Eu não saberia falar das panelas que tenho no armário de
cozinha, assim, como elas chegaram a se constituir ali, como elas se
emaranharam nos seus gavetões. Mesmo que as minhas panelas sejam para que o
animal que sou, possa funcionar, não passo o meu dia sabendo sobre elas,
olhando para elas. Fico esquecido de suas existências como quem é esquecido do
próprio dedão do pé. Então, eu não saberia falar objetivamente delas, de nada e
de ninguém. Não sei falar nesse tom, ta ligado.
Eu sei que muitas vezes, em diferentes ocasiões, fiquei
parado nelas. E uma dessas vezes eu já contei aqui. Foi quando mamãe a meu
pedido, alugou um quarto pra gente viver. E no que eu comecei a sonhar, foi em
ter panelas.
Hoje esse assunto é um assunto político e eu vejo as pessoas
se perguntando onde estão os que bateram panelas nas janelas dos prédios. E
aqui na minha comunidade-condomínio não rolou panelaço, porque embora eu more
no terceiro e último andar de um prediozinho, aqui na rua e em meu vale não há
conglomerado de edifícios.
Também me lembro que na minha convivência infantil com os
meus amados primos, tinha uma coisa que sempre se repetia. De vez em quando me
diziam de um jeito reprovativo:
- Você ta me tirando por você! – e, aí, eu tinha que pensar
um pouco mais, porque eu tinha essa mania de tirar todos eles por mim. Porque
eu sou o meu fundamento e é a partir desse meu fundamento é que eu entendia
meus primos. É a partir dele que eu, como disse, às vezes, paro nas panelas.
É isso aí.
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