quarta-feira, janeiro 30, 2013

Fiz uma tradução do prefácio do Tive para a edição espanhola do Cinema Orly:




"A curta novela “Cinema Orly” é um exemplo excepciomal de escrita no limite. A realidade vivida, recordada e desejada até à dor, é a principal matéria com que se construiu.

O leitor deve levar em conta alguns dados biográficos de Luís Capucho. Reputado autor de canções gravadas por ele mesmo e por diferentes intérpretes brasileiros, várias delas aparecem citadas ao longo de seu texto, como contraponto poético a uma trama prosaica. A escrita de Capucho é, em certo sentido, a de um músico compositor que debuta na literatura. Seu texto tem a cadência repetitiva, agressiva, do rock; também a da sucessão compulsiva de cenas de sexo dos filmes pornôs. A tradução quis manter essa característica em luta com o impulso de embelezar e aclarar o significado das palavras de Capucho, sua pontuação e sua sintaxe não ortodoxa.

Capucho iniciou a escritura física de “Cinema Orly” como terapia para uma incoordenação motora que o impedia de compor, entre outras coisas. Em certo momento do primeiro capítulo, o narrador se refere “ao fato de acabar mancando, impossibilitado de tocar violão e com a voz do homem elefante.” Esse era o estado em que o autor se encontrava naquele momento, resultado de uma paralisia parcial que sofreu depois de passar um mês em coma por complicações derivadas da AIDS.

Pode-se dizer que a novela foi escrita no fio entre a vida e a morte e que daí vem seu tom elegíaco, seu desinteresse por guardar as formas, a mescla de melancolia e orgulho que corre por suas páginas.

Na atualidade, o autor encontra-se recuperado de suas doenças, tem dois discos gravados e outras duas novelas publicadas.

Cinema Orly é a fascinante recreação de um pequeno universo marginal. Em certos casos, como tradutor, preferi manter o sabor, o som, as sugestões dos vocábulos originais, em lugar de traduzi-los para seus equivalentes em espanhol. É um modo de render homenagem ao submundo do Orly e seus habitantes. Meu desejo é o de acompanhar o leitor em sua descida ao Paraíso, nesta gozosa temporada no Inferno que Luís Capucho reconstruiu para nós com todo luxo de detalhes.





José Maria Martinez, Tive.

Betxi (Castellon)"

Nenhum comentário: