Em 1968, quando nós morávamos na
casa de Dona Odaléa, havia uma televisão em sua sala e um vaso de louça bem
grande, onde estavam enfiadas, num leque, não sei quantas, mas eram muitas
penas de pavão. Não sei, eu era um menino de seis anos e não me interessava
saber o motivo de a televisão nunca ser ligada. Era pacífico que ela estivesse
lá, com sua tela um pouco esverdeada, fria, apagada, cintilante na sala, junto
às penas de pavão.
Por essa e por outras, fui um
menino sem assistir televisão. Então, quando eu tava na Dona Odaléa, tinha mais
fascínio pra mim as coisas dentro das gavetas, nos cômodos escuros, fechados,
de armários, cômodas, guarda-roupas. O que estava dentro da televisão não me
instigava.
Estou lembrando isso porque,
depois, já adulto, quando eu e mamãe começamos a ter a nossa sala, aí, era
televisão ligada pra ver as novelas e tudo. E, então, quando mamãe se foi, não
quis mais televisão. E quando vieram os Vizinhos de Trás com seus movimentos
cheios de barulhos, que, ao revés, me encheram de fascínio ruim, Pedro me
deixou uma televisão, que era pra que eu me distraísse deles. E isso não
adiantou muito, mas fiquei agradecido.
Faz duas semanas, essa minha
televisão, que como a de Dona Odaléa, nunca é ligada, foi levada para o Atelier
de Indumentária, em Piabetá. Fiquei feliz com o espaço vago que ela deixou na
sala, na prateleira, na estante. Comecei a pensar em também ter um toca-discos.