A médica disse que não pode
garantir que eu não vá perder a vista esquerda. Mas que eu conte com ela. Então,
isso é cheio de melancolia, porque é como se eu tivesse vivendo as últimas
vezes de meu olhar que vai acabando devagar, pra ser o pesadelo de uma visão
monocular. Tem também o que sempre acontece de o médico errar, ela mesmo disse
que “não poderia garantir, porque ela não era deus.”
Eu sempre fico prestando atenção
nos movimentos de meu entorno, se há sincronia de meu fluxo interno, do meu
sangue, do ritmo de minha respiração, das coisas que sinto e que me acontecem,
com os movimentos do dia, por exemplo, se a chuva que cai no meu vale, também não
é parte desse meu sentimento e se ela também não traz alivio pra mim, como
quando choro.
E aconteceu de outra vez os
cachorros de meu quarteirão começarem a uivar muito dolorosamente. Eu não quero
ficar prestando atenção nessas sincronias, nessas relações, porque desde
adolescente, desenvolvo esses traços paranóides, deixando que as coisas entrem
mais em mim e me confundam e me tomem o lugar, ao invés de eu fazer e pensar
livre.
Fora isso, estou diante da
montanha de remédios. Preciso atravessá-la, subir e descer. Terei terminado
todo o subir e descer, dia 18 de julho.
Chegou a hora dos uivos.
Começou.
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