sexta-feira, outubro 09, 2015

“Seja uma igreja, seja um cinema o Orly me beija.”
(Cinema Orly - luís capucho)
Em 1999 foi publicado um livro, pelo selo Ficções de Interludio, chamado Cinema Orly, de minha autoria, que se tornou um cult da literatura marginal urbana da cidade do Rio de Janeiro. Alguns anos depois, em 2005, o Grupo Ativista Gay Arco-Íris deu-lhe o 5º Prêmio Arco-Íris dos Direitos Humanos por ter considerado que de suas páginas de ilusão, que falam das aventuras sexuais do narrador dentro do cinema pornô, saiam reivindicações por um mundo mais justo, humano, melhor.
Por isso, quando em edital da Prefeitura do Rio de Janeiro, foi contemplado o projeto de filme-documentário sobre minha obra lítero-musical, de Rafael Saar, intitulado “Peixe”, incluímos a lembrança do Cinema Orly entre as outras coisas que irão ser lembradas no filme.
Por coincidência, eu tinha recebido, há pouco, uma mensagem de Caroline Valansi, que me felicitava pelo livro de que ela soube e de que ela gostou muito, por ter lhe permitido conhecer um lugar de sua família a que ela não tinha tido acesso. Ela me disse que se tivesse sabido que era daquele jeito, teria ido também ao cinema e me perguntou se eu gostaria de visitá-lo. O cinema tinha sido fechado como cinema pornô e a Caroline estava promovendo encontros dentro dele, para aproveitar o espaço com o pessoal de cultura, um lugar que tinha polarizado grande quantidade de energia, que estava toda lá, e ela pensava em aproveitar isso de algum jeito.
Tudo se encaixou e era do que precisávamos.
O Rafael Saar tinha escolhido todo o mês de julho para gravarmos, entre os meus livros e músicas, grande parte das cenas do filme, o seu documentário-ficção “Peixe”.
No dia 3 de julho, a equipe toda estava com Caroline dentro do cinema. Usavam máscaras pra se proteger do cheiro mofo de subsolo.
Nesse dia, escrevi em meu Blog Azul:
“Fiquei emocionado demais, quando entrei hoje no Cinema Orly pra gravar umas cenas do filme documentário de Rafael Saar, Peixe, que tem como fio condutor a minha obra lítero-musical, o leit@r silencioso sabe.
A Caroline Valansi foi quem nos recebeu, foi quem permitiu à gente olhar o cinema no esqueleto, sem as bichas todas que compunham o seu universo de ilusão.
Então, eu parei logo depois que desci a escadaria e fiquei chorando ali na cabeceira das poltronas. Era apenas o delírio das poltronas sem ninguém, as luzes acesas, o cheiro de porão do Orly, no vazio, lindíssimo, lindíssimo, lindíssimo!
Aí, o Rafael veio, me acariciou nas costas e depois começou a monitorar o que se tinha de fazer para que se construísse o Peixe.
O Dudu (Eduardo Cantarino) fez uma foto do momento em que eu declamava um trecho da letra de Cinema Orly - música parte da narrativa do livro – diante da atriz pornô Savannah e de um cara que estava para gozar em suas costas.”


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