Então,
para mim, agora é soltar a cabeça puxada para a corcova no início do pescoço,
atrás. Se eu consigo isso, o peito estufa um pouco, os braços ficam mais
inteiros nos ombros, que também se soltam mais, e começo a respirar melhor.
Eu
sei que a serpente de minha coluna, por onde passam meus venenos e onde tenho o
meu centro, no umbigo, com ela me enlaçando por trás, deve contorcer-se e
vibrar e ter força, mas isso não deve prender minha cabeça. Minha cabeça deve
ser solta, livre.
Também,
essa serpente, caso se enrole e, caso, se desenrole, deve manter sua conexão
com o modo como tenho de me colocar de pé, no chão, e também com o modo como
tenho de caminhar e, aí, eu não sinta nenhuma dor ou cansaço, e consiga me locomover,
com minha cabeça equilibrada no alto, para onde e com que velocidade eu decida
ir.
Desse
jeito, conduzindo-se para a direção do nada infinito, o meu corpo deve se fazer
ausente, invisível, indolor e devo caminhar ou correr do ponto do ônibus à
piscina, como o revés de uma mula sem cabeça, como uma cabeça de Medusa, com
mil outras cabeças, muitas cabeças como cabelos cabeças, entrando, multiplicadamente,
e multiplicadamente e multiplicadamente para sempre para dentro dos cabelos
cabelos cabelos cabelos, como na canção Castelo,
que Kali C. musicou pra mim.
E
que o Rafael filmou.
Ou,
então, sem corpo nem cabeça.
Apenas
a serpente da coluna.
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