"O homem sem subtexto
Há alguns
anos, eu resolvi ir pela primeira vez a um show do Catarse na Casa das
Caldeiras, perto da Barra Funda. Fui ver um show de um amigo – Fepa – e algo me
informar sobre a cena cultural paulistana e brasileira alternativa (será que
era alternativa mesmo? Não sei).
Lá
estando, sozinho como sempre, aproveitei para ver os livros e cds disponíveis
numa pequena banca do lado direito da área que viria a ser o palco (um dos
palcos). Foi quando vi um pequeno livro, aparentemente inofensivo, de cor
alaranjada, que aproveitei para folhear. Falava de sexo homossexual numa
linguagem que eu nunca havia visto antes. Fiquei chocado. Ninguém viu quando eu
o deixei educadamente de lado.
Os shows
começaram e Fepa se apresentou. Falei com ele depois e disse o que eu achei –
ele sabe que eu falo o que penso (quando falo). Daí fiquei morgando para ver o
que iria rolar. Não me lembro bem das bandas que apareceram aquelas horas que
se passaram. Sei apenas que num determinado momento apareceu um sujeito
pequeno, magro e relativamente feio com um violão, acompanhado por uma mulher
em quase andrajos (ou roupa chique, que não sei distinguir umas das outras). O
sujeitinho ocupou o palco, pegou o violão e começou a cantar com uma voz rouca,
quase inaudível, cansada, estropiada, de típico representante do autêntico
bas-fond de nossa sociedade.
Fiquei
embasbacado ao ver o cara. Eu pensei, na hora, literalmente: esse cara, sim, é
bom. Aproximei-me do centro do palco, que era bem pequeno, e onde as pessoas,
quase invariavelmente, se afastavam, deixando um buraco desconfortável,
passando a impressão de que ninguém estava gostando. Não sei. Sei que eu
gostei.
O show
acabou e eu fui à banquinha de novo. Perguntei sobre o cara, e soube que ele
escrevera aquele livrinho laranja. Fiquei chocado, mas não comprei o livro, só
o cd, que paguei com um dos últimos cheques que eu tinha comigo.
Não sei
bem como se deu o que aconteceu a seguir. Sei apenas que combinei uma matéria
com um empresário do Rio de Janeiro, que fui entrevistar num fim de semana, e
que, sabendo que o cantor já citado morava no Rio, combinei com ele um
encontro. Encontramo-nos no aeroporto Santos Dumont, e ele levou seu namorado à
época (e atual), o Pedro.
Lá
estando, percebi algo muito singelo no cara. Eu ouvia, ao menos aparentemente,
apenas o que ele queria dizer. Eu não sentia haver intenção por detrás das
palavras. Era tudo algo límpido e bonito, que eu na hora mal soube descrever.
Ele me contou sobre alguns dos problemas que vinha enfrentando e, como
presente, me deu aquele livrinho laranja, com dedicatória e tudo.
Entramos
em contato algumas vezes desde então, comprei dele alguns outros materiais –
inclusive uma das telas que ele começou a fazer um dia –, e agora ele me mandou
o seu novo cd. Logo ele irá lança-lo oficialmente, e espero ter grana
suficiente para ir até a ocasião, com uma amiga e outro amigo.
O nome do
homem sem subtexto é Luís Capucho. Grande ano para você, meu querido."
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