Eu estava em frente à saída do Campo São Bento esperando o sinal fechar para atravessar a rua e caminhar até à praia, onde eu pegaria o ônibus para Copacabana rumo ao show de Leila Maria.
Então, duas negrinhas peitudas, dessas negrinhas de shortinho vieram saindo do Campo atracadas pelos cabelos uma da outra, curvadas sobre elas próprias e a mais forte empurrava a nega de cabelos esticados para o meio da rua, onde os automóveis passavam alheios.
A negrinha que tava sendo empurrada reagiu com socos e conseguiu mudar a direção da briga e safar-se dos automóveis.
Eu comecei a ver com entusiasmo a luta, curtindo, quando uma mulher, do outro lado da rua, vendo a violência em que o lance se dava, gritou:
- Tira essa mulher daí, gente! – era a minha vizinha quem gritava do outro lado, então, um rapaz frágil e educado tentou, inutilmente, separar as duas e aí apareceram, vindos de dentro do Campo São Bento, dois policiais.
Cada policial pegou uma das moças e o que pegou a moça pela cintura, deu um safanão tão forte para separá-las, que a moça caiu deitada de barriga pra cima, enquanto a outra tentava fugir e fugiu das mãos do outro policial.
A moça caída palpitava ofegante no chão e foi nessa hora que se viu que ela estava toda rasgada e o sangue brotava de seu corpo, grosso e vermelho. O policial perguntava sem sentido:
- Você é menor? – e ela arfava ensangüentada – Você está toda cortada! – e ela quieta e, aí, o sinal fechou e fui em direção à praia.
Depois que vi a moça caída e sangrenta fiquei tão chocado e triste, eu perdi o entusiasmo que tinha me dado ver a luta e comecei a ter na cabeça a impressão da morte e, enquanto eu andava em direção à praia eu queria que aparecesse alguém conhecido, porque eu precisava falar do que eu tinha visto e da minha sensação terrível de morte, do horror em que eu me encontrava e tudo.
E, como por milagre, apareceu vindo na minha direção o N. e nem pude acreditar que eu iria falar com alguém do horror por que eu tinha passado e que me insistia fresco na memória. E sabe o que aconteceu, silencioso leit@r?
N. me sorriu, meio de longe e passou direto, me deixando de cara assustada seguir meu rumo.
Apenas disse sorrindo amarelo:
- Oi, Luís! – e se foi.
Que coisa!
sexta-feira, outubro 30, 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Sem palavras,Luis!
Isto que voce esceveu e' poesia pura.
Daqui a 100 anos os literarios punheteiros irao inserir a violencia urbana Brasileira no contexto da sua arte pura.
Postar um comentário