Emoções se repetindo...
Coloquei o Roberto Carlos que ganhei do Sacramento de presente de Natal pra ouvir.
“Pare!
Pense!
Olhe que esse dia já vem!
Aleluia! Aleluia! Aleluia! Aleluia!”
Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
As pessoas ficam brotando em torno à minha casa, nessa época de final de ano, como chuchu na cerca. E elas brotam de todos os tamanhos, assim, grandes feito eu e pequenas também. Pequenas de todo tipo, umas falam e outras nem falam ainda, dão mugidos, guincham, tentando falar...uma coisa. Isso me deixa muito irritado, fico querendo sumir. Porque eu não quero ouvir nada nem ninguém que não seja eu mesmo. O meu bom leit@r sabe, eu sou quieto, daí, que se não ficassem brotanto em baixo, atrás, na frente e em cima, aqui estaria no mais perfeito e delicioso silêncio.
Aí, como o Pedro foi visitar a família em São Paulo e eu fiquei de cuidar do Neno, vou pra lá.
E dos vizinhos dele vem música clássica!
Que ódio!
Ta tudo dominado!
Fui.
O Natal vai ficando pra trás com as comidas e, agora, vem 2012.
Um homem me ligou e disse:
- Posso falar com o Luís Capucho? – era do banco.
- Pode, sou eu – e, aí, bom leit@r, ele começou a falar de um sorteio e explicou como tudo acontecia e das vantagens e tal. Eu nunca me interesso por telefonemas do banco, acho que não compreendo muito bem e ele ainda estava explicando o sorteio, quer dizer, é um sorteio muito complicado e não soube o que dizer e nem precisava, ele ainda estava explicando, então, por fim, perguntou:
- O que o senhor faria se ganhasse 100 mil reais, Seu Luís? – e eu não tinha a menor idéia. Agora é hora do almoço e não faria nada com 100 mil reais, eu tenho comida pronta em casa e fiquei quieto.
- Seu Luís?... Seu Luís Capucho?... Seu Luís!?... Seu Luís... tu tu tu tu tu tu tu tu tu tu tu...rs.
Ainda comendo coisas que trouxe do Natal, no Sacramento!
Um arroz cheio de coisas dentro, um pedaço de pernil também com coisas dentro, fatias de peru, farofa com coisas dentro. A maionese acabou no primeiro dia.
Aí, fiz um feijão preto limpinho, só com dois dentes de alho dentro, pra misturar tudo, quer dizer...fui.
Valfredo me deu um livro de presente. É um livro muito original e muito gostoso de ler. Tem uma forma de escrever com que não se está acostumado. Não é gostoso pela falta de costume, mas porque seu jeito é bonito. Chama-se “Infância”. E o escritor J.M. Coetzee é da África do Sul. Eis, aí:
E Penha mandou um link em que se fala de meu livro Rato, veja bom leit@r: Aqui
Tem que limpar a casa todos os dias, como fazer comida e tomar banho e os remédios. Mas, aí, silencioso leit@r, criar essa rotina e não deixar de escrever, tocar violão, ler, quer dizer, ao mesmo tempo em que eu não deixe todas as outras coisas assimiladas pra trás, tipo, não deixe de me exercitar algumas vezes na semana, e consiga voltar a pintar os meus quadros e tal e tal, então, para isso eu precisava ser mais de um ou, ao menos, precisava não gostar de dormir como gosto.
Daí que preciso escolher o que seja minha prioridade.
Essa confusão não aparecia, por exemplo, aos quinze anos, quando o tempo estava inteiro na minha frente sem que eu pensasse nele. O tempo estreitou e encurtou sua garganta. Então, fica passando apertado, meio engasgado.
Se eu não penso nele, ele desengasga.
Que coisa!
Além disso, e isso é muito antigo, repetido, o pessoal de baixo está a se vangloriar dos seus pássaros engaiolados, como mães que se vangloriassem de seus pimpolhos, no parque aos domingos à tarde. Ou se vangloriassem de cachorros presos, gatos que não rodam os telhados do quarteirão etc, etc...
De minha parte detesto esses gritos de passarinhos, fixos, embaixo de minha janela.
Fui.
Estivemos no Saara para as compras de Natal.
Comprei bobagens para os amigos de perto e, na hora, decidi que compraria presentes para as crianças da vizinha de trás, de baixo, de janela e da frente.
Isso era uma coisa que mamãe gostava de fazer, então fiz.
Quando estávamos vindo embora, numa ruazinha que ía dar no Largo São Francisco, uns pivetes já de voz engrossada e cheios de pentelhos no saco, pediram nossa água, que bebíamos distraídos. A gente deu. Aí, olharam pra nossa cara cheios de ódio, nos chamaram de viados e, sem beber, jogaram nossa água fora.
Que ódio!
De tanto ferver na night, estava todo estropiado, o coitado, e Pedro quis dar esse trato nele pra ver se o bichano sossega o facho em casa. Chegou, trazido pela médica, quando anoitecia. Estava muito grogue e fiquei preocupado, porque me vieram todas as lembranças que tenho de hospital, o que o bom leit@r sabe, são sempre drama!
Ele não tava se aguentando, mas queria seguir Pedro, onde quer que Pedro fosse, não queria ficar deitado na caminha de travesseiro armada na sala para esperá-lo. Aí, ía corredor afora trocando as pernas, a bundinha cambava de um a outro lado.
Pedro falou:
- Ele tá uma Gisele Bundchen, Luís! – e estava.
E não conversava. Ele gosta muito de falar com Pedro, mas não respondia nada, tava estranho, não falava.
A médica disse que ele não comeria nada, por conta da anestesia. Mas, aí, comeu ração e tomou leite. Depois dormiu.
Na madrugada, quando acordou, quis sair de casa.
Esse é o Neno!
Bem descansado e fazendo comida para o almoço.
Paulo Azeviche vai cantar minha “Vida Nua”. Estou bastante feliz com isso.
Eu me lembro: estava numa casinha em Mury, do meu amigo Ciro. A casa tinha sido antigamente uma estação de trem e tinha nos fundos um córrego, que vinha descendo morro abaixo. Em Friburgo, as casas têm jardins muito belos e o Ciro tinha levado uns filmes pra gente assistir. Entre eles o “Vida Nua”, título em português para “The Naked Civil Servant”, uma autobiografia de Quentim Crisp, livro em que o filme tinha sido baseado. Aí, fui pro jardim e era mesmo um jardim, não era um quintal. Eu sempre levava o violão, quando saía com o Ciro pra Friburgo. E comecei a fazer. Foi assim...
Sinto a atendente do P.A. sempre de má vontade, quando vou perguntar se tem vaga para o almoço e, hoje, não foi diferente. Disse que não tinha vaga. Tive que ficar lá por muito tempo. Tava meio zoneado. Aí, resolvi me adiantar, quer dizer, silencioso leit@r, ao invés de ficar esperando, fui procurar por notícias do próximo atendimento.
E a menina disse pra eu entrar na sala para medir os sinais vitais. Tudo começou a fluir. A partir dali, não esperei mais pelo próximo passo, fui sendo mastigado pela máquina do ambulatório que nem um pedaço de músculo numa máquina de moer, em açougue.
A enfermeira disse:
- Tira a roupa – e eu fiquei de cueca, descalço no chão frio.
- Tem que tirar a camisa? – eu perguntei, porque o ar condicionado tava gelado.
- Tem.
Aí, ela mediu meus peitos, minha barriga, me pesou, viu a presssão, mediu a bunda, a altura, tudo. Quando saí, um trans miúdo e feioso ficou me olhando com interesse e um outro trans mais bonito, não me olhou.
Encontrei meu médico novo em frente ao prédio. Ele me disse que eu não ficasse preocupado, porque o sintoma que tenho é efeito do Efavirenz, um dos anti-retrovirais.
- Que bom doutor, fico mais tranquilo! Tava achando que era câncer!
Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Calorzão de chuva para cair.
Essa luz de anoitecer, antecedendo o temporal e aprisionada entre o chão e as nuvens cinzas, é muito linda. Os barulhos vêm de longe e chegam aqui agradáveis. Latidos de cachorro que respondem aos latidos que descem do morro, passarinhos gritando, cigarras cantando...tudo.
Então, esses barulhos que atravessam o vale que é meu bairro, quando avança a noite ficam mais legais, porque vão caindo bem de longe, no silêncio daqui, de minha casa.
Entretando, como bem sabe meu bom leit@r, hoje é sexta-feira ... ha ha.
Ontem, estava rindo com Pedro no telefone, porque me lembrei, que semanas antes de eu entrar em coma, em 1996, comecei a ouvir um pássaro de barulho esquisito, que atravessava às madrugadas, o céu da casa onde eu morava.
Na época, não me dei conta disso. Mas, depois de acordado, relembrei dos pássaros gritando como quem relembra de um aviso.E, tenho ouvido um pássaro gritando na madrugada cortando o vale.
Quer, dizer, bom leit@r, apesar de adorar os sons que caem de longe aqui, trouxe, hoje, para casa, protetores de ouvido. Não vou ouvir os pássaros agoureiros.
Liguei o rádio para dormir e abafar o bochicho do pessoal de trás.
Estava tocando um programa do Sérvio Túlio, na madrugada.
Como teve aquele dia em que reclamei, o pessoal de trás, falava baixinho. E suas vozes abafadas, vinham pra mim, e apareciam por trás da música como num surto de esquizofrenia. De repente, sumiam. E, outra vez, nas depressões das músicas, apareciam como um bolo de serpentes ondulando sob a crosta de som. Foi uma madrugada de horror.
Cruz credo!
A “Meu Irmão” foi feita de cabeça, generoso leit@r, como imagino que sejam as músicas do Claudinho e Bochecha, e como imagino seja o funk, quer dizer, músicas que aparecem sem auxílio de nenhum instrumento, vêm direto na cabeça, sem apoio. Desde que comecei a fazer música, os acordes que tiro do violão é que me sugerem as frases melódicas, que se sustentam nesses acordes, que vou fazendo um, depois o outro, e tal. Então, as músicas já nascem sustentadas nessa armação de notas. E poucas delas, das que fiz, têm apenas sustentação na minha imaginação, como é o caso de “Meu Irmão”, que depois de pronta é que fiz a cama de acordes para sustentá-la.
Os acordes do violão são, então, assim, uma espécie de alavanca, que jogam a melodia um pouco mais no alto e um pouco mais afastadas da gente, mais espirituais, voadoras, leves, finas e tal...então, quanto mais leve o som do instrumento que a gente usa pra dar essa alavancada na hora de construir a melodia, mais leve e fina, subimos com a música.
É isso aí, se liga...
Fiz meu café.
Estivemos passeando em Jurujuba, ontem, que a meu ver, é um dos lugares mais lindos de Nikity. Decidimos andar um pouco pela estrada margeando o mar da baía e em nossa direção veio vindo uma senhora acompanhada de seu cachorro preto e branco. Pedro quis brincar com o cachorro, mas ele, arredio, ía passando direto.
Então, a senhora obrigou o cachorro a parar e a cumprimentar Pedro.
Paramos na curva da estrada e enquanto o cachorro não deu a patinha pra cumprimentar Pedro, não nos separamos.
Nos debruçamos na balaustrada pra olhar a enseada cheia de barcos e ficamos lembrando de 2007, quando fizemos o vídeo do “Máquinas me respeitem”.
Pedro disse:
- Teve tudo a ver, né, Luís? – e concordei.
Havia, por um tempo, desistido de comprá-los, porque começaram a ficar mais vagabundos, então troquei de lugar de compra e continuaram vagabundos. Aí, resolvi perguntar à balconista se ela tinha alguma informação a respeito da mudança de qualidade dos incensos e ela foi escolher comigo outros, na prateleira.
Disse:
- Você tem que escolher! – e escolheu pra mim.
Escolheu vários que eram bons com certeza.
Começou com o Olho Grego.
É bom.
O Olho Grego é uma versão grega do Olho de Horus dos egípcios. Que tem versão no Olho Turco.
Ontem, fiz minha primeira sessão com as máquinas de levantar peso. Em todas as máquinas o orientador colocou 18 quilos e não fiquei doído. Mas me cansei e dormi cedo. À meia-noite o pessoal de trás chegou tilintando copos de cerveja, conversando fiado e gargalhando. Então, silenciosos leit@res, me acordaram. Fiquei muito chateado, na verdade, fiquei irado e, na escuridão, debruçado no muro de minha área, comecei a brigar com eles. Foi horrível...
Fui fazer uma avaliação para voltar a fazer os exercícios de halteres.
Depois de ter tirado minhas medidas e me pesar e ver meus batimentos, minha capacidade respiratória e tal, imprimiu esses dados e os leu pra mim como fosse a leitura de um oráculo. Os dados eram assim como uma posição de planetas num mapa astral e me interpretariam, quer dizer, eu estaria subjugado a eles, e, aí, quando abri a porta pra vir embora, disse:
- Agora, o próximo passo é levar sua avaliação lá em cima pra marcar sua série.
Fui.
Começo amanhã.
No filme que passava, a mulher, depois de chamar atenção para sua barriga, pariu uma pipa, com quem brincou por um tempo, como num sonho e, aí, Pedro chamou minha atenção para o entorno da tela, com as árvores na profundidade. Então, comecei a achar as árvores verdes, no escuro e sem idéias, mais bonitas que o chapado iluminadíssimo da história da mulher com a pipa na tela, mas Pedro elogiou a luz e voltei a assistir a história. Aí, fiquei triste, porque sou uma pipa que se soltou da mulher e tal. Isso é uma coisa que todo mundo sabe. Isso foi quando fomos comemorar o aniversário dele na casa da Marcinha. Ficamos todos loucos...
Me decidi pela “Balada do Café Triste” e li alguns contos ao acaso, fora da ordem de páginas. É um livro que foi presente do Valfredo e que o Tarcísio Buenas, quando esteve aqui, trouxe uma outra edição dele, que estava a ler.
Fora isso, a vizinha debaixo de minha Vizinha de Janela veio me perguntar se eu conhecia alguém que daria uma aula de inglês pro neto:
- Ele não pode ficar reprovado mais uma vez, Luís – disse, com uma expressão de quem pedisse dinheiro emprestado.
Imediatamente, bom leit@r, ordenei:
- Diga pra ele que traga a matéria aqui pra eu ver! – e vieram os dois com o livro. Então, começamos a estudar o inglês do livro. A vizinha olhava e, quando viu que começou a fluir, disse:
- Vou assistir novela – e desceu.
Estudamos um pouco e, aí, acabou a luz.
Ficamos de retomar hoje cedo, mas o menino não veio, quer dizer, não vou chamar.
Daqui a pouco vou pro Pedro assistir Moll Flanders. E curtir seu aniversário junto dele.
Fui.
Manhã fresca de sexta-feira.
Acordei um pouco mais cedo hoje, como gosto.
No youtube, uma entrevista de Silviano Santiago sobre um livro que escreveu chamado Heranças. No facebook vídeo do Bolsonaro sugerindo que a Presidente Dilma seja homossexual, por conta dos trâmites do Kit Gay.
Uma olhada pra “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo, outra pra “Balada do Café Triste”, da americana Carson McCullers. Mas sem decidir.
E a faxina? Eis a questão.
O meu bom leit@r sabe, de noite, quando tranquiliza o bairro, os barulhos nas casas atravessam mais de uma pra outra e uma das visitas do pessoal de trás, que veio beber cerveja para o jogo na tevê, tinha uma voz irritante, assim, uma voz pontiaguda, para caramba. E o Scoob e Bob que não são de quintal e que são mais educados, parecem estar acostumados às vozes diferentes na comunidade, mas os outros cachorros, os de mais detrás dos outros muros e paredes, ficaram tão irritados quanto eu e, silencioso leit@r, latiam para caramba. Já era tarde e o barulho todo junto, de vozes e latidos, ficou foda! Quer dizer, cachorro, tudo bem que não tenha noção...
Manhã escura de chuva, ideal para continuar a ler sob o abajur.
Coloquei feijão para cozinhar. Entre meus livros, não sei como, tinha um que nunca havia antes me interessado ler, de um tal Patrick de Rosbo com entrevistas a Marguerite Yourcenar.
Depois do Alexis, fiquei motivado e foi num jato também, muito gostoso, explicações sobre o Alexis, o Adriano, Zênon, tudo...
Foram entrevistas radiofônicas que a própria Marguerite transcreveu em livro, fazendo as modificações para a língua escrita.
A luz da manhã está diferente e já não mantenho mais a casa fechada. A imaginação e a lembrança também ficaram mais naturais, silencioso leit@r, mais expansivas, no calor. E isso é muito agradável.
Ontem, fiquei viajando nas casas romanas:
Adorei demais o show do Ney Matogrosso na praia. Gostei mais do que, quando o vi pela primeira vez, há pouco tempo, esse mesmo show, Beijo Bandido, no Vivo Rio. Na primeira vez que vi, não tinha reparado um monte de coisa muito legal, tipo, o modo em que ele armado inteiramente para cantar uma música, ao final, se desmontava inteiro, dava uma respirada aos gritos da platéia e, aí, silencioso leit@r, vestia ou entrava na próxima casca para a outra música. Essas saídas de uma música para a outra, que eu via, assim, como um desencaixar de uma coisa para se encaixar na outra, era um instante muito legal, porque, aí, eu comecei a pensar que ele já estava dando dicas de seu próximo trabalho, quer dizer, eu tou viajando que ele vai mesmo cantar o “Cinema Íris”, porque ele meio que ía fazendo um streap- tease e, como que já preparava o espírito do seu próximo show, se liga.
Numa dessas quedas, porque ele literalmente caía de uma música e subia noutra, a senhorinha à minha frente pra quem eu segurava o sombrinha, dizia:
- Tou louca pra que ele mostre a barriguinha dele! – e, aí, gritava – Tira! Tira! Tira!
Fui.
Estive, ontem, no centro do Rio e me chamaram a atenção os sul americanos camelôs, assim, entre hippies e maltrapilhos. E isso é uma novidade pra mim. Também reparei na quantidade de brasileiros esmolambados e sujos pelas ruas do centro da cidade, o que é uma coisa bem antiga. Vi os grupos de gringos que vieram olhar, com aquele jeito de quem ta passando batido, que os gringos têm. Mas o que mais me chamou a atenção foi um cara que veio vindo, de mochila nas costas e vestido curto, tipo tubinho. Ele tinha um lenço vermelho amarrado na cabeça e vi, quando com movimentos, assim, meio que de sucção, colheu bastante saliva da boca e tacou uma imensa cusparada na calçada, em direção ao Campo de Santana. Quer dizer, silencioso leit@r, eu sentia que todo mundo tava na vida de foda-se ligado e pronto. Mudando o assunto, hoje, pela manhã, assisti a essa entrevista que curti:
Estou naquela parte d'As Confissões de Moll Flanders em que, de Londres, num navio, essa “dama de qualidade’ vem com o marido para uma propriedade na Virgínia, onde está a mãe dele. Então, numa conversa de confiança com a sogra, esta lhe conta que tinha sido prisioneira em Newgate e deportada para a América com uma marca de ferro na mão. Segundo a sogra, aquela sua marca era comum entre os habitantes da Virgínia, criminosos deportados. E conversa vai, conversa vem, a “dama de qualidade” se dá conta de que a sogra é sua própria mãe e que ela havia se casado com seu próprio irmão, silencioso leit@r.
Então, decide armar uma situação qualquer que a faça voltar para Londres. E consegue voltar para Bath, sozinha...
Decidi que não chamaria mais Dorinha para me ajudar na faxina e, aí, a casa vai embolando, embolando a tal ponto que não consigo saber mais onde começar para desembolar a bichana. Daí, que escolho fazer as coisas que dão certo, tipo, continuar a leitura de Moll Flanders, fazer minha comida e lavar louça. Outro dia passei óleo de peroba no armário da sala e em meu violão. Também, tenho em mira, limpar as janelas de vidro da casa e passar pano no chão. Sei que essas coisas, para que funcionem, precisam ser feitas todos os dias, mas eu não vou ficar em função delas. Não sou esse iogue, silencioso leit@r. E não quero chamar Dorinha de volta. Então, vamos lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá....
Fui.
Comecei com”As confissões de Moll Flanders”, de Daniel Defoe que Valfredo me deu. Esse autor é o mesmo que escreveu Robinson Crusoé e, segundo consta na prefácio do livro, Daniel Defoe escreveu outros incríveis duzentos e cinquenta e quatro romances, bom leit@r.
Levei a Moll Flandres para ler na espera do consultório médico. Pelo que começo a entender, o destino de Moll Flanders será traçado unicamente por seu desejo adolescente de tornar-se uma “dama de qualidade”. O que Moll entende por “dama de qualidade”, ela diz ser uma mulher que não vá se dedicar à afazeres pesados, quer dizer, bom leit@r, uma madame.
Na volta, postei numa loja dos Correios um Cinema Orly vendido para Belém do Pará e vim embora.
Quando o ônibus entrou na Dr Sardinha, reparei como tem casa pintada de novo, para as festas de final de ano.
Tudo muito chique!
Fui dormir ouvindo o pessoal de trás.
Estavam a ouvir a última música, como que bebessem a última cerveja, daí, que teve várias últimas músicas. Foram várias últimas músicas ruins, quer dizer, que não gostei: Exalta Samba, O Fantasma da Ópera, não sei mais o quê.
Depois, o silêncio delicioso, leit@r.
Terminei O Dia do Gafanhoto, do escritor americano Nathanael West, um livro publicado em 1939. É a história da paixão de Tod, um desenhista de Holywood, por sua vizinha Faye, que deseja ser uma grande atriz de cinema. Faye não dá mole pra Tod e, aí, ele é tão fissurado nela, que pensa em estuprá-la, mas fica hesitando, por ser um bom rapaz. Então, ele fica em torno dela feito mosca a ponto de ficar amigo dos amantes dela e tudo. Vi, na web, uma sinopse do filme feito do livro. Nela, um blogueiro dizia que Faye era maluca. Não tive essa impressão, mas fiquei na dúvida, porque é comum que me conhecendo pouco, também digam que eu seja um cara louco, então, pode ser que tanto Faye quanto eu sejamos loucos. Me identifiquei com ela, embora não fizesse as coisas do mesmo jeito que fez. Acho mais certo que não sejamos loucos, afinal...
Ehhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Estou digitalizando o Diário da Piscina, textos que mantive entre os anos de 2000 e 2001, quando eu ainda não tinha internet e não tinha o Blog Azul. Tive outros diários antes do Diário da Piscina, mas sem disciplina e sem assiduidade. Foi por conta de ter que manter disciplina e assiduidade para os remédios do coquetel da Aids, que desenvolvi essas qualidades para tudo o mais em que me metesse fazer. É muito diferente fazer textos que irei manter aqui comigo, no meu caderno, e fazer textos que irei postar na internet, no Blog Azul.
Então, porque estou digitalizando o Diário?
Que coisa!
Quando chegamos no sopé da colina onde está o cemitério de Japuíba, ouvimos alguém cantando. Era um senhor negro, vestido de terno. Ele tinha uma voz forte e lá de baixo, ouvíamos perfeitamente, tanto o que ele dizia, como o seu violão, que tocava de pé, sob as árvores, perto do portão de entrada. Era incrível como sua voz ía pra todo canto recebendo os que chegavam e não me lembro dos versos, exatamente, mas alguém dizia, através dele, que a gente não chorasse, porque esse alguém voltaria e tal. Era uma música triste e fiquei com muita vontade de chorar. Quer dizer, bom leit@r, eu subi a colina chorando, mas não deixei que vissem. E Pedro também me disse, quando chegamos lá em cima, que chorou...