Mamãe, desde sempre, teve umas
caixinhas de sapato que funcionavam como cofres. Era onde ela guardava as
coisas que lhe eram preciosas: santinhos, moedas antigas, cartas dos parentes,
breves, velas santas, meus cabelos cortados da primeira vez, fotos em binóculos,
tudo.
Com as muitas mudanças de casa de
patroa em casa de patroa que ela fez, muito pouca coisa ficou de seus guardados
ou muito pouca coisa mesmo ela teve em suas caixinhas-cofre. Por exemplo, não
me lembro de ela ter tido alguma vez uma foto dela mesma antes de eu nascer.
Também nenhuma de sua família. Nada, nenhuma lembrança ficou de seus pais.
Mamãe não tinha nada. Só as coisas que ela me contou.
Mas tenho uma foto linda dela,
que se tornou a capa do meu Mamãe me adora. E, acho que se parece comigo.Também
tenho um Santo Antônio pequeníssimo, feito de chumbo. E nele mamãe amarrou uma
oração, num pedaço de papel. À medida que vou ficando mais velho, mais parecido
com mamãe, vou me tornando. A ponto de ter começado a pensar que morrerei do
mesmo modo como ela morreu, o corpo foi estragando, estragando, primeiro
estragou um lado inteiro e depois, quando o outro lado estragou por completo,
ela ainda teve tempo de pedir minha mão e, imediatamente, se foi. As mãos
agarradas na minha, como a de um afogado. Nos primeiros meses, após sua
partida, eu chorava muito, por que eu achava que devia ter segurado ela aqui,
eu devia ter tido força pra não ter deixado ela se afogar dentro da morte. E eu
chorava e me sentia culpado por não ter conseguido. Quando eu vi, eu segurava
na sua mão, mas ela já tava afogada.
Depois de amanhã, será o dia das
mães. E eu tive a mais foda de todas!
Yhahahhhahhahahahha! <3 font="">3>
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