Quando terminou o show da Angela Rorô, com a participação estupenda do Marcos Sacramento e fui falar com os artistas, aí, o Sacramento, depois de cumprimentar seus admiradores, me pegou pelo braço:
- Vem, quero te apresentar a Angela Rorô! – e abriram uma porta que dava pras coxias do teatro e do outro lado, o camarim, no escuro. Eu me sentia numa floresta escura, de mãos dadas com Sacramento e o camarim tava fechado. Éramos somente eu e ele na escuridão, tateando o espaço que tínhamos à frente.
Quando encontrei um banco, daqueles altos, que os artistas usam pra tocar violão, sentei. Uma mulher veio andando na escuridão e avisou que logo, logo, Angela Rorô sairia, pois ela estava se trocando. Sacramento saiu e fiquei sozinho alí no banco encostado à parede escura, de tocaia, esperando a Rorô.
Aí, a porta se abriu, jogando um facho de luz numa das coxias e ela saiu.
Eu disse:
- Oi, Ângela! Sacramento me deixou aqui para te conhecer de perto. Eu vim...- eu não tinha muito o que dizer - é um grande prazer te ver de perto, viu? – e a Ângela olhou iluminada no facho de luz, olhou sem ver, pro canto escuro de onde minha voz saía. Estava com um guardanapo na mão, colocou-o frente ao nariz com as duas mãos, abaixou a cabeça e assoou, olhou de novo, não viu nada e voltou pra dentro de onde saíra.
Nisso o Sacramento vinha chegando e gritou:
- Ângela! Ângela! Quero te apresentar o Luís Capucho! – e ela voltou a olhar pro escuro onde eu estava e, aí, silencioso leit@r, tudo era como a casa da bruxa na floresta escura, fazendo a engorda de João e Maria. Era aquela parte da história em que a bruxa pede a Joãozinho e Maria para mostrarem o dedinho. Então, dentro do facho de luz que saía da porta aberta do camarim, Ângela falou:
- Traga ele aqui! Quero vê-lo na luz! Quero saber se ele se parece com Edu Lobo, quando jovem! – e fui pra luz.
De perto, de frente pra Rorô, olhei dentro dos olhos dela, e vi que eram azuis. A pele era bonita ali na escuridão e a casinha de engorda de João e Maria na floresta desapareceu. Desapareceu a bruxa. Éramos nós e Ângela Rôro.
Ela, passando-me a mão no rosto, disse:
- É, ele parece com Edu Lobo! – e ficamos quietos.