Eu tava pensando ali na cozinha, enquanto lavava a louça pra
aprontar um macarrão que já comi e era mais uma sensação que tenho tido por
agora, do que propriamente um pensamento, porque hoje tive de ir na rua, no
médico, em lojas, no correio, e foi aquele dia em que ninguém te trata direito
e, aí, fiquei desconfiado de o que é que eu estou fazendo errado, onde é que
tou errando a mão e tal.
Eu sei que as pessoas se servem da educação pra melhorar o
modo como elas se esbarram e que eu muito imbuído de mim mesmo, chego nos
vendedores das lojas, nos atendentes dos serviços públicos, nos cobradores de
ônibus, meio que sabendo que posso estar imbuído de mim, porque eles estarão
imbuídos de vender uma coisa, de atender a uma pessoa - eu – de dar uma
informação, de te dar o troco do dinheiro a mais que você deu... tudo.
Aí, muito imbuído de mim mesmo, enquanto o cara tirava seis
tubinhos de ensaio cheios de sangue de minha veia no braço, fiquei olhando pro
sangue e veio a pergunta, sem educação nenhuma, a pergunta brotou, assim como o
sangue brotando ali de minha veia, para a agulha, para o tubinho de ensaio:
- Se vão fazer uma análise microscópica do sangue, porque é
que vocês colhem tanto sangue assim?
- Não sei. Pergunte ao seu médico. Eu estou tirando
exatamente a quantidade de sangue que ele indicou, nem mais nem menos - e, aí,
eu tava ali na cozinha lavando louça com esse sentimento, que tenho tido nos
últimos tempos de que eu preciso estar sempre muito forte, com coragem e saúde.
Assim mesmo como tenho sido. Que é pra não ter mandado mesmo esse cara ir tomar
no olho do cu. Igualmente, à moça que me atendeu na Setrerj, depois que saí da
coleta.
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