quinta-feira, agosto 31, 2017

Eu tava pensando ali na cozinha, enquanto lavava a louça pra aprontar um macarrão que já comi e era mais uma sensação que tenho tido por agora, do que propriamente um pensamento, porque hoje tive de ir na rua, no médico, em lojas, no correio, e foi aquele dia em que ninguém te trata direito e, aí, fiquei desconfiado de o que é que eu estou fazendo errado, onde é que tou errando a mão e tal.
Eu sei que as pessoas se servem da educação pra melhorar o modo como elas se esbarram e que eu muito imbuído de mim mesmo, chego nos vendedores das lojas, nos atendentes dos serviços públicos, nos cobradores de ônibus, meio que sabendo que posso estar imbuído de mim, porque eles estarão imbuídos de vender uma coisa, de atender a uma pessoa - eu – de dar uma informação, de te dar o troco do dinheiro a mais que você deu... tudo.
Aí, muito imbuído de mim mesmo, enquanto o cara tirava seis tubinhos de ensaio cheios de sangue de minha veia no braço, fiquei olhando pro sangue e veio a pergunta, sem educação nenhuma, a pergunta brotou, assim como o sangue brotando ali de minha veia, para a agulha, para o tubinho de ensaio:
- Se vão fazer uma análise microscópica do sangue, porque é que vocês colhem tanto sangue assim?
- Não sei. Pergunte ao seu médico. Eu estou tirando exatamente a quantidade de sangue que ele indicou, nem mais nem menos - e, aí, eu tava ali na cozinha lavando louça com esse sentimento, que tenho tido nos últimos tempos de que eu preciso estar sempre muito forte, com coragem e saúde. Assim mesmo como tenho sido. Que é pra não ter mandado mesmo esse cara ir tomar no olho do cu. Igualmente, à moça que me atendeu na Setrerj, depois que saí da coleta.


Um Mamãe me Adora para Nova Iguaçu:

quarta-feira, agosto 30, 2017

O sol começou a não mais ser um sol de inverno e tenho vontade de abrir as janelas do apezinho. Além disso, muitas outras coisas ficaram diferentes, eu sinto tudo.

Fora isso, muito feliz com o lançamento do Diário da Piscina em BH.

segunda-feira, agosto 28, 2017

A cada dia mais coisas vão se firmando para o lançamento do Diário da Piscina em BH e Vitória. Apresentaremos um pouco de músicas nas duas oportunidades. Vitor Wutski na guitarra com meu violão. Em BH será 9 de setembro, no 171. E em Vitória, no Sesc Gloria, dia 12.

domingo, agosto 27, 2017

As preferidas do Tulio

O Tulio me fez uma surpresa. Me mandou o que filmou em seu
celular dele cantando minhas músicas, em público. E não são as músicas mais de
agora, as que ele prefere. Ele prefere as do Antigo, que são músicas, mais ou
menos, com a mesma idade que ele tem, não sei, não sou muito bom pra ver as
idades, mas acho que acertei.
E me lembro de já fazer muitos anos, de alguém ter reparado
que as músicas têm o seu tempo de atuação. Que é o tempo em que elas têm o seu
esplendor. Depois que saem desse seu tempo, perdem o frescor e aparecem outras
cheias de viço no lugar. Por causa disso, há os que preferem, antes de
apresentar suas músicas, não ensaiar demais, que é pra música não perder o
vigor e tudo. Eu não sou assim. Eu gosto de ensaiar demais. Porque quanto mais
eu ensaio, mais eu chego no cerne, na carne da música, mais eu fico no seu centro.
E a minha ideia é de que quanto mais madura é a música, mais ela resiste a
muitas, muitas cantadas. Melhor ela fica de ser comida.
Então, é muito emocionante pra mim que o Tulio esteja
cantando essas músicas de mais de vinte anos atrás e de ver que elas vão
amadurecendo no show dele, que vão chegando no seu cerne, na sua carne, no seu
centro, nas sua repetições...


Vejam:

quinta-feira, agosto 24, 2017

Eu não saberia falar das panelas que tenho no armário de cozinha, assim, como elas chegaram a se constituir ali, como elas se emaranharam nos seus gavetões. Mesmo que as minhas panelas sejam para que o animal que sou, possa funcionar, não passo o meu dia sabendo sobre elas, olhando para elas. Fico esquecido de suas existências como quem é esquecido do próprio dedão do pé. Então, eu não saberia falar objetivamente delas, de nada e de ninguém. Não sei falar nesse tom, ta ligado.
Eu sei que muitas vezes, em diferentes ocasiões, fiquei parado nelas. E uma dessas vezes eu já contei aqui. Foi quando mamãe a meu pedido, alugou um quarto pra gente viver. E no que eu comecei a sonhar, foi em ter panelas.
Hoje esse assunto é um assunto político e eu vejo as pessoas se perguntando onde estão os que bateram panelas nas janelas dos prédios. E aqui na minha comunidade-condomínio não rolou panelaço, porque embora eu more no terceiro e último andar de um prediozinho, aqui na rua e em meu vale não há conglomerado de edifícios.
Também me lembro que na minha convivência infantil com os meus amados primos, tinha uma coisa que sempre se repetia. De vez em quando me diziam de um jeito reprovativo:
- Você ta me tirando por você! – e, aí, eu tinha que pensar um pouco mais, porque eu tinha essa mania de tirar todos eles por mim. Porque eu sou o meu fundamento e é a partir desse meu fundamento é que eu entendia meus primos. É a partir dele que eu, como disse, às vezes, paro nas panelas.

É isso aí.

terça-feira, agosto 22, 2017

A gente vai lançar o Diário da Piscina em Vitória, dia 12 de setembro. E, antes vamos lançar em BH, dia 8 de setembro. Tudo é uma viagem do Pedro de refazer aquele caminho de trem que fizemos pelo vale do rio Doce, entre as duas cidades. E eu acabo metendo minhas coisas nas viagens dele. Ele topa com satisfação. Os dois lançamentos serão acompanhados de apresentação de minhas músicas.
Vitor Wutski vai me ajudar no violão.
Pra Vitória, convidei o Rumenick Ococha, da Machimbo, para dar uma força. Ele vai cantar uma de minhas músicas. É uma estória bonita essa.
E na viagem, tocaremos minha nova parceria com Kali C, a Masculinidade, que é uma música que tem a ver com o Tótem Poema Maldito e com a ideia do último show que fizemos com o Bruno Cosentino. E tem a ver também com o Diário da Piscina, porque, se não me engano, dei a letra da Masculinidade pra Kali, na época do Diário. Mas só agora temos a música.
É um processo...
Em BH, temos a ajuda do maravilhoso João Santos! Em Vitória, outra maravilha: Fabrício Fernandes.

Não sei se sou eu é quem, com o dia frio, me lembro dos outros dias frios e tudo que esteja fora do dia, do frio do dia, se junta nele, e, aí não tem mais nada, nem outro tempo, nem outro lugar, nem outra coisa. Tudo é o mesmo foco, o mesmo fluxo, a mesma linha onde tudo se pendura, a mesma trouxa, o mesmo nó.

Eu comecei com isso, hoje, ouvindo esse programa incrível do Shiraga, que me deixou nesse link aqui: 

segunda-feira, agosto 21, 2017

ENTREVISTAS, MÚSICA
‘O público não é mais pego de surpresa pela MPBicha’. – Luís Capucho
Ali Prando
Luis Capucho se considera low profile, faz música para ficar quieto e ouve música para ficar quieto, “fora de nosso tempo”. Talvez possamos associar essa quietude a seu ritmo mais arrastado, voz rouca, espaçada, mas jamais a seus versos crus, repletos de malicia, sensibilidade dissonante e linguagem visceral.


São três discos, um show gravado e quatro livros lançados em sua carreira, conquistou o prêmio Arco-íris dos Direitos Humanos 2005 pelo romance ‘Cinema Orly’, seu primeiro romance. Foi gravado por artistas expoentes na MPB 2000, como Wado, Cássia Eller e Clara Sandroni.
Seu mais recente trabalho é ‘O Diário da Piscina’, que relata suas aulas de natação para recuperação de suas sequelas motoras, registradas entre julho de 2000 até abril de 2001.
Meu primeiro contato foi com a gravação do show antigo, o mais delicado de Capucho, daqueles que confortam e nos distanciam do momento por possuir beleza singular, mas que nos regurgitam para o presente através de sua franqueza que harmoniza a mesma beleza com o sujo e o banal. Seus discos se mostraram “mais sujos” com o decorrer do tempo, mas nada e em nenhum deles será reprimida sua singela graça.
Nessa entrevista, podemos descobrir um pouco mais sua transformação enquanto artista, reconhecimento, política e seu título de poeta maldito:

https://discopunisher.wordpress.com/2017/08/20/o-publico-nao-e-mais-pego-de-surpresa-pela-mpbicha-luis-capucho/

domingo, agosto 20, 2017

"Para pegar" - Luís Capucho - cantam Gustavo Galo e Júlia Rocha - RadioF...

Eu me lembro muito bem. Tinha acabado de tocar com o Bruno Cosentino “A Expressão da Boca”, aí, veio o Gustavo Galo perguntando por meu disco Poema Maldito e quando é que eu iria tocar em SP. Isso foi quando o vi pela primeira vez. Logo ajeitamos de eu vir tocar num show com ele no Bar do Mancha e, aí, tudo foi se costurando para que viéssemos a lançar o Diário da Piscina com a “É selo de língua – editora É” através da Julia Rocha e voltei a fazer shows no loki bicho...
Desde aquele dia tudo se modificou muito, mas eu sinto que tudo muito se liga àquele dia, desde o antes ao depois. Porque a “Para Pegar” está no meu primeiro disco, o Antigo. E depois está no Cinema Íris. E depois no Sol, do Gustavo.
E vê-los cantando juntos, nesse tempo meio em suspenso de carnaval, meio pra engatar no rock and roll, ficou bonito demais no dia frio:

sexta-feira, agosto 18, 2017

Nesse inverno, pouco tenho aberto as janelas do apezinho. Mas sei do que ta rolando lá fora, porque os sons entram aqui. E, aqui dentro, eu estava com a ideía de fazer doze As Vizinhas de Trás com o tema das santas. E fiz As Vizinhas de Trás – Nossa Senhora das Graças. Foi a primeira. E eu me lembro de ter escrito no Blog Azul sobre ter empacado na hora de fazer sua auréola. Fiquei uns seis meses para conseguir visualizar a auréola e só, então, conseguir terminar a santa.
E, desde que assisti pela primeira vez a peça Cabeça de Porco tenho querido pintar a minha segunda santa. Os meninos da Prática de Montação criaram a Santa Moema, que é uma santa que diz amei, no lugar de amém e nela também fiquei empacado. Eu tou pintando no modelo das Vizinhas, tou fazendo três Santas Moemas, uma ao lado da outra, na mesma tela. Fiz a primeira delas e a segunda, mas empaquei na terceira.
Para um cara quieto como eu, que é capaz de ficar em seu apezinho sem abrir as janelas por todo um inverno, empacar numa coisa faz sentir que o mundo parou, que todas as outras coisas deixaram de andar. E não é. Eu não abro as janelas, mas sei que lá fora a vida ta fluindo e tudo. Tem uns barulhos que entram aqui – e eu já falei sobre isso também – que parece imaginação, mas depois, quando vou ver, são reais os barulhos.
Fora isso, a Santa Moema vai estar em cartaz pela última vez, olhem:
https://www.facebook.com/events/1134586569974993

quarta-feira, agosto 16, 2017

Eu sempre acho que há uma coisa mais acertada, mais real, verdadeira e tal, mas a gente vai sendo jogado daqui pra lá, de lá pra cá, e não tem muita noção do que acontece e como curto vir aqui escrever, para isso, pra pensar, pra tentar saber, a gente tem de parar um pouco, se perder um pouco da situação e tudo.
Hoje, enquanto preparava o meu desjejum me veio à cabeça a ideia de que, se não tenho nada, se sou um pobre coitado, abobalhado e fraco, é porque meus antepassados não construíram nada que me deixassem, pra que eu pudesse ter já de partida um trampolim bem alto. Logo depois, pensei que não era isso, porque esse pensamento é apenas um dos que separei de outros, aos montes, que eu poderia ter pensado como verdadeiros. Porque se eu modifico o meu ponto de vista, não serei mais um pobre coitado, abobalhado e fraco, e meus antepassados terão me deixado uma riqueza tão grande, mas tão grande, que eu nem consigo supor, porque não vejo, dentro da escuridão de meu corpo quente.
Aí, eu mesmo penso comigo: mas se eu não vejo, não há... e sempre acho que esses meus textos diários do Blog Azul são, a cada dia, o começo de uma nova ou mesma estória que interrompo.

segunda-feira, agosto 14, 2017

Tem umas coisas que surgem, nas épocas em que estou para colocar mais uma “escama” na minha camisa de fazer show. Para a última das apresentações apareceu - depois de havermos feito os shows de lançamento do Diário da Piscina, aqui no Rio de Janeiro, e que iríamos apresentar o show Poema Maldito, no Festival Sesc de Inverno – apareceu no chão da sala, um pedacinho de jóia, uma corolazinha azul, como uma corola dentro da corola, dentro da corola, dentro da corola, dentro da corola... tipo aquela estória dos fractais, em que uma coisa está dentro de si mesma, dentro de si mesma, dentro de si mesma... aí, pedi a minha Vizinha um botão e Pedro colou a corola na corola dourada do botão.
Pedi também, agora, a minha Vizinha que fotografasse.

Vejam:

domingo, agosto 13, 2017

Eu já tava acordado, quando as casas ao redor do apezinho começaram com as músicas do domingo. Com o frio não tenho aberto as janelas. Já aconteceu de eu abrir a janela pra saber de onde vem o ritmo entrando na minha cabeça. E quando ponho a cara pra fora, não tem lugar nenhum, casa nenhuma mandando o som pra cá.
E quando fecho a janela, o som começa outra vez, abafado na minha mente.
Aí, eu vejo que sou eu, que é minha cabeça quem dá um ritmo pros sons abafados que vêm de todos os lados do prédio.
Eu podia me sentir perseguido por esse ritmo que minha mente cria.
Eu podia me sentir perseguido por esse ritmo que meu coração tem.
Mas, não.

Faço limonada.

sábado, agosto 12, 2017

Tem um movimento interno meu que vai indo de remanso em remanso, de correnteza em correnteza, ora com mais calor, ora com mais frio, mais luz ou escuridão, assim, uma coisa que vai se alternando, que vai passando de uma a uma, de uma a outra coisa e lugar. Mas sou sempre eu que não quero ser eu. Sempre sou eu que não posso ser eu. Acho que tenho um pouco de ver esse rio passar... que coisa!

sexta-feira, agosto 11, 2017

Quando eu me sentei no banco do ônibus, já com o lugar do canto ocupado por um senhorzinho, ele começou a me olhar como se eu tivesse ocupado um lugar que era dele. Eu já tava chateado, porque as esperas que tive de fazer pra pegar a receita de remédios e depois a espera que tive de fazer para pegar os remédios, tudo de um jeito desatencioso, já tinha me feito sentir que eu estivesse fora de lugar. E ao lado do senhorzinho, comecei a pensar em lhe dizer, caso ele reclamasse aquele lugar comigo, que a gente não tinha que ficar brigando e tal. Aí, ele tirou a perna que estava invadindo a minha parte da cadeira e esticou-a pra frente. Depois, esticou a outra e cuspiu no chão. Aí, só agora é que me veio à cabeça: será que eu tava com cara de viado e, aí, o senhorzinho cuspiu no chão pra marcar a posição dele? Mas na hora, quando ele cuspia no chão várias vezes, eu curti ele. Achei punk, achei protesto contra o preço exorbitante da passagem – 9,00 reais – achei certo! É isso mesmo!

quarta-feira, agosto 09, 2017

A gente vai se perdendo, isso é uma coisa que não tem jeito. Eu li sobre duas luas de agosto que estarão marcando isso de se perder e estive falando com o Pedro de como todo mundo fala do mês de agosto e como isso parece ser certo, nesse mês.
E, aí, eu disse que a gente tinha de inverter isso, que tínhamos de chegar num tempo em que se perder fosse a qualquer hora, qualquer mês... e depois a gente atravessou a rua, ali na Praça Araribóia, concentrados em agosto, pensando em inverter tudo.
Tem uma aflição desesperada no fato de a gente se perder.
De ter de ficar tudo aberto, esperando a morte.

E começar tudo outra vez, noutra direção.

segunda-feira, agosto 07, 2017

Um Diário da Piscina para Minas:

Atitudes Burras - luís capucho

Nós tivemos apenas dois ensaios, acho: eu, Bruno e os
meninos. Aí, no último deles, eles tocaram a Atitudes Burras rindo e eu achei que era comigo, que era bulling comigo. Mas eles me disseram que não era, que era porque eles estavam sentindo prazer em conseguir me acompanhar no tempo. E olhando agora o vídeo que o Pedro fez, foi isso mesmo. No final, o Pedro Fonte, na bateria, até tinha ficado sem ar e sacode a camisa no peito, se recuperando. E todos riem outra vez...

sábado, agosto 05, 2017

Meu pensamento me faz rir sozinho aqui comigo e, às vezes, me faz chorar. Isso é uma coisa bem frequente. Mas uma outra pessoa, se me diz o pensamento dela, nunca me fará chorar, embora muitas vezes me faça rir. Isso é uma coisa que eu sei. Eu não choro pelo que outra pessoa, que não eu, pense. Eu não choro, se a outra pessoa que pensa, não for eu. Mas rir, rio do que pensam os outros.
E embora, às vezes, meu pensamento me faça chorar, posso passar muito tempo comigo mesmo, porque a minha pessoa me distrai.
Isso está me parecendo a introdução de uma estória que tenho para contar.
De muitas estórias que eu contaria.
Mas, não.

É só isso mesmo.

quarta-feira, agosto 02, 2017

Já faz um tempo que eu tinha proposto ao Bruno Cosentino apresentarmo-nos juntos. Eu canto tudo muito torto, vocês sabem disso. O Bruno, não. Ele canta acertado e bonito, suave. Mas eu acho que empinados nas melodias das músicas a gente voa do mesmo jeito. Já fizemos um primeiro esboço disso, no 3 Vocês, com o Vovô Bebê que é outro que, empinado nas músicas, sonha igual.
A gente ta ensaiado com Pedro Fonte e Gabriel Menezes.
Amanhã, no show Poema Maldito, os amigos da serra vão voar com a gente.