego o violão.
Cortei meu indicador ao abrir, uma lata de doces.
Também tenho pensado no caminho Paebiru, porque estava lendo um dos contos do A Alma Encantadora das Ruas, do João do Rio.
Fora isso, hoje, vi essa foto de uma Vizinha que fiz em 2008.
Achei bonita, empinada, vistosa.
Vejam:


Um Cinema Orly para o Flamengo: