Comecei a pensar, se a língua em que falamos e que é o instrumento onde se manifesta a literatura, não seria, assim, como todas as técnicas que o ser humano adquire, aperfeiçoada através dos séculos de uso. Ou se a língua é como o ser humano, que nasceu pronto, nasceu sem saber de onde, como e porque veio e tal. E, aí, língua e ser humano, seriam sempre a mesma coisa e tanto faz o tempo em que estejam.
E fiquei pensando, se eu aqui na minha casa, numa conversa cotidiana com minha vizinha de janela, teria com ela diálogos rotineiros mais intensos, mais cheios de significado, mais aperfeiçoados em minha técnica de falar do que teria um romano em sua técnica de falar numa conversa cotidiana, tipo, século III, antes de Cristo, com sua rotineira e relativa vizinha de janela.
E fiquei pensando que o aperfeiçoamento que se daria na língua com que se faz literatura, seria apenas um aperfeiçoamento formal, porque a substância não mudaria em nada. Daí, que eu possa achar, para falar de um escritor de minha região, que Machado de Assis tenha escrito aqueles livros dele, ainda ontem...
E, ainda, que as línguas portuguesa ou espanhola ou italiana sejam aperfeiçoamentos que tenham se dado em lugares diferentes da mesma língua latina. E fosse esse o caso, teria se aperfeiçoado, apenas, a casca da língua, mas dentro, em seu miolo, estas línguas não seriam em nada diferentes do latim, porque tudo o que se falava em latim, poderia ser falado em português, francês, italiano, espanhol e cada uma dessas línguas seria, apenas, um aperfeiçoamento daquelas formas latinas, em direções diferentes, como se do carro original, tivéssemos chegado às kombis, aos fuscas, aos passats, mas todos automóveis, quer dizer, a substância locomotiva continuaria a mesma, porque se mudariam apenas as formas.
Por isso é que acho, possivelmente, ser, fonologicamente, mais fácil falar qualquer língua atual, do que seria falar hebraico, grego ou latim.
E, aí, aquele romano do século III antes de cristo teria palavras (e um pescoço, para sustentá-las), bem mais fortes que o meu pescoço. E o pescoço de sua rotineira vizinha de janela também seria mais belo e as palavras mais fortes que as palavras da minha vizinha.
E, desse jeito, a língua com que se faz literatura, vai ficando a cada dia que passa mais mole...
É isso.
quinta-feira, julho 08, 2010
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Um comentário:
Luis,
Adorei o texto!
E' o que a gente diz em Ingles ' a mind fuck!"rs,rs...
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