sexta-feira, abril 29, 2022

Paulo Ohana em Máquina de Escrever


 

Porque tem umas frases que se enrolam mais, as explicativas. Que são as que estão tentando iluminar, por exemplo, uma cena de banheiro. Linda Evangelista que fingia dormir na prateleira da estante, agarrou-se com uma unha no meu short, quando passei, para ir fazer xixi. Presa em meu short, sem conseguir soltar-se, arrastei-a pelas coisas na prateleira e ajudei-a a soltar-se. Ela seguiu comigo para o banheiro e ficou. Quando dei a descarga, saiu explodida de lá.


 

quinta-feira, abril 28, 2022

Lea Taragona em Virginia e eu


 

Na direção do centro, eu e Linda Evangelista, e a vespa-oleira, e o carro do ferro-velho, na rua da trás, propagando seu serviço de utilidade sob uma música nordestina, céu azul.


 

quarta-feira, abril 27, 2022

 

Continuo na busca de meu centro e isso tem a ver com a minha respiração que é por onde estou pendurado na vida. Enquanto isso, os ovos da vespa-oleira estão sendo chocados no centro do apezinho onde moro e imagino que ela já tenha morrido, porque não a vejo faz uns dois dias. É lindo demais que outras vespas-oleiras estejam sendo geradas com suas cores e movimentos de joias vivas pra sair por aí.



Alan Athayde em A Música do Sábado




 

domingo, abril 24, 2022

 

Encontrei meu centro e quando presto atenção estou fora dele. Passeando na rua e olhando para outros corpos como o meu, consigo ver que muitos também estão puxados pra fora de si, sem que se apercebam disso. Não consigo dar-me conta do momento em que me apareceu essa outra força que me leva de meu centro. É possível que tenha se firmado em minha carne, ainda nos meus tenros anos de bebê, de modo que não tenha me dado conta de como foi se tornando o meu lugar, minha direção, meu peso, minha postura, minha natureza falsa. Agora que encontrei o meu centro, estou propositadamente indo para ele. Naturalmente, não quero ir n’outra direção.

Natalia Miranda em Maluca



 

sábado, abril 23, 2022

Hoje, após ter feito meu café, quando saía da cozinha para a sala, dei de cara com a vespa-oleira, no corredor ao centro do apartamento, às voltas ainda com o reboco do casulo onde colocou seus ovos. Ela já está em seu segundo casulo, dois favos de barro, que ainda estão frescos e onde ela dá os retoques finais. Talvez, tenha lido que ela, perfeita, vive apenas duas semanas. Quando nos demos de frente, achei que ela fosse me picar, mas entreguei pra Deus e avancei meu caminho e, aí, ela deu uma volta levitando no ar da casa e seguiu o caminho dela também, foi para si. Eu continuo a ir para mim, tentando encontrar o meu lugar de atração, porque como disse há dois ou três dias atrás, algo me puxa para um outro centro, que não é o meu. Talvez, como me disse uma vez uma advinha, eu vá viver até aos 79, então, se a vespa tem ainda um ou dois dias, tenho 19 anos, imperfeitos.

Pedro filmou na semana passada um momento dela, em seu centro, no centro de minha casa.

Veja:      



 

quinta-feira, abril 21, 2022

 

Ainda continuo no meu corpo, dentro dele algo me puxa pra um centro que não é exatamente meu e me desequilibro. Estou tentando me ajeitar, tentando encontrar o lugar para onde seja correto ser puxado. Acho que encontrei e deixo-me puxar para o que considero certo, então, modifico o lugar de força e todo o resto se ajusta para isso. Os ossos estalam, as pelancas e cartilagens que juntam meu esqueleto doem. Estou indo para mim, um monte de carne e osso molhados de umidade que fede. A vespa que está colocando ovos nos favos de barro que constrói no centro do apezinho, passou, a caminho do trabalho de fazer a sua olaria, pelo cômodo onde estou . Ela está indo para si.

terça-feira, abril 19, 2022

Ontem, Rafael Saar mandou-me essa foto da edição do filme Peixe, sobre meu universo artístico, e no que ele está trabalhando, se não me engano, desde 2015. É muito incrível estar nesse processo do Rafael de fazer o filme, que é também meu, de ter meus livros e músicas revirados numa terceira coisa, assim, uma terceira camada, e isso me faz pensar desde as camadas mais frias do corpo e que recebem a luz, até às mais quentes, que a irradiam. Na ilha de edição, estou na piscina.

Veja:

Veja:

 

domingo, abril 17, 2022

Marcio Martins em Eu quero ser sua mãe


 

Ei-la!

Eu fico pensando no meu corpo, de como foi que mamãe me enxergava, desde bebê até quando comecei a pensar por mim e começou a se alargar o mundo, com o corpo dele de quarto de vidro, o corpo do mundo de aquário, habitado somente dos peixes grandes que eu via, que eu só via os peixes grandes no largo do mundo. Depois, tanta coisa foi acontecendo e tanta coisa ainda por acontecer na manhã fria de hoje, aqui, a vespa oleira entrando e saindo pelo basculante acima da janela do quarto onde fica o computador trazendo os torrõezinhos úmidos de fazer seu ninho no centro do apezinho, onde escolheu. 

Ei-la!


 

sábado, abril 16, 2022

Wanderson Andrade em Formigueiro



 

O apartamento onde moro tem no seu centro um corredor muito pequeno e que é passagem para a cozinha, o quarto, o banheiro, a sala. Por isso é o lugar da casa onde mais estou, pra lá e pra cá. E faz já quatro dias, esteve aqui no meu computador - onde mais estou parado - e que está no único cômodo da casa que não se liga ao corredorzinho do centro, um marimbondo lindíssimo, todo circulado com listras amarelíssimas, ficou aqui na minha frente levitando. Linda Evangelista veio toda empinada, imantada no bichinho, eu os espantei pra lá e passou.

No dia seguinte, vi o marimbondo com as listras amarelas levitando num apito que tenho pendurado no corredor, onde estou pra lá e pra cá. Peguei o óculos para ver e sem que eu tivesse notado nada desde o início, olhe onde ele colocou seu ovo!


 

quarta-feira, abril 13, 2022

Desde 1996 que venho me recuperando das sequelas deixadas pelo coma por neurotoxoplasmose. E sempre venho tendo muito ganho, de modo que não se percebe mais, se não se reparar bem. Mas de um tempo pra cá tenho sentido o meu corpo se escangalhando. Então tem dois movimentos, esse de o corpo ir se escangalhando e outro de o corpo ir ganhando com o esmaecer das sequelas. Mas também, tenho reparado que quando escangalha o corpo, no fim, é um ajuste que ele faz, de modo que escangalhar e ganhar ficam juntos no mesmo lugar e instante. Minha cabeça fica confusa, assim, entre o escangalho e o ajuste, entre o ganho com a diminuição das sequelas e os ossos e carne irem se estragando, os líquidos dentro de mim se metabolizarem com mais vagar. Outra vez, no fim, é isso aí, tensão no corpo, explosão, justamente, nau da loucura no mar das ideias.


 

segunda-feira, abril 11, 2022

 

Ontem, apresentamos no Teatro Popular de Niterói, como resultado do curso O Épico em Nós, a peça Intentona Teatral. Importante demais conviver com tanta gente, todas saídas do surto do isolamento pela covid-19 e explodidas nos treinos do teatro épico. Foi, literalmente, sair por todos os lados, sempre orientados por um time incrível de monitores e professores. Eu me sentia saindo por todos os lados e, ao mesmo tempo, foi louco, porque também me sentia sempre posto em cheque por cada um dos mais de 30 atores, imagina a minha loucura!



segunda-feira, abril 04, 2022

 Chorei muito quando vi o Seminário de Jerônimo Monteiro, perto do Natal de 2021, a caminho de uma visita a Alegre, onde mora o tio Luís. Já conhecia o Seminário, que estava com árvores crescidas e tinta velha nas paredes. Morei nele com mamãe durante o ano de 1970. Chorei gostoso, porque vivi 1970 outra vez!



Lizzy em O Camponês:


 

Vitor Wutzki em Atitudes Burras: