A moça não tinha um dos olhos e usava muleta pra poder andar
equilibrada. Eu sei dela, porque sentou-se a meu lado. Quando olhei, vi que
tinha semblante de hospício e pensei muito dentro de mim mesmo: vou ficar
quieto.
Quando ela sentou-se a meu lado com seu semblante de
remédios calmantes, esperávamos ser atendido no serviço social do Bolsa
Família, que é junto com o pessoal que precisa renovar o Passe Livre, a
gratuidade nos ônibus urbanos.
Éramos umas vinte pessoas sentadas, um exército de
estropiados, todos muito conscientes de seus direitos e conscientes de que para
chegar ao final de nossa via sacra com sucesso, seríamos dificultados ao máximo.
Aí, ela disse que precisávamos bombardear o Palácio da
Alvorada com todos os canalhas lá dentro, e que a gente, os brasileiros, precisava
aprender a votar. E contou que ela tem chorado de raiva, quando os motoristas
arrancam e não deixam que ela entre no ônibus pra ir no Hospital do Câncer, que
é no Rio de Janeiro. Cada um tinha uma estória pra contar e todos contavam suas
estórias pra quem estivesse ao lado.
Eu tou contando aqui, no Blog Azul. E não consigo contar
direito.
Fui.
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