quarta-feira, dezembro 22, 2010

Filosofia

Imagine que você estivesse num ponto de observação, por exemplo, no sol e que pudesse assistir numa abertura de 360 graus ao orbitar da terra pelo espaço sideral e que no tempo completo do percurso dela no vazio celeste pudesse ouvir ininterruptamente todos os sons produzidos aqui e, por isso, sua visão fosse acompanhada de um zumbido, um sopro de som, um Ommmmmmmm...
E imagine que desse Ommmmmmm você pudesse recortar apenas os sons humanos e depois recortar apenas os sons de comunicação oral e, mesmo assim, do burburinho de palavras ditas em alemão, em japonês, em inglês, português, enfim, todas as línguas existentes no mundo, sobre a face da terra, você continuasse a ouvir, das vozes humanas, o Ommmmmmmm, como uma imensa onda sonora que se propagasse até você, fundindo-se a sua cabeça.
Imagine que ouvindo apenas esse recorte de sons humanos de comunicação oral, houvesse um minuto de silêncio sobre a terra e, consequentemente, um minuto sem que a onda se propagasse para a direção do cosmos e sem que chegasse até você.
E imagine que esse burburinho em uníssono de vozes, essa onda incompreensível de vozes que chegavam até você e que fizeram silêncio de um minuto, era apenas de palavras ditas em língua portuguesa. Você ouvia apenas Angola, Moçambique, Portugal, Brasil...
Faça, recordando, um recorte de um segundo da onda.
É ainda um zumbido incompreensível de falantes de língua portuguesa, um Ommmmmm.

Adentrando o segundo de recorte de onda, o vozerio é incompreensível, mas afundando-se nele e chegando muito, muito perto, quer dizer, recortando mais ainda o recorte em que você entrou dentro, você pôde distinguir um:
- Vai.
Afinal, isso que você identificou como a palavra “vai” dentro do recorte de vozerio tem uma superfície que pode ser traduzida nas letras “vai” que escrevo aqui no Blog Azul e, possivelmente, não tenha profundidade alguma, porque é apenas um comando, com um determinado senso de direção, qualquer um. É como aquela frase do Pedro, em festa:
- Pega o drink e vai!
Fui.


Um comentário:

blog do ciro disse...

Legal Luis, bem, não preciso dizer que você tem essa incrível facilidade de conduzir o leitor, tem o controle disso, que Nietzsche chama de conduzir a manada, espero que não seja para o matadouro. Uiii! O ruim dessa história, é que como o espaço é deliberadamente limitado, porque como vc diz: "se o texto ficar grande ninguém lê". O texto também é bem escrito, quer dizer, juntando todos esses atributos, o resultado é frustrante, porque deixa a gente com um gosto de "quero mais". Abraços