quinta-feira, agosto 23, 2018

Hoje é um dia muito especial pra mim, é como um dia de aniversário. Foi em 23 de agosto que entrei em coma e que isso conduziu minha vida de lá, pra onde ela seguia, pra cá. Então, é muito importante, porque a impressão é que tudo se deciciu nisso, no fato de eu não ter ficado pra sempre lá, parado nele. E, ao mesmo tempo, não ter seguido na vida que deixei antes. Fui jogado noutra direção. E, repito, isso é muito importante pra mim.
Hoje, um dia tão importante, fui fazer um exame de meu aparelho urinário e de meu aparelho pélvico – era isso que estava escrito no encaminhamento médico. Então, o doutor me deitou numa maca, desabotoou minhas calças, abaixou meu fecho-ecláir, levantou minha camisa e meio que, com um bastão cheio de gel, ficou correndo com ele por minha barriga e flancos e olhando pra tela de um computador. Me virou pra um lado, voltou-me para o lugar, apalpou o bastão com o gel deslizante, apalpou, apalpou e me disse, pronto, terminou!
E isso, nesse dia importantíssimo!
Ele saiu da sala e eu fiquei no dia importantíssimo me limpando do gel, me ajeitando a roupa, amarrando nos meus pés o tênis. Talvez, lá fora, estivesse rolando um tiroteio – eu estava na Fiocruz. De volta pra casa, eu poderia ser atingido. Atingido aqui perto de casa, em Niterói.
Ninguém mesmo, ninguém, poderia supor esse meu aniversário, agora, no sígno de Virgem.

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