Eu escrevia cartas pra o Edil no
final dos anos 80 e começo dos anos 90. Também escrevia essas cartas pra o
Ciro, pra o Sacramento, para a Claudia. Comecei com as cartas, logo que me
alfabetizei, aos sete anos. Mamãe me ditava o que ela precisava dizer para o
José Maria e, depois, colocava no correio.
Suas cartas, que ela me ditava,
eram curtas, eu me lembro. E em primeiro lugar falavam de saudade. Diziam que
desde que ela o vira pela última vez, que... e, aí, eu escrevia como escutava,
em maiúscula: Deus que te vi pela última vez, que...
O Edil por três De Casa em Casa,
leu essas cartas que lhe mandei na juventude. Eu fiquei com um pouco de
vergonha, achando uma bobagem todo aquele meu assunto que eu criava nas cartas,
ocos, só pelo prazer de escrever e, então, perder um pouco de minha tristeza
jovem. Mas o Edil disse que eram cartas de poeta e leu de um modo muito
emocionado, bonito, porque ele é um poeta e leu poeticamente e chorou, porque
não há um outro modo de um poeta ler uma carta. Então, todos os amigos que
escutaram a leitura, acharam minhas cartas muito bonitas. Eu que não consigo
fazer ideia do que elas sejam, também, com eles, as achei bonitas, assim.
Estou dizendo isso, porque ele me
deixou todas as cartas que lhe escrevi e nesta semana, li algumas. Uma delas, a
que achei mais legal, falava de bolinhos que mamãe fazia e comíamos na cozinha,
fritos na hora. Esse era o único assunto da carta e eu dizia de meu desejo de
que comer aqueles bolinhos, fosse como aquela lembrança que eu tinha, de olhar para
as rolinhas ciscando a palha de arroz, quando eu não era nem mesmo um menino
ainda, era um bebê, e o sol era um sol branco, azul e dourado, inclinado sobre
elas, as rolinhas.
Só, que o desejo não se realizou,
não fosse a carta. As rolinhas estão até hoje pastando sob o sol branco, azul e
dourado. Os bolinhos só estão na carta.
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