"A curta novela “Cinema Orly” é um exemplo excepciomal de
escrita no limite. A realidade vivida, recordada e desejada até à dor, é a
principal matéria com que se construiu.
O leitor deve levar em conta alguns dados biográficos de
Luís Capucho. Reputado autor de canções gravadas por ele mesmo e por diferentes
intérpretes brasileiros, várias delas aparecem citadas ao longo de seu texto,
como contraponto poético a uma trama prosaica. A escrita de Capucho é, em certo
sentido, a de um músico compositor que debuta na literatura. Seu texto tem a
cadência repetitiva, agressiva, do rock; também a da sucessão compulsiva de
cenas de sexo dos filmes pornôs. A tradução quis manter essa característica em
luta com o impulso de embelezar e aclarar o significado das palavras de Capucho,
sua pontuação e sua sintaxe não ortodoxa.
Capucho iniciou a escritura física de “Cinema Orly” como
terapia para uma incoordenação motora que o impedia de compor, entre outras
coisas. Em certo momento do primeiro capítulo, o narrador se refere “ao fato de
acabar mancando, impossibilitado de tocar violão e com a voz do homem
elefante.” Esse era o estado em que o autor se encontrava naquele momento,
resultado de uma paralisia parcial que sofreu depois de passar um mês em coma
por complicações derivadas da AIDS.
Pode-se dizer que a novela foi escrita no fio entre a vida e
a morte e que daí vem seu tom elegíaco, seu desinteresse por guardar as formas,
a mescla de melancolia e orgulho que corre por suas páginas.
Na atualidade, o autor encontra-se recuperado de suas
doenças, tem dois discos gravados e outras duas novelas publicadas.
Cinema Orly é a fascinante recreação de um pequeno universo
marginal. Em certos casos, como tradutor, preferi manter o sabor, o som, as
sugestões dos vocábulos originais, em lugar de traduzi-los para seus
equivalentes em espanhol. É um modo de render homenagem ao submundo do Orly e
seus habitantes. Meu desejo é o de acompanhar o leitor em sua descida ao
Paraíso, nesta gozosa temporada no Inferno que Luís Capucho reconstruiu para
nós com todo luxo de detalhes.
José Maria Martinez, Tive.
Betxi (Castellon)"
Quem quiser ir para o livro, veja aqui:
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