Num filme, ontem, A Grande Beleza, o diálogo era assim:
- Gostou da performance?
- Partes dela. Aquela caabeçada violenta me fez entender
muitas coisas. Vamos começar do início...
- Por que não do fim? Sabe Talita Concept gosta de provocar.
Não gaste energia, há
coisas mais importantes do que me provocar. E este hábito de falar na terceira
pessoa é insuportável. O que você está lendo?
- Eu não preciso ler, vivo de vibrações, frequentemente
extra-sensoriais.
- Abandonando por um instante a extra-sensorialidade, o que
você entende com vibrações?
- A poesia das vibrações não pode ser escrita com a
vulgaridadae das palavras.
- Tente, pelo menos.
- Sou uma artista, não preciso explicar nada.
- Então, vou escrever: vive de vibrações, mas não sabe o que
são.
- Estou começando a não gostar desta entrevista, percebo um
conflito.
- Como uma vibração?
- Como um chute no saco. Vamos falar de como o noivo de
minha mãe abusou de mim.
- Não. Eu quero saber o que é uma vibração.
- É o meu radar para interceptar o mundo.
- Seu radar... o que significa?
- Você é um pé no saco. Talita Concept quer ser entrevistada
por seu jornal, tem tantos leitores, mas você é preconceituoso. Escreva como
ela faz sexo com seu noivo, 11 vezes por dia, ele é um artista conceitual
talentoso, ele cobre bolas de basquete com confetes! É sensacional!
- Talita Concept fala de coisas que não têm o menos
significado. Tudo o que ouvi é porcaria impublicável. Acha que me encanta com
coisas como “sou uma artista e não preciso me explicar”. Nosso jornal tem um
núcleo de leitores cultos. Não queremos ser provocados. Eu trabalho para o
núcleo.
- Então, deixe-me falar sobre o meu sofrimento, mas como um
caminho indispensável do artista.
- Indispensável pra quem? Pelo amor de Deus, minha senhora,
o que é uma vibração?
- Eu não sei.
- Você não sabe.
- Você é um idiota obssessivo. Vou dizer à sua editora para
me enviar um jornalista de estatura mais elevada.
- Um conselho: quando falar com a minha editora, use muito
tato no conceito de estatura. Ela é anã.
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