Comecei a anotar as datas nos
cabeçalhos de meu cadernos, em março de 1969, quando entrei para a escola
primária. Hoje, estou em 2018 e são 1º de junho. Faz 49 anos que anoto essas
datas, dia a dia, com interrupções entre alguns deles, mas a continuidade de
minhas anotações, são espaços maiores que o espaço de ausência delas.
Consegui agendar uma consulta no
oftalmologista para o dia 15, e não tenho ideia de que, se espero tantos dias
para medicar minha uveíte no olho esquerdo, eu vá comprometer, para sempre mais,
a diminuição dessa minha vista ou, sei lá, se ficarei cego dela.
Há muitas situações diante das
quais a gente fica se sentindo impotente. Ontem, eu estava com a ideia de que não
há realmente nada que a gente possa fazer. Estava com a ideia de que as coisas
são o que elas são e pronto. E estava com a ideia de que não há nada mais
revolucionário que deixar as coisas como elas estão. Que aí, elas vão se
enovelando no fluxo do movimento da vida, dos dias e das noites e, por elas
mesmas, vão se arranjando umas com as outras, sendo o que são e o que têm de
ser.
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