terça-feira, maio 31, 2011

O melhor do frio é quando não venta e a gente pode pegar sol.

Edil me deu de presente um filme pra ver: Só dez por cento é mentira.

É um documentário sobre o poeta do pantanal, Manoel de Barros. Então, num momento, fala-se da diferença entre o que seja inventado e o que seja mentira. A poesia do Manoel de Barros, segundo ele, é uma invenção e, por isso, é verdade.

Uma casa é uma invenção. Um avião. Um garfo.

Eis uma verdade:

6.

Depois de ter entrado para rã, para árvore, para pedra – meu avô começou a dar germínios.

Queria ter filhos com uma árvore.

Sonhava de pegar um casal de lobisomem para ir vender na cidade.

Meu avô ampliava a solidão.

No fim da tarde, nossa mãe aparecia nos fundos do quintal, o dia envelheceu(1), entrem pra dentro.

Um lagarto atravessou meu olho e entrou pro mato.

Se diz que o lagarto entrou nas folhas, que folhou.

(1) – Aí nossa mãe deu entidade pessoal ao dia. Ela deu ser ao dia. E ele envelheceu como um homem envelhece. Talvez fosse a maneira que a mãe encontrou para aumentar as pessoas daquele lugar que era lacuna de gente.

segunda-feira, maio 30, 2011

Ingressos Show Luís Capucho - Centro L Solar De Botafogo - 08 Junho 2011 - Rio de Janeiro | Sai do Sofá

Ingressos Show Luís Capucho - Centro L Solar De Botafogo - 08 Junho 2011 - Rio de Janeiro | Sai do Sofá

Estava vendo uma escritora palestrar no youtube, ontem, e minha primeira impressão de sua fisionomia me fez lembrar de um traço fisionômico que eu sempre reparava nas professoras que tinham sido diretoras e que, com o tempo, vi que aquele traço era comum nas mulheres que tivessem obtido uma posição de poder nas suas localidades e, aí, bom leit@r, na minha lembrança, essa impressão de poder aparecia nos cabelos da mulher, que se armava de um modo diferente, meio que um cabelo de madame, no modo como ela delineava a maquiagem no rosto, no jeito das roupas que escolhia para aparecer em público e fui me lembrando que já tinha visto essa máscara de poder também em algumas artistas, tipo, cantoras, atrizes e outras escritoras, que tive a oportunidade de ver de perto, que era uma máscara que se sobrepunha à real artista e tal.

Moral da estória: Isso me fez pensar na fragilidade de mamãe e de sua amiga, Dona Matilde.

domingo, maio 29, 2011

Luís Capucho - Solar de Botafogo - Rio de Janeiro | Guia de Cidades

Luís Capucho - Solar de Botafogo - Rio de Janeiro | Guia de Cidades

Não gosto de frio!

Minha campainha escangalhou e fui acordado por um rapazinho batendo à minha porta querendo que eu comprasse um jornalzinho, panfletagem do comunismo. Insistiu para que eu comprasse seu jornal, simpatissíssimo, mas com aquela fisionomia de et, que têm os evangélicos. Não comprei. Não compartilho de coisas as quais não entendo.

Mamãe não era assim, mesmo para não ler, compraria.

Mamãe, quando recebia telefonemas de instituições duvidosas, que pediam dinheiro para crianças com câncer, crianças abandonadas, com Aids e tudo, dizia pra passarem aqui que ela daria o dinheiro.

Não faço isso, mas desenvolvi uma culpa, supondo que mamãe possa ter razão em confiar nos que batem à nossa porta ou tocam o telefone com um pedido pronto, de memória.

Ela dizia:

- Se baterem à nossa porta, temos de abrir...

sábado, maio 28, 2011

O ensaio de ontem avançou bastante.

É que os meninos não conheciam minhas músicas, que são mesmo muito pouco conhecidas e ver que eles avançam sobre elas em tão pouco tempo é entusiasmador.

Mesmo assim, porque sou naturalmente ansioso, fiquei querendo mais e mais, e, novamente, tentei que na próxima semana tivéssemos dois ensaios e isso ficou reticente, quer dizer, para ser confirmado.

Eles foram chegando aos poucos e enquanto todos não chegassem, começamos a conversar e fiquei falando sobre como surgiam minhas músicas. Quiseram saber se era semelhante ao modo como surgiam as composições que fazem. É igual. Contei como surgiram “Pessoas são seres do mal”, “Eu quero ser sua mãe” e “Maluca”. E disse que cada uma dessas músicas surgiu de um modo diferente. A “Maluca” fiz a melodia primeiro, “Eu quero ser sua mãe”, a letra primeiro e “Pessoas são seres do mal”, surgiram letra e música juntas.

A “Maluca” tinha, no início, o nome de “Eu fiquei maluca”, mas, depois, os amigos referiam-se a ela como “Maluca” e ficou “Maluca”. Achava que era cheia de defeitos, eu enxergava os buracos entre um acorde e outro, entre uma frase melódica e outra, como retalhos que necessitassem serem costurados para que ela ficasse melhor construída. Mas à medida que os amigos foram curtindo sem que eu interferisse nas costuras, fui ficando cego para as imperfeições de modo que a “Maluca” deixou de ter buracos, porque eram buracos que somente eu via.

E comecei a entender que objetos estéticos são resultado de uma visão coletiva, se liga, generoso leit@r. É, assim, como um fluxo de água dos rios, um “Maria vai com as outras” he he he!

sexta-feira, maio 27, 2011

Chuva em Nikity!

As roupas que lavei e que pendurei ao sol de ontem, ficaram na chuva, não tirei.

Ouvindo a gravação que fizemos do último ensaio com a banda. Mais tarde, ensaio.

O show vai se formando...

quinta-feira, maio 26, 2011

Minha Vizinha de Janela, que pinta flores gigantes, está experimentando cores com textura áspera e me ofereci para buscar areia da praia para ela. Ontem, à noite, peguei o 30 e fui até Icaraí, pegar.

Voltei pra casa com uma sacolinha cheia de areia.

Vou aproveitar o dia bonito de sol de inverno pra lavar um pouco de roupa.

Preciso voltar a pintar minhas carinhas...


quarta-feira, maio 25, 2011

A consulta, ontem, não foi de todo má.

Quando abri a porta do consultório e olhei para a médica sentada atrás do computer dela, recebi sua piscadela. Ela estava acompanhada de dois jovens médicos residentes e foram eles, direcionados por ela, quem praticamente me examinaram. E a doutora, para mostrar serviço aos novos médicos, ou para que eles vivenciassem a experiência, fez pela enésima vez comigo uma anamnese e, aí, bom leit@r, respondi àquelas perguntas todas outra vez: quando começou a minha doença, como foi e tal e tal.

E me perguntaram se sempre fui homossexual.

Achei estranha a pergunta, por pensar que não exista alguém que, como Orlando tenha acordado um dia mulher, acorde, por sua vez, depois da dança das três graças, um dia, homossexual. Aí, os médicos começaram uma justificativa da pergunta e isso virou um papo na consulta.

Depois da longa entrevista, começaram a me olhar através dos últimos exames e os novos médicos deram uma balançada no velho e cansado estilo de consulta da doutora e, isso, achei legal.

Médicos são tradicionalmente arrogantes.

Por exemplo, não perguntam se o paciente deseja ser atendido por médicos a quem não conheçam. Quando o paciente entra no consultório os médicos residentes estão lá e pronto, te atendem à revelia de você.

De todo modo, foi bom...

Outra coisa: acreditam mais naquelas folhas de exames do que falam os pacientes.

Eu disse que minha dieta alimentar não é ruim, não como muito veneno.

Ela disse:

- Mas tá aqui, ó, seu colesterol e seu ácido úrico estão muito altos! - que coisa!

terça-feira, maio 24, 2011

Dia de ir ao médico.

Minha história com a médica não está legal, porque na última vez em que estive lá, após esperar pelo atendimento por quatro horas, ela disse que não poderia atender. Fiquei nervoso e discuti. Vou levar um livro pra ler, porque devo ficar a marcê dela, hoje.

Fui.

segunda-feira, maio 23, 2011

Tínhamos combinado de, ontem, se fizesse sol, sair pra tirar fotos, eu e Pedro. Pedro seria o fotógrafo e eu o fotografado. Pedro sugeriu as roupas que eu usaria para as fotos e o local seria, segundo ele, uma igrejinha secular no final da praia de São Francisco.

Quando acordei, estava sol, e o céu azul, feito aqueles céus de filmes da caatinga nordestina estava pipocado de nuvens brancas que de tempo a tempo colocava uma sombra sobre algum ponto da cidade, quer dizer, bom leit@r, mesmo que num momento tivéssemos na mira da tal nuvem, teríamos muito mais tempo de luz intensa e ofuscante, idealizada para as fotos.

Antes de sair de casa, o figurino que Pedro tinha pensado dançou.

Saímos.

E, no caminho para o local das fotos, fomos achando o domingo tão bonito, que fomos tirando as fotos, de modo que sequer conseguimos chegar à igrejinha de São Francisco. A igrejinha também dançou. Fizemos tudo na praia, que tanto eu quanto Pedro, adoramos, por que a gente é do interior, a gente não nasceu na beira do mar, embora nossos estados sejam estados do litoral. Nossas cidades natal são a meia hora do mar, tempo suficiente para que o mito da praia tenha se criado na nossa cabeça ou, sei lá, acho que a praia é mito até para quem nasce na sua beirada.

Nossa primeira parada foi Icaraí. Depois São Francisco.

Vejam algumas fotos:

sábado, maio 21, 2011

O ensaio, ontem, foi o melhor até agora.
Tentei manter dois ensaios por semana, mas não deu certo por conta dos horários dos rapazes. Meu argumento foi o de que por conta de ter havido dois ensaios nessa semana, havíamos melhorado tanto. Mas não deu...
Daí, o horário que deu pra todo mundo foi o de na próxima sexta, quer dizer, um ensaio apenas na semana que vem.
As músicas vão ficando cada vez mais definidas e quanto mais elas se definem, mais vão abrindo outras e maiores possibilidades de definição, porque vão se clareando, bons leit@res, e o seu clareamento vai indicando melhor um caminho de execução. Então, um detalhe que seja, modifica em absoluto a concepção inteira da música e a gente vai ajustando, acertando a bichana.
Por isso é que ensaiar e ensaiar é bom.
Por exemplo, músicos excelentes, que têm visão rápida das músicas e que as enxergam logo no primeiro dia, não gostam de ensaiar. Entretanto, mesmo um músico que tenha esse tipo de visão e que, de primeira, já faça algo genial para uma música no seu instrumento, o ganho possível nos ensaios é muito grande. Fica, digamos assim, transcendente...rs.
Afinal, música é pra isso.
O que me lembra a vez em que um entrevistador, diante de minha particularidade de ter, por um tempo, perdido a capacidade de compor, pediu que eu lhe mostrasse uma música que significasse superação. E, como nunca tive esse tema pra mim ou como estou pouco me importando com esse troço de superação, lhe disse que não tinha nenhuma música com tal significado. Mas, se eu tivesse pensado naquele dia, que músicas, todas elas, são objetos ou materiais de transcendência, teria lhe dito que todas as minhas músicas têm o sentido de superação, e escolheria aleatoriamente uma delas para exemplificação, porque, como todos sabem, músicas produzem como uma elevação interna, uma mudança de estado, um antes e um durante ela. E outro depois...

sexta-feira, maio 20, 2011

Ensaio mais tarde com os rapazes!

No dia em que começou a chover, terça-feira, decidi dar uma passada nas músicas sozinho, em casa.

Três delas são tocadas com o capodastro e naquele dia, quando coloquei o capo no braço do violão, achei estranho, tive a impressão de estar faltando uma peça, e, talvez, estivesse, não sei ao certo. Talvez, estivesse usando ele sem a peça e não tivesse me dado conta. Naquele dia, como hoje, teria um ensaio mais tarde com a banda e saí na chuva para comprar outro capodastro, chateado, porque eu adoro o capo que tenho, presente do Leo-poeta.

Estou ouvindo o disco de Reverendo T e os discípulos descrentes, um amigo roqueiro baiano.

Então, estou usando capodastro novo, mas vou dar um jeito de improvisar uma peça pro antigo e voltar a usá-lo, porque me acostumei.

E saí na chuva, com minha capa de sacola de plástico azul.

O disco do Reverendo T vai ficando melhor à medida que entramos nele.

Na primeira loja de instrumentos musicais que fui, não achei o que queria.

Saí na chuva pra outra loja, onde fui muito melhor tratado e onde tinha o capo que queria. Comprei.

De volta pra casa, com minha capa de sacola de plástico transparente azul, peguei o trinta.

Andar pelo centro da cidade me traz muita lembrança...

quinta-feira, maio 19, 2011

Ingressos para o show dia 8 de junho estão à venda AQUI

Com o frio a vontade é ficar na cama, enrolado às cobertas.

O afazer do dia começa nos cochilos sucessivos.

Situo mulheres que caminham no deserto.

A falta de sentido é bem melhor que o fluxo organizado do dia com o solzinho.

Tenho de reagir: vou nadar.

quarta-feira, maio 18, 2011

Muito frio em Nikity City!

Quando cheguei no estúdio, senti alguém me cutucando.

Me virei e era o Pedro.

Fomos até ao aquário e dentro muitos jovens, no frio incomum que fazia ontem, enquanto chovia, assistiam empolgadíssimos a um show de rock.

Vimos um pouco o clima dos meninos e meninas adolescentes no escuro, balançando-se ao som da música, e logo entramos na sala de ensaio.

A banda de rapazes já chegou no ponto em algumas das músicas do show. Outras estão chegando. Aos poucos vai se formando na cabeça a idéia do show como ele ficará, quando pronto.

É tenso, porque a impressão é de que não chegaremos, mas de repente, num momento, a música se apresenta cristalina e pronta. Algumas das músicas, já se constituíram como devem realmente ser logo no primeiro ensaio e a questão é apenas de tocar e tocar. Outras demoram mais.

O “Vai Querer?”, por exemplo, tive a impressão de que começou a se formar no ensaio de ontem. Enquanto “Céu”, no primeiro dia e já tocávamos de forma pronta.

Com relação à música, tudo parece ser muito subjetivo, ainda mais no nosso caso, que estamos todos muito envolvidos com o som, quer dizer, estamos muito dentro delas. Por isso é difícil ter noção de que estejam, digamos, maravilhosas ou terríveis.

É engraçado...

terça-feira, maio 17, 2011

Chuva!

Mais tarde, ensaio.

Assistimos ao filme dos Dzi croquete no fim de semana e adorei.

Fiquei pensativo sobre os assassinatos.

Que coisa!

segunda-feira, maio 16, 2011

Há duas semanas, quando estive na loja de produtos musicais para comprar cordas pro violão, o balconista disse:

- Eu levaria essas, que são muito boas – e me deu as cordas pra ver. Acreditei. Resultado: o mizão amanheceu hoje arrebentado.

Azar o meu.

domingo, maio 15, 2011

Contagem regressiva para o show dia 8 de junho, no Solar de Botafogo.

Como faço shows esporádicos é quase sempre como um primeiro show.

Será o primeiro com uma banda.

São os rapazes:

danilo salim – trompete

huan cardoso - teclado,violao
pedro richaid - bateria, percussao
pedro tambellini - guitarra,efeitos
ricardo richaid – baixo (direção musical)

Faremos músicas do disco “Lua Singela” e músicas do disco “Cinema Íris”.

Chamei Paulo Baiano para uma participação.

Como as músicas têm o meu tempo, porque, obviamente, fui eu quem as fiz, estamos adaptando-as para o tempo coletivo dos rapazes.

Por exemplo, o Baiano já conhece elas faz tempo e, no caso dele, quase não há adaptação. Com ele, as músicas são tocadas, praticamente, como vieram ao mundo.

Entretanto, o quê de novidade trazido pela banda é muito empolgante.

Ruth Castro é quem ta produzindo.

É!



sexta-feira, maio 13, 2011

Quando terminou o show da Angela Rorô, com a participação estupenda do Marcos Sacramento e fui falar com os artistas, aí, o Sacramento, depois de cumprimentar seus admiradores, me pegou pelo braço:

- Vem, quero te apresentar a Angela Rorô! – e abriram uma porta que dava pras coxias do teatro e do outro lado, o camarim, no escuro. Eu me sentia numa floresta escura, de mãos dadas com Sacramento e o camarim tava fechado. Éramos somente eu e ele na escuridão, tateando o espaço que tínhamos à frente.

Quando encontrei um banco, daqueles altos, que os artistas usam pra tocar violão, sentei. Uma mulher veio andando na escuridão e avisou que logo, logo, Angela Rorô sairia, pois ela estava se trocando. Sacramento saiu e fiquei sozinho alí no banco encostado à parede escura, de tocaia, esperando a Rorô.

Aí, a porta se abriu, jogando um facho de luz numa das coxias e ela saiu.

Eu disse:

- Oi, Ângela! Sacramento me deixou aqui para te conhecer de perto. Eu vim...- eu não tinha muito o que dizer - é um grande prazer te ver de perto, viu? – e a Ângela olhou iluminada no facho de luz, olhou sem ver, pro canto escuro de onde minha voz saía. Estava com um guardanapo na mão, colocou-o frente ao nariz com as duas mãos, abaixou a cabeça e assoou, olhou de novo, não viu nada e voltou pra dentro de onde saíra.

Nisso o Sacramento vinha chegando e gritou:

- Ângela! Ângela! Quero te apresentar o Luís Capucho! – e ela voltou a olhar pro escuro onde eu estava e, aí, silencioso leit@r, tudo era como a casa da bruxa na floresta escura, fazendo a engorda de João e Maria. Era aquela parte da história em que a bruxa pede a Joãozinho e Maria para mostrarem o dedinho. Então, dentro do facho de luz que saía da porta aberta do camarim, Ângela falou:

- Traga ele aqui! Quero vê-lo na luz! Quero saber se ele se parece com Edu Lobo, quando jovem! – e fui pra luz.

De perto, de frente pra Rorô, olhei dentro dos olhos dela, e vi que eram azuis. A pele era bonita ali na escuridão e a casinha de engorda de João e Maria na floresta desapareceu. Desapareceu a bruxa. Éramos nós e Ângela Rôro.

Ela, passando-me a mão no rosto, disse:

- É, ele parece com Edu Lobo! – e ficamos quietos.


quinta-feira, maio 12, 2011

Quando terminou o show da Angela Rorô, com a participação estupenda do Marcos Sacramento e fui falar com os artistas, aí, o Sacramento, depois de cumprimentar seus admiradores, me pegou pelo braço:

- Vem, quero te apresentar a Angela Rorô! – e abriram uma porta que dava pras coxias do teatro e do outro lado, o camarim, no escuro. Eu me sentia numa floresta escura, de mãos dadas com Sacramento e o camarim tava fechado. Éramos somente eu e ele na escuridão, tateando o espaço que tínhamos à frente.

Quando encontrei um banco, daqueles altos, que os artistas usam pra tocar violão, sentei. Uma mulher veio andando na escuridão e avisou que logo, logo, Angela Rorô sairia, pois ela estava se trocando. Sacramento saiu e fiquei sozinho alí no banco encostado à parede escura, de tocaia, esperando a Rorô.

Aí, a porta se abriu, jogando um facho de luz numa das coxias e ela saiu.

Eu disse:

- Oi, Ângela! Sacramento me deixou aqui para te conhecer de perto. Eu vim...- eu não tinha muito o que dizer - é um grande prazer te ver de perto, viu? – e a Ângela olhou iluminada no facho de luz, olhou sem ver, pro canto escuro de onde minha voz saía. Estava com um guardanapo na mão, colocou-o frente ao nariz com as duas mãos, abaixou a cabeça e assoou, olhou de novo, não viu nada e voltou pra dentro de onde saíra.

Nisso o Sacramento vinha chegando e gritou:

- Ângela! Ângela! Quero te apresentar o Luís Capucho! – e ela voltou a olhar pro escuro onde eu estava e, aí, silencioso leit@r, tudo era como a casa da bruxa na floresta escura, fazendo a engorda de João e Maria. Era aquela parte da história em que a bruxa pede a Joãozinho e Maria para mostrarem o dedinho. Então, dentro do facho de luz que saía da porta aberta do camarim, Ângela falou:

- Traga ele aqui! Quero vê-lo na luz! Quero saber se ele se parece com Edu Lobo, quando jovem! – e fui pra luz.

De perto, de frente pra Rorô, olhei dentro dos olhos dela, e vi que eram azuis. A pele era bonita ali na escuridão e a casinha de engorda de João e Maria na floresta desapareceu. Desapareceu a bruxa. Éramos nós e Ângela Rôro.

Ela, passando-me a mão no rosto, disse:

- É, ele parece com Edu Lobo! – e ficamos quietos.






terça-feira, maio 10, 2011

Já é terça-feira e não tinha vindo ao blog sem razão exata, porque hoje vim, sempre sem razão, sem razão exata, assim mesmo, e isso não é diferente dos outros dias a não ser pela chuva que ta caindo desde a madrugada e pela visita do Tarcísio, que veio me visitar com as lembranças muito especiais de Salvador.
Depois, na volta, eu e Pedro ficamos editando o “Vai Querer?”, que, como todos sabem, tornou-se um trabalho escolar:

Vai querer?

sexta-feira, maio 06, 2011

Manhã de sexta gostosa, de sol branco, ofuscando tudo, no que Pedro chama de meu condomínio e no que, às vezes, é minha comunidade.

A Vizinha de Baixo ouvindo música sertaneja romântica, minha Vizinha de Janela pintando flores gigantes...

Mais tarde, Tarcísio, blogueiro de Salvador (veja seu blog Aqui), que agenciou um show pra eu fazer, em outubro último, quando visitamos sua cidade, virá me visitar e conhecer Niterói.

Agora, que tenho dormido no quarto de mamãe, os trinados do trinca-ferro em baixo da janela da frente não me incomodam tanto, porque chegam pra mim já abafados pelos cômodos anterirores ao quarto de mamãe.

O trinca-ferro tem horário para gritar. Ele começa, quando clareia dia e termina por volta das 10 horas.

Fui.

quarta-feira, maio 04, 2011

O mercadinho em frente à minha casa ganhou uma fachada bonita, onde consta o nome do estabelecimento, “Mini-mercado do Emanoel”, entremeado por uma foto de carnes e por uma foto de legumes. Tudo recesdendo a novo e a frescor.

Pedro acha, e ele tem razão, que nosso bairro, do que nossa rua é a área de serviço – isso são palavras dele – está ficando muito chique e, em breve, já não conseguiremos morar por aqui, que ta se aburguesando.

Já faz um tempo venho reparando que a cidade ta ficando mais chique mesmo e Pedro esteve, há pouco, no lugar onde viveu a infância na cidade de São Paulo e voltou dizendo que lá tá tudo mudado, muito mais elegante do que foi.

Eu disse:

- Os políticos devem ter razão, quando dizem que o país ta ficando rico, tá tudo ganhando cara nova! – só, silencioso leit@r, que a gente não sente que esteja fazendo parte desse país que enriquece, ao contrário, sentimos que seremos lançados para fora dele, quer dizer, o país não é todo mundo, se liga na elegância!

Que coisa!

terça-feira, maio 03, 2011

O livro de Hélio publicou uma entrevista comigo: entrevista.

Além disso assino contrato com a Editora Vermelho Marinho do Tomaz Adour e o "Mamãe Me Adora" deverá inaugurar o selo Edições da Meia-noite.

Estou na torcida!

segunda-feira, maio 02, 2011

Assistimos ao filme brasileiro “A festa da menina morta”, ontem, no Pedro.

Adorei o filme: através da história surreal de uma bichinha histérica e líder espiritual de uma comunidade no Amazonas, a gente assiste ao jeito de ser dos pobres no Brasil.

Claro, o filme deve ser pra outro expectador, mais que isso. Mas essa foi a fatia que saboreei. Quando acabou o filme, Pedro fez pizza pra celebrar o mundo dos vivos!

Simone disse:

- A menina morta é a bichinha, Luís!

domingo, maio 01, 2011

Quando abri os olhos nessa manhã, sem saber que horas eram, sem sentir nada, nem ao menos saber que eu respirava, como um animal deve ser, decidi que eu já estava desperto o suficiente e saí da cama. Acendi um incenso. Fiz o chá, dessa vez, de erva-doce. E já não era mais um bicho.

Estive pensando que eu deva ser, assim, uma espécie de anti-artista, que desfaz no blog as bobagens que tendemos sempre a pensar sobre os artistas, como quando ontem ao ver um vídeo da Elis Regina, pensei: ela não tem medo algum.

E, aí, comecei a ganhar volume interior e a sentir que eu respirava.

Isso de ter volume interior faz parecer que eu seja um adolescente idiota, angustiado, que luta por algum nexo e o chá ficou pronto e fui pro banheiro e fiz cocô.

E fazendo cocô eu estava como um animal, sem abstrair, sem lembrar e sem decidir.

Não digo que animais não tenham que decidir, porque isso não é verdade. Mas sobre fazer cocô, estamos encurralados...

Eis o vídeo de Elis Regina que vi:

Elis Regina - TV Alemã - Parte VI