Quando passo, olhando através da
janela do ônibus na Domingos Martins, vejo que há um cara que consegue se
manter no prumo em seu corpo por muitas horas, sentado numa cadeira, diante de
uma clínica, que tem ali. Mas eu, sentado dentro do ônibus ou na posição em que
estou agora, nessa cadeira preta diante do computer, não consigo me manter
aprumado. Tem uma coisa, uma força no meu corpo, uma tentativa de prumo, que me
deixa sempre o corpo fora do lugar.
Essa é uma questão pra mim e deve
ser uma questão que aconteça também no corpo das pessoas que estão presas, que
é a tentativa de achar um lugar de quietude, de paciência, de tranquilidade e
força. Imagino que eu nunca tenha tido essas qualidades no corpo e acho que
sempre imaginei o alcance disso, com o alcance da maturidade, que pra mim, ser
homem adulto, é o mesmo que ter masculinidade.
Essas coisas, essa ideia de que
eu vá me aprumar, quem sabe, seja apenas ilusão. E um indício disso é que com o
passar do tempo, todas as coisas vão se transformando, vão perdendo a forma que
havia nelas, mesmo que tenham chegado a um ponto que tenha nos parecido
definitivo. Eu tenho pensado bastante, meio sem querer, nesse lance da posição,
do lugar de um corpo. E conversando com um homem numa festa em que fui, estava
lhe dizendo sobre fazer coisas que fiquem, coisas duráveis, como a posição do
corpo do homem sentado que vejo da janela do ônibus, na Domingos Martins. E
curti muito um momento em que falei pra ele, que para que as coisas pudessem
ficar, elas não precisariam ter a dureza do corpo de um edifício, por exemplo.
Poderia durar e ser firme, como coisa etérea, assim, como as bandeiras
flamejantes retratando o corpo morto, assassinado do Cara de Cavalo. Bandeiras
que por ideia do amigo João Santos, inspiraram a foto de capa do CD Poema
Maldito. E nisso há muitas considerações. E curti muito ter falado isso pro
homem e pensei até em dizer-lhe outra vez a mesma coisa, na mesma hora. Mas ele
parecia estar alheio a esse ponto da conversa e, aí, continuei falando outra
coisa.
Esse texto continuaria, mas paro
aqui.
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