Antigamente, quando cozinhávamos no fogão à lenha, sempre tinha a raspa do arroz pra quem gostava e me lembrei disso, porque o meu arroz queimou, ontem. Um cozinheiro deve ficar na beira do fogão e mamãe tinha uma expressão pra isso, depois me lembro. É, porque fogão à lenha não há como baixar o fogo. E as panelas eram de ferro e tinha a panela de angu, que era uma panela diferente, bojuda, com pés, como tetas de bicho grávido. E, depois, tinha a rapa do angu, que era mais gostosa que o angu, na época, pra mim. Eu sempre me lembro da casa na beira do rio e que nas noites de verão, sem ventilador, dormia-se com a janela aberta, vendo as evoluções das sombras da chama da lamparina, na parede de barro, tocada pela brisa que descia pelo vale afora. É rapa ou raspa? Devem ser os dois, acho. E o ferro de passar roupa, cheio de brasas dentro? E a panela de torrar café? Na roça, tudo envelhece mais devagar, o tempo morre mais devagar, e na minha infância, na década de 60, o século XIX ainda estava vivo. E os nomes? Dona Pequenina, Dona Etelvina, Dona Carlota, Dona Lourdes, Dona Guilhermina, Seu Caiado, Seu Gastão, Seu Macedo, Seu Primo Batista, e os negros Medisse, Mulata, Goiaba, Batata, Abil. E as meninas brancas: Lili, Bebete, Lolóia...
domingo, abril 17, 2011
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2 comentários:
E as histórias de assombração?
É verdade, Xande. As assombrações espreitavam, era só dar a noite....
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