Eu gosto muito de olhar pela janela do apezinho, à noite,
depois que o bairro começa a dormir.
Não que eu seja notívago, porque depois que comecei com os
remédios, eles disciplinaram meus horários, aí, durmo cedo pra poder acordar
mais na boa pro remédio da manhã. Só que uma vez ou outra, fico até mais tarde.
Eu tava dizendo pro Pedro sobre como a noite é bonita, enquanto voltávamos de
Piabetá, no sábado. Estava tentando dizer sobre o calor entusiasmador das luzes
que se acendem nos prédios, nas ruas, em tudo, o leit@r sabe. Aí, entrou no
ônibus uma menina com um bustiê faiscante, com os brilhos que ondulavam logo
abaixo de seus peitos, porque caía uma franja de cordões até ao umbigo nu. Ela
chamou a atenção do ônibus inteiro sem que parecesse um exagero o exagerado
bustiê e o shortinho. Estava muito linda. E parou no meio do ônibus, segurando
a onda da roupa atraindo todo mundo até que o namorado passasse pela roleta. E
foram pra trás do ônibus sentar. Depois, saltaram numa passarela da Avenida
Brasil e sumiram numa rua estreita.
Pedro disse:
- É, sim. As pessoas entram perfumadas nos ônibus,
arrumadas...
Mas, aí, eu gosto de ficar olhando pela janela, vendo todas
as coisas já assentadas e o silêncio de cachorros que latem, longe. Moro num
bairro que, resolvido os vizinhos de trás, à noite se assenta, firma no chão. E é bom demais pra dormir.
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