Uma borboleta enorme, azul por dentro, me faz companhia
desde ontem, na sala. Deixei, por um tempo, as janelas abertas pra que ela
fosse embora, mas pousou sobre uma das carinhas, uma que está sem roupa, com os
peitos de fora, e ficou.
Minha tela estaria completa, se a borboleta ficasse ali para
sempre.
Mas a borboleta é livre, é mortal e não posso querer fazer
com que ela adira à minha tela, bom leit@r.
Fora isso, ontem, no ônibus, quando passava à frente de um
prédio no Rio, vi uma estátua que me deixou pensativo, quer dizer, bom leit@r,
senti um troço estranho, uma angústia, como se a borboleta ficasse pra sempre
sobre minha carinha nua.
Da calçada, as pessoas caminhavam para a porta de entrada do
prédio.
A estátua, ao lado, fazia o mesmo, imitava o mesmo movimento
de entrada no prédio, ali na calçada, estátua de pedra, parada, imitando a
entrada das pessoas fluindo a seu lado pra dentro do edifício e ela lá, estão
se ligando?
Aquilo me angustiou e me lembrei da estátua do Carlos
Drummond sentada naquele banco de Copacabana, com as pessoas roubando-lhe os
óculos pra sempre.
Eu gosto das estátuas de antigamente.
As estátuas-monumento fora do nosso fluxo, no meio da praça,
sem a pretensão de entrada no mundo dos vivos, tão se ligando?
Fui.
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