quinta-feira, junho 07, 2018


A médica disse que não pode garantir que eu não vá perder a vista esquerda. Mas que eu conte com ela. Então, isso é cheio de melancolia, porque é como se eu tivesse vivendo as últimas vezes de meu olhar que vai acabando devagar, pra ser o pesadelo de uma visão monocular. Tem também o que sempre acontece de o médico errar, ela mesmo disse que “não poderia garantir, porque ela não era deus.”
Eu sempre fico prestando atenção nos movimentos de meu entorno, se há sincronia de meu fluxo interno, do meu sangue, do ritmo de minha respiração, das coisas que sinto e que me acontecem, com os movimentos do dia, por exemplo, se a chuva que cai no meu vale, também não é parte desse meu sentimento e se ela também não traz alivio pra mim, como quando choro.
E aconteceu de outra vez os cachorros de meu quarteirão começarem a uivar muito dolorosamente. Eu não quero ficar prestando atenção nessas sincronias, nessas relações, porque desde adolescente, desenvolvo esses traços paranóides, deixando que as coisas entrem mais em mim e me confundam e me tomem o lugar, ao invés de eu fazer e pensar livre.
Fora isso, estou diante da montanha de remédios. Preciso atravessá-la, subir e descer. Terei terminado todo o subir e descer, dia 18 de julho.
Chegou a hora dos uivos.
Começou.

Nenhum comentário: