Chegaram pra mim mais quatro dos Cadernos de Música, dos quais o número 4 – recebi desta vez os números 10, 11, 12, 13 - foi um presente pra mim, quer dizer, sou o seu assunto. Eu estava me lembrando nesta semana da vez em que morei com a tia Maria e com meus primos no Caiçara, em Cachoeiro do Itapemirim. Nós morávamos em nove pessoas, entre adultos e crianças, numa casa de um cômodo, um barraco de pau-a-pique, sem móvel algum, um fogão a lenha do lado de fora da casa – era uma casa – e me lembro de muitas coisas dessa época, mas o que eu estava me lembrando era o modo como eu olhava para a situação, o modo louquíssimo como eu olhava pra tudo aquilo, quer dizer, sem ver. Porque eu estava posicionado num lugar de fantasia, que era o olho de mamãe na minha vida. Então, eu estava ali na minha tia com meus primos, mas estava separado daquele lugar, porque eu tinha mamãe, que era de todos os meus primos e que era de minha tia. Mas a minha posição era mais poderosa, se liga, então, o poder que vinha de mamãe me subia na cabeça e eu não via mais nada. Porque minha mãe sempre me tinha numa posição protegida e eu não via mais nada. E era mesmo uma época de loucura cega, ninguém via aquilo, estávamos abandonados ali, na época do Pra Frente Brasil!
Então, essas lembranças têm a ver com ser o assunto, pra mim, de um dos Cadernos de Música em par com o Tom Zé, porque é a mesmo posição cega essa a minha de ser artista. Eu sempre falo assim nas vezes em que penso nisso, dessa posição cega e de fantasia em que estou, quer dizer, todas as coisas estão rodeadas de outros mundos possíveis.
Essa foto é da Ruth:
Nenhum comentário:
Postar um comentário