sexta-feira, maio 11, 2018

Mamãe, desde sempre, teve umas caixinhas de sapato que funcionavam como cofres. Era onde ela guardava as coisas que lhe eram preciosas: santinhos, moedas antigas, cartas dos parentes, breves, velas santas, meus cabelos cortados da primeira vez, fotos em binóculos, tudo.
Com as muitas mudanças de casa de patroa em casa de patroa que ela fez, muito pouca coisa ficou de seus guardados ou muito pouca coisa mesmo ela teve em suas caixinhas-cofre. Por exemplo, não me lembro de ela ter tido alguma vez uma foto dela mesma antes de eu nascer. Também nenhuma de sua família. Nada, nenhuma lembrança ficou de seus pais. Mamãe não tinha nada. Só as coisas que ela me contou.
Mas tenho uma foto linda dela, que se tornou a capa do meu Mamãe me adora. E, acho que se parece comigo.Também tenho um Santo Antônio pequeníssimo, feito de chumbo. E nele mamãe amarrou uma oração, num pedaço de papel. À medida que vou ficando mais velho, mais parecido com mamãe, vou me tornando. A ponto de ter começado a pensar que morrerei do mesmo modo como ela morreu, o corpo foi estragando, estragando, primeiro estragou um lado inteiro e depois, quando o outro lado estragou por completo, ela ainda teve tempo de pedir minha mão e, imediatamente, se foi. As mãos agarradas na minha, como a de um afogado. Nos primeiros meses, após sua partida, eu chorava muito, por que eu achava que devia ter segurado ela aqui, eu devia ter tido força pra não ter deixado ela se afogar dentro da morte. E eu chorava e me sentia culpado por não ter conseguido. Quando eu vi, eu segurava na sua mão, mas ela já tava afogada.
Depois de amanhã, será o dia das mães. E eu tive a mais foda de todas!
Yhahahhhahhahahahha! <3 font="">



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