sábado, abril 10, 2010

Os helicópteros continuam a passar sobre meu vale, insistentes.
A todo instante surgem boatos de que o pessoal do morro vai descer pra fazer arrastão.
O pessoal aqui debaixo tem um desconhecimento absoluto do que seja uma pessoa que viva no morro. É como se fosse um país vizinho e hostil.
Eu mesmo sinto, quando preciso ir ao hospital de Ipanema, para o médico, sinto que vou a outro país. Eu fico olhando pras pessoas que passam no calçadão daquela avenida, pras pessoas que vão àquela feira da Praça General Osório, como se habitassem um mundo muito diferente, com apartamentos constituídos de coisas muito diferentes, respirando um ar muito diferente do ar que eu respiro, de forma que o fato de eu falar o mesmo português que aquelas pessoas, não me fosse suficiente pra estabelecer um vínculo, porque é um outro povo, que mora num outro lugar, respira outra atmosfera e tem outros costumes.
E os mendigos? É surreal, bom leit@r, o mundo em que vive os mendigos. A gente passa por eles nas calçadas, evitando a colisão de planetas, muito, muito, muito mais distantes.
Enfim, como disse, outro dia, uma mulher discursando, na calçada, em frente ao Tribunal da Justiça, quando eu passava:
- São as forças! São as forças que queriam matar o meu marido! E as forças mataram o meu marido!

2 comentários:

kali c. disse...

é mesmo, Luís, surreal! neste momento, diante de tudo o que está acontecendo, me sinto distante até do pequeno mundo que inventei pra mim.
beijos,
kAliC

walter disse...

Na fábula da realidade
só sou castigado
quando digo a verdade.
Renan Sanves