sábado, abril 30, 2016

O CARA QUE CAVOU UM TÚNEL

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Acho que não é mais necessário apresentar Luis Capucho, certo? Sua música, seus livros, suas telas traduzem momentos e realidades intensamente verdadeiros para outras pessoas também viverem. É alguém que expressa algo que a gente gostaria de passar ou de ter passado. E isto é tão, tão raro, mesmo entre artistas, que já justificaria a entrevista abaixo. Então vamos direto aos fatos, basta de preliminares. ok?
Que papel a música veio cumprir em sua vida?
A partir do lançamento de meu último disco, o Poema Maldito, tem cumprido o papel de trabalho. Sempre achei complicado assumir que eu seja artista, porque a arte ocupa um lugar que é o do lazer, do entreter-se nas horas de ócio com uma beleza plástica e tudo. Então, achava difícil pensar que música ou livros fossem trabalho. Acho que talvez as circunstâncias da minha vida tenham contribuído pra que eu tivesse uma visão assim, como se a arte fosse algo de que eu não pudesse me apoderar, tomar uma posição ali… mas acho que é um trabalho, sim.
Vc tanto escreve livros como compõe músicas e pinta telas. De alguma maneira estes interesses interdependem ou são autônomos?
São autônomos, acho. Mas são inevitáveis as relações. Por exemplo, escrevi o livro Cinema Orly e fiz o disco Cinema Íris. O livro Mamãe me Adora veio a partir da ideia de uma música mais antiga, de nome Mamãe me Adora. Também as músicas têm as letras que são literatura. Eu ouvi uma vez a Adélia Prado dizendo algo como se a essência da poesia fosse a pintura. Minh’As Vizinhas de Trás, nome que dei à minha série de telas, tem esse mesmo impulso de fazer uma música, um livro. Quer dizer, a tentativa de equilibrar as cores, de organizar tudo direitinho, tudo ajustado, bom, bonito.
Vc admira Genet e Rimbaud como grandes artistas gays e/ou como rebeldes também, como figuras avessas ao mundo domesticado?
Do Rimbaud eu só conheço Vogais, com tradução de internet. Não sou um leitor voraz, tenho tempos contemplativos, em que fico pensando na vida e meio louco…rs. E prefiro as leituras em prosa. Já fui comparado a Jean Genet da MPB, então tem essa relação, acho que porque minhas letras são meio que parágrafos. Minhas letras estão mais ligadas à prosa, porque tenho picos de voracidade e períodos mais assíduos, aí acho que gosto mais da prosa. A poesia é mais enigmática, sei lá, mais silenciosa. Eu procuro pouco.
De alguma maneira, os temas gays teriam comprometido sua música de chegar ainda mais adiante, a ter mais ouvintes?

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