Com o calor de janeiro, tenho dormido na sala. Como na casa
de trás, o verão fica insuportável em todo lugar e a gente tem que se ajeitar
no cômodo que ficou mais fresco. Tenho prestado atenção, se não fizer as coisas
de que lembro fazer, no momento em que lembro, não faço, porque logo esqueço.
Sim, eu não me esqueço de ir dormir na sala, porque o calor do quarto não me
deixa dormir.
Moral da estória: só me esqueço das coisas que não têm valor
imediato e isso sempre foi assim. Então, eu tenho um monte de coisas guardadas
em minha casa, dentro de latinhas, de caixas, dos móveis, que ficam lá
esquecidas. Se eu vou mexer ali, detono o valor, as lembranças que saem delas e
tal.
Então, Pedro deu-me um livro do Rubem Braga que eu pedi,
porque nunca eu tinha lido Rubem Braga. O livro se chama Crônicas do Espírito
Santo. E a maioria das crônicas são lembranças de Cachoeiro. Para não esquecer,
vou perguntar logo, quando lembro:
- Lourdes, Cachoeiro ficou mais quente ou o corpo de gente, avançado
nos anos, é que sente mais o calor?
Voltando às Crônicas de Rubem Braga, em Cachoeiro, elas
detonaram lembranças de que ouvi sempre falar, mas nada de meu mundo, porque os
mundos são muitos, o bom leit@r sabe, e o meu mundo não tinha o Pedro Palácios,
não tinha Pitangueiras em Marataízes, nem monos cercados pelo rio Doce, ou o
cajueiro que morreu com cuidado, caindo de lado, pra não machucar a casa.
Um cajueiro que caísse, no meu mundo, não precisaria ter
cuidado. Podia cair e morrer muito à vontade, embora um coronel da família
tenha avisado:
- Com pobre a gente tem de ser muito delicado, meu filho.
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