Já faz um tempo que Niterói divulga ter qualidade de vida incomum nas outras cidades do Rio, acho que no Brasil e, de verdade, o postinho de saúde da minha rua tem funcionado pra mim. E vi outro dia que o STF colocou pra funcionar uma série de novas normas para o cuidado dos municípios com a população de rua.
Então, a qualidade
de vida em Niterói tem endereço e os moradores das ruas, não têm tido
orientação nenhuma a não ser o entorno de restaurantes e mercados, de modo que
pra andar, você tem de estar armado de trocados, porque a prefeitura tem, há
muito, deixado as pessoas tipo zumbis em torno a esses lugares e à gente
também.
Depois de
ter passado pelas pessoas pedindo, quando eu estava esperando o 30 pra vir
embora, na 5 de Julho, apareceu-me um rapaz segurando um pão enorme, metade
exposto no papel de embrulho, e tinha umas crostas de carne e queijo, e o rapaz
disse que ele tinha de dividir aquele pão com mais cinco pessoas e precisava de
mais – essas situações tensas, me fazem esquecer – não sei se ele queria
comprar refrigerante, não lembro se queria outro pão. Eu disse que não tinha
dinheiro e, aí, ele começou a insistir cheio de marra de vítima, ficou
agressivo, cresceu pra cima de mim – ele era maior que eu, mais macho, mais
vítima – e foi me encurralando entre o poste e a árvore e disse que poderia ser
pix. Eu disse que não tinha, mas ele não acreditou e foi me encurralando eu fui
ficando com medo e raiva, disse que ele não estava acreditando em mim e que não
fazia sentido ele não acreditar. Eu não sou uma mulher e ele não queria sexo
comigo, mas Não é Não, pow. Eu, no fim, teria de sopapar o escroto.
A situação
foi ficando de um jeito, no ponto do 30, que, ou eu ganhava mais altura e peso
e ficava mais macho pra esterilizar a marra dele ou ele iria me socar a cara,
por eu não ter como salvar a ceia que ele precisava fazer com as outras cinco
pessoas.
Aí, eu
torcia para o 30 aparecer e não apareceu, a sorte foi que veio o caminhão
recolhendo lixo e uma enxurrada de garis juntos. Parou um gari, depois outro,
pra saber o que estava acontecendo. O rapaz do pão enorme recheado começou a
criar caso com o gari, disse que eles não tinham nada de ficar escutando nossa
conversa. Para ele, nós estávamos tendo uma conversa... he he... ele tinha
realmente crescido na sua marra. Parou um transeunte também. Um gari disse: eu
tou trabalhando.
Aproveitei e
fui embora, pegar o 30 no ponto seguinte.