quinta-feira, agosto 11, 2011

Devo ter ainda mais dias pra arrumar a casa. Achei entre os papéis na bagunça da arrumação:

“23 de oputubro de 2002

Hoje acordei sem que me sentisse uma cara real. Sentindo que eu fosse apenas uma possibilidade, apenas uma hipótese de homem vivo.

Numa suposição:

Se estivesse numa festa, numa reunião de pessoas animadas e quisesse me distrair, não haveria nada que outra pessoa pudesse fazer. Não que eu ficasse triste sentado num canto, com a possibilidade de alguém puxar assunto comigo. Não é que isso fosse acontecer.

Talvez, eu pudesse ir embora.

Sei lá, alguma coisa poderia ser feita. A festa, a reunião de pessoas animadas poderia explodir. A Virgem Maria poderia aparecer ou, sem ir embora, eu poderia ir até você e te dizer umas coisas, ser casual até, ou ser um homem profundo vindo das profundezas de meu ser, assim, como um mito emergido na superfície do aceano em plena festa. Te falar dos meus problemas, que, ultimamente, tenho andado meio louco, tenho estado inseguro e que não saberia dizer quem se interessaria por me ouvir dizer essas coisas nessa melodia estranha, mal ajambrada, essa possibilidade de melodia apenas. E continuaria dizendo pra você que, quando eu era pequeno, queria ver a Virgem Maria, quer dizer, não sei me explicar bem, eu não conseguia, mas não custava tentar um movimento no meio da festa, uma dança, e ser um homem vivo, de verdade.”

Fui.

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